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    Investigação

    Síndica de condomínio é acusada de racismo em São Gonçalo

    Moradora diz que foi chamada de 'macaca'; há mais denúncias

    Publicado 06/08/2024 às 13:08 | Atualizado em 09/08/2024 às 15:19 | Autor: Tiago Souza
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    Condomínio Villagio dos Pássaros fica localizado no bairro Colubandê
    Condomínio Villagio dos Pássaros fica localizado no bairro Colubandê |  Foto: Lucas Alvarenga

    A síndica de um condomínio localizado no bairro Colubandê, em São Gonçalo, está sendo acusada de racismo contra uma moradora. Vizinhos também denunciam ataques que teriam sido cometidos pela mesma mulher. A Polícia Civil diz que apura os casos.

    O incidente contra a empregada doméstica, de 62 anos e que mora há 11 no local, teria ocorrido em maio deste ano. Indignada, a família da vítima denuncia que a idosa foi chamada de "macaca" pela síndica na presença de outros condôminos do Villagio dos Pássaros. Desde então, episódios de perseguição seriam constantes.

    "A minha mãe havia acabado de chegar do trabalho, passou pela portaria e deu boa tarde para o porteiro, a síndica e dois moradores que estavam na portaria. Ela seguiu para casa. Depois que ela passou pela portaria, a síndica falou: 'lá vai a macaca'. Os dois moradores que estavam na portaria disseram que ela não podia falar aquilo, e a síndica respondeu: 'ela não está ouvindo'. Fomos informados do ocorrido logo em seguida", contou Tatiana Vasconcelos, de 37 anos, filha da vítima.

    Tatiana revela o impacto emocional que o episódio desencadeou em sua mãe, que mora com o esposo e o filho no local. Ela também possui áudios em que a síndica profere ataques racistas contra a vítima.

    Aspas da citação
    Ela se sentiu diminuída demais. Uma fala dela que me quebrou totalmente foi quando ela disse: 'poxa, o que eu posso fazer, eu não posso mudar de cor'
    Tatiana Vasconcelos filha da vítima
    Aspas da citação

    Perseguições

    Além da ofensa racial, a família alega que após o incidente, a empregada doméstica passou a ser vigiada e ignorada por alguns funcionários, sob ordens da síndica.

    "Uma vez, minha mãe estava voltando da igreja e ficou tocando o interfone direto. O porteiro deixou ela bastante tempo esperando do lado de fora até abrir o portão", lamentou Tatiana.

    Na última sexta-feira (2), um novo episódio envolvendo a síndica gerou revolta entre os moradores. Um adolescente de 17 anos que reside com a família no condomínio perdeu seu cartão de transporte escolar.

    Segundo relatos, um funcionário encontrou o cartão e informou a síndica, que, alegando que o jovem "era traficante", ordenou que o objeto fosse entregue somente a ela. A síndica teria então jogado o cartão fora. 

    "Meu filho perdeu o cartão escolar e ficou um mês sem ir para a escola, eu não tinha condições de pagar a passagem dele. Infelizmente, ele perdeu matérias e ficou em recuperação. Soube que o cartão escolar foi encontrado e entregue à síndica, mas que ela jogou fora. Tenho um áudio no qual ela chama o meu filho de traficante. Meu filho é estudante e quer fazer prova para a polícia. Como ela fala um negócio desse? Meu filho não quer mais sair de casa porque ninguém mais do condomínio quer brincar com ele", desabafou Graciele da Conceição, de 44 anos, mãe do jovem.

    'Clima de opressão'

    Um ex-funcionário do condomínio, que preferiu não se identificar, confirmou o clima de opressão e abuso de poder no local.

    "Eu trabalhei lá há muito tempo e sempre tivemos que seguir as ordens impostas pela síndica, mesmo que elas fossem erradas. Como já estava cansado disso, acabei não seguindo a ordem e fui xingado e mandado embora. Um morador quis ver as imagens das câmeras do condomínio, e eu avisei a síndica. Ela falou que não iria descer. Eu acessei uma das câmeras e mostrei ao morador. Depois disso, a síndica desceu e começou a gritar comigo. Ela entrou na portaria, me xingou e me mandou embora", contou.

    Investigação

    Até o momento, seis moradores já registraram boletins de ocorrência contra a síndica. A Polícia Civil informou que os casos estão sob investigação da 72ª DP (Mútua). 

    O Ministério Público do Rio (MPRJ) já foi informado sobre as acusações. Procurado, o órgão ainda não se manifestou.

    Já os advogados Rodrigo Clem e Ruan Clem, que defendem a síndica, negaram todas as acusações feitas contra ela, por meio de nota.

    Eles alegam que a cliente está sendo "injustamente perseguida, apesar de seu bom trabalho à frente do condomínio".

    “Na realidade, ela está sendo alvo de calúnia e difamação por parte de alguns moradores. Ela tomará as medidas legais necessárias. A alegação de que houve um cartão de passagem do morador é completamente infundada, são mentiras sendo espalhadas sobre ela,” afirma o comunicado.

    Quando questionado, o advogado Rodrigo afirmou não ter informações sobre o possível desligamento do funcionário que supostamente teria mostrado as imagens ao morador.

    O Ministério Público do Rio de Janeiro informou que "A 3ª Promotoria de Investigação Penal Territorial de São Gonçalo informa que os fatos relatados pelo noticiante estão sendo investigados. A Promotoria ressalta que já determinou diligências internas para comprovar a veracidade das informações. Dependendo do resultado das análises, haverá desdobramento das apurações para que se obtenha o mínimo necessário para a deflagração de uma ação penal".

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