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    Justiça

    'Que lei é essa?', questiona madrasta de jovem morta pelo namorado

    Mais de 150 pessoas prestaram as últimas homenagens

    Publicado 17/11/2022 às 12:53 | Autor: Tiago Souza
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    Cartazes pedindo justiça podiam ser vistos no local
    Cartazes pedindo justiça podiam ser vistos no local |  Foto: Marcelo Tavares

    O sepultamento da técnica de enfermagem Rita de Kássia Nogueira Matias Santos, de 27 anos, que aconteceu na manhã desta quinta-feira (17) no Cemitério Municipal de Nilópolis, na Baixada Fluminense, foi marcado por dor e revolta.

    Mais de 150 pessoas prestaram as últimas homenagens a jovem, que foi encontrada já sem vida em uma casa abandonada, na noite de terça-feira (15).

    Extremamente abalado, o pai da jovem, Marco Nildo, não teve condições de falar sobre o caso. Ele precisou ser amparado por familiares e chegou a receber atendimento médico de uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

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    "Essa lei é podre, porque diz que ele não foi preso pelo fato de ter passado o flagrante. Essa lei continua abrindo portas para outros loucos fazerem a mesma coisa ou algo pior. Ela escapou cinco vezes da Covid-19 para agora acontecer isso. Ele [o suspeito] saiu pela porta da frente da delegacia. Será que a polícia vai encontrar ele agora? Que lei é essa?", questionou a madrasta Raquel da Silva Alves.

    Amigos e familiares usaram camisas brancas com a foto da jovem
    Amigos e familiares usaram camisas brancas com a foto da jovem |  Foto: Marcelo Tavares

    Amigos e familiares usaram camisas brancas com a foto da jovem em homenagem a ela. Rita trabalhava na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Nilópolis e na maternidade Leila Diniz, na Barra da Tijuca. 

    "Nós estamos à base de calmante. Os pais são os que mais estão sofrendo, a minha tia não consegue nem ver as reportagens. A gente não imagina que vai acontecer com a gente. Nunca imaginamos que a gente vai estar vestindo uma camisa de uma pessoa querida, com uma frase que ela gostava", disse a prima Jéssica Nogueira.

    A Secretaria de Saúde de Nilópolis lamentou o falecimento de Rita e diz que ela era uma funcionária exemplar e muito querida pelos colegas. A secretaria disse ainda que espera que a justiça dê a devida punição ao assassino confesso.

    Durante o velório, todos gritavam por Justiça e pediam para que as autoridades não deixassem o estudante de enfermagem Iago Lacê Falcão, namorado de Rita, que confessou o assassinato, solto.

    Segundo a família, o corpo tinha sinais de tortura, como estrangulamento.

    "Ele fez muita maldade com ela, fez ela sofrer. Eu peço um apelo às autoridades. O delegado de plantão que foi omisso, tinha indícios materiais suficientes para pedir a prisão preventiva daquele desgraçado, assassino, monstro, estuprador. Ele tem que ser preso e apodrecer, a Justiça tem que ser feita", contou aos prantos Igor Ferreira, ex-noivo de Rita.

    • 'Que lei é essa?', questiona madrasta de jovem morta pelo namorado
      | Foto: Marcelo Tavares
    • 'Que lei é essa?', questiona madrasta de jovem morta pelo namorado
      | Foto: Marcelo Tavares
    • 'Que lei é essa?', questiona madrasta de jovem morta pelo namorado
      | Foto: Marcelo Tavares
      

    Moradora de Araruama, na Região dos Lagos, a prima Jéssica Nogueira contou que foi uma das primeiras pessoas a chegar na casa onde o corpo estava. Segundo as investigações, o imóvel pertence aos familiares de Iago Lacê.

    "Eu fui lá na casa, mas a gente não podia entrar até a chegada da polícia, eu sentia uma sensação ruim. Minha prima era uma garota sem explicação, uma garota nova, que raramente a gente encontra hoje. Ela era guerreira, tinha um futuro pela frente, tinha um amor inexplicável pela profissão, a enfermagem pra ela era a vida. Eu desejo do fundo do meu coração, que ele sofra pelo menos o dobro do que ela sentiu", disse Jéssica.

    O que diz a polícia

    A Polícia Civil informou que o principal suspeito foi liberado porque não houve flagrante, já que havia passado o período de 24 horas do crime. O caso foi comunicado na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) pelo próprio autor, na noite de terça-feira (15).

    Durante a madrugada, diversas diligências foram realizadas a fim de apurar as circunstâncias do fato. Foram realizadas perícia no local onde o casal se encontrou e no veículo dele.

    Imagens de câmeras estão sendo analisadas e a unidade aguarda o laudo de necropsia. Outras diligências seguem, porém não podem ser detalhadas, no momento, para não prejudicarem o êxito da investigação.

    Violência

    Advogado criminalista, Bruno Candido falou ao ENFOCO sobre a liberdade do principal suspeito pela morte da jovem Rita. De acordo com o mestre em Sociologia e Direito e pesquisador sobre o tema Violência Racial, o fato de Iago ser um homem que confessou ter matado a mulher e não ter sido preso, 'exatamente por ser homem e ser branco', é uma coisa que choca as pessoas. 

    "No que a gente considera como um sistema criminal de garantias, que não cometa injustiças, a teoria vai dizer que nem a própria confissão, se for como uma prova isolada, teria o poder de permitir que o Estado removesse de alguém o direito de liberdade, a partir da prisão', pontua.

    Ele enfatiza, portanto, que a realidade social, em especial no Rio de Janeiro, "que teve um posicionamento inclusive expressivo, nas últimas eleições, com a perspectiva de endurecimento das penas, de rigidez dos castigos, de aumento do número de prisão como a forma de resolução social, é totalmente diferente do que a teoria vai dizer".

    Candido aponta racismo nesse processo. "Na verdade a gente prende, sem indício nenhum, ou com indícios de origens duvidosas, e faz isso contra um público que tem um perfil identitário específico: que é a população negra e pobre. O que não era o caso daquele acusado que pertence a um outro grupo social, um grupo que tem vantagem social. É importante entender que quando a gente fala do universo de aplicação de direitos quem é o personagem social vai dizer muito se aquele direito vai ser aplicado ou não", esclarece.

    O especialista continua. "O fato dele ser um homem que confessou ter matado a mulher e não ter sido preso, exatamente por ser homem e ser branco, é uma coisa que choca as pessoas. É importante que a sociedade saiba que o melhor caminho para esse lugar não é pedir mais penas e endurecimento, mas que na verdade a gente tenha um sistema que funcione de fato", finalizou.

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