Grave
Transplante com HIV: parentes de deputado são sócios de laboratório
Seis pacientes foram contaminados com o vírus
Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do deputado federal Doutor Luizinho (PP), e Walter Vieira, casado com a tia do parlamentar, são sócios do Laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme). O laboratório está sob investigação após ser apontado como responsável pela contaminação de seis pacientes transplantados com HIV, no Rio.
O PCS foi contratado pela Fundação Saúde, órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, enquanto Doutor Luizinho ainda ocupava o cargo de secretário da pasta, entre janeiro e setembro de 2023.
Mesmo após deixar o cargo, o deputado, líder do PP na Câmara dos Deputados, manteve sua influência na Secretaria, segundo fontes do governo. A contratação do laboratório, responsável por prestar serviços no programa de transplantes, está sob auditoria por determinação do Ministério da Saúde.
Entre 2022 e 2024, o laboratório recebeu quase R$ 20 milhões em pagamentos, conforme dados disponíveis no Portal da Transparência. A Fundação Saúde, que assinou os contratos com o laboratório, também está sendo alvo da auditoria.
O que diz o parlamentar
Em nota, Doutor Luizinho afirmou que "conhece o Laboratório Saleme há mais de 30 anos, dirigido pelo Dr. Montano e posteriormente por seu filho Dr. Valter Vieira (casado com a irmã da minha mãe, Ana Paula) e suas irmãs", e que "lamenta veementemente o ocorrido, desejando ao fim das investigações punição exemplar para os responsáveis por esses gravíssimos casos de contaminação".
O parlamentar também destacou que, durante sua gestão, manteve a equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e não participou da contratação do laboratório.
"Enquanto Secretário de Estado de Saúde, mantive a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e jamais participei da contratação deste ou de qualquer outro laboratório", afirmou em nota.
"É muito triste como um dos maiores defensores dos transplantes no país, cuja minha vida pública está marcada pela ampliação do número de transplantes no Estado, ver casos graves como esse. Espero punição aos responsáveis, independente de quem for", finalizou.
O Ministério da Saúde determinou a instalação de "auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (Denasus) em todo o sistema de transplante do Rio, e a apuração de eventuais irregularidades na contratação do referido laboratório, entre outras providências".
A reportagem do ENFOCO procurou a PCS laboratórios mas ainda não obteve retorno.
Entenda o caso
Seis pessoas testaram positivo para o vírus do HIV após realizarem cirurgias de transplantes de fígado, rins e coração no Estado do Rio. Dois doadores eram soropositivos mas os exames feitos na ocasião pelo laboratório responsável para identificar se os órgãos doados estavam contaminados, testaram negativo.
As informações foram obtidas em primeira mão pelos jornalistas Rodolfo Schneider e Agatha Meirelles, da rádio BandNews. Conforme a apuração, o primeiro caso foi notificado no dia 30 de setembro. É a primeira vez que isso acontece no Brasil. O erro teria acontecido no procedimento para a autorização e realização do transplante.
Perdeu documentos, objetos ou achou e deseja devolver? Clique aqui e participe do grupo do Enfoco no Facebook. Tá tudo lá!