Vício em apostas: jovem abre o jogo sobre luta para recomeçar vida

A história de um jovem retrata a realidade devastadora do vício em apostas e o crescimento dos casos no Brasil. Otávio Augusto, de 30 anos, assim como outros milhares de brasileiros, entrou no mundo das apostas com a ilusão de ganhos rápidos e fáceis. No entanto, acabou desenvolvendo uma compulsão que o levou a ter problemas financeiros.

"Começou em 2021, estava desempregado e vivendo de freelance. Pensei que seria uma boa possibilidade para fazer uma grana extra e resolvi entrar”, conta Otávio.

O jovem, então, iniciou com a expectativa de que as apostas poderiam ser uma solução para o momento em que estava passando na vida. Porém, Otávio sofreu um duro golpe ao começar a ter os primeiros prejuízos financeiros.

Com o desespero de querer recuperar rápido o dinheiro que havia desperdiçado, comecei a perder a mão e a apostar valores muito mais altos. Tiro e queda: perdi muito dinheiro e havia entrado naquele ciclo vicioso, sem nem perceber

E foi com a ajuda do Instituto de Apoio ao Apostador (IAA), que Otávio encontrou o caminho para recomeçar a vida após os prejuízos emocionais e financeiros causados pela compulsão. O jovem destacou que a virada de chave em sua jornada foi reconhecer o problema e ser atendido pelas psicólogas do IAA.

“Eu pesquisei ajuda na Internet e achei o IAA. Era uma quarta-feira, justamente no dia da reunião (grupo de apoio online) e estar ali mudou uma chave na minha vida”, destacou o rapaz.

Isolamento, endividamento e transtornos emocionais entre os principais riscos

Otávio encontrou no acompanhamento das especialistas do IAA um espaço seguro para compartilhar suas experiências, medos e desenvolver estratégias para lidar com o vício em apostas. O apoio foi essencial para o jovem reconstruir sua autoestima e retomar o controle.

“Foi o IAA que me fez ter vontade de viver de novo minha vida... as apostas são uma página que será virada. Só tenho a agradecer por tudo”, ressalta Otávio.

Para o jovem, o diferencial do tratamento foi a maneira com que ele foi conduzido pelas psicólogas Sandra, Marina e Aline, do Instituto de Apoio ao Apostador. De acordo com Otávio, o processo é respeitoso e profissional, com dicas, reflexões e ensinamentos importantes, além de ser feito em um ambiente muito agradável.

“A sala coletiva é muito incrível. Acho que o principal atributo positivo dela é poder estar ao lado de pessoas que entendam, de verdade, o que estamos sentindo. Que tenham vivido histórias parecidas. O vício em apostas faz você sentir que está louco, perdido e sozinho, mas estando no grupo você entende que não é culpa sua”, conclui o jovem.

Dicas

Estar atento às práticas e ações que podem evoluir para um comportamento compulsivo é determinante para se prevenir do quadro de ludopatia, o vício em apostas. Aline Esteves, psicóloga do IAA, destaca que os principais riscos causados pela compulsão são isolamento, endividamento e transtornos emocionais.

“Pessoas com comportamento compulsivo tendem a esconder o problema e recorrer a empréstimos, cartões de crédito e até práticas ilegais para continuar apostando. Além disso, a frustração constante com as perdas, aliada à esperança de recuperar o que perdeu, gera um ciclo de sofrimento”, ressalta a psicóloga.

Para evitar que a prática de apostar se torne um problema, a especialista dá dicas importantes para manter os cuidados necessários e garantir que o jogo permaneça apenas como entretenimento seguro.

É possível evitar a compulsão por apostas estabelecendo limites de tempo e dinheiro, conhecendo seus gatilhos e substituindo o comportamento de risco por hábitos saudáveis [...] Envolver-se com esporte, música, arte ou projetos voluntários pode ajudar a preencher o vazio que muitas vezes leva à aposta compulsiva

Limites financeiros e de tempo

De acordo com a psicóloga, o primeiro passo para manter o equilíbrio ao apostador é estabelecer limites claros de tempo e também de dinheiro a serem gastos.

“Definir quanto tempo e dinheiro você pode dedicar ao jogo já é um passo de autocuidado [...] Se você ou alguém próximo sente necessidade de apostar quantias cada vez maiores, mente sobre o tempo gasto jogando ou sente irritação ao tentar parar, esses podem ser indicativos de compulsão”, destaca Aline.

Outra dica muito importante que Aline Esteves separou é para que o apostador fale sobre o problema que o cerca com profissionais especializados. Segundo ela, contar com apoio nesses momentos faz toda a diferença.

“Buscar ajuda profissional e participar de grupos como o IAA, é uma forma poderosa de quebrar o silêncio e fortalecer a rede de apoio.”

Instituto de Apoio ao Apostador

O Instituto de Apoio ao Apostador é uma Organização Sem Fins Lucrativos (ONG) de Niterói responsável pela prevenção e recuperação do vício em apostas. O acompanhamento especializado oferecido é gratuito, sigiloso e humanizado para apostadores compulsivos e familiares. No último ano, foram realizados mais de 15 mil atendimentos individuais, além das sessões semanais de grupos de apoio e consultoria financeira.