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    Vestiário da discórdia

    Banheiros em frente ao Cristo do Bumba causam polêmica em Niterói

    População defende no local apenas memorial às vítimas das chuvas

    Publicado 07/06/2024 às 16:34 | Atualizado em 07/06/2024 às 18:07 | Autor: Rhyan de Meira
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    A tragédia do Morro do Bumba resultou na morte de 48 pessoas, em 2010
    A tragédia do Morro do Bumba resultou na morte de 48 pessoas, em 2010 |  Foto: Lucas Alvarenga

    “Só de lembrar passo mal. Foram dois dias de chuva e, durante a madrugada do primeiro dia, minha vizinha me acordou alertando que já tinha casas soterradas e, no segundo dia, a minha começou a desabar”, disse Monica Marques, de 60 anos, comovida, ao lembrar da tragédia do Morro do Bumba, que em 2010 resultou na morte de 48 pessoas. Mônica e  outros moradores questionam agora a ideia da prefeitura de Niterói de instalação de banheiros próximo ao memorial em homenagem às vítimas. 

    Seis anos após a tragédia, moradores, membros da Paróquia Nossa Senhora do Rosário e São Benedito e da Escola de Samba Acadêmicos do Cubango, com apoio financeiro de empresários, prestaram uma homenagem às vítimas com uma estátua de Cristo, instalada na praça que fica na entrada da comunidade. E, na última semana, a comunidade soube que a Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa) cogita construir banheiros para os usuários da quadra que fica na praça e justamente em frente ao monumento de memória e luto. 

    Mônica Marques
    Mônica Marques |  Foto: Lucas Alvarenga

    Segundo a comunidade, o “Memorial do Bumba”, como assim foi denomimado o local onde está a imagem do Cristo, foi criado para ser um ponto fixo de orações e também palco para missas campais, sob a responsabilidade da Arquidiocese de Niterói.

    “É uma falta de respeito querer construir na frente do Cristo. Foi muita tragédia, tudo muito triste. Foram tantas mortes e tudo ficou um caos. Tampar a homenagem é doloroso. Seria tão bom se todos aceitassem Cristo e tivessem esse amor pelo ser humano”, desabafou Maria Alice Pinheiro, aposentada, ao relembrar o drama.

    Maria Alice Pinheiro
    Maria Alice Pinheiro |  Foto: Lucas Alvarenga

    Maria Alice e Mônica Marques são moradoras do Conjunto Habitacional Viçoso Jardim, a cerca de 50 metros da praça, feito para abrigar as famílias que perderam suas casas e ficaram sem abrigo.

    “Eu fui na quadra uma vez e eu também não consigo ficar. Eu acho que deveria ser apenas um ambiente de homenagem às vítimas, não deveria nem ter uma praça ali”, disse Mônica.

    Conjuto Habitacional Viçoso Jardim.
    Conjuto Habitacional Viçoso Jardim. |  Foto: Lucas Alvarenga

    O caso

    O Morro do Bumba está localizado no bairro de Viçoso Jardim, na região norte de Niterói. Antes de se tornar uma favela, o morro foi utilizado como um depósito de lixo da cidade entre 1970 e 1986, por decisão da Prefeitura. Porém, anos depois de sua desativação, sem qualquer indicação da antiga ocupação, a área foi habitada por pessoas que desconheciam o que havia no subsolo.

    Após dias de intensas chuvas na cidade, ocorreu um grande deslizamento de terra que se estendeu por cerca de 600 metros, destruindo casas e toda a infraestrutura urbana instalada no Morro.

    Sergio Garcia, comerciante nascido e criado no Morro desde 1956, emocionado e com os olhos cheios de lágrimas, lembrou o drama que vizinhos e amigos passaram na tragédia de 2010.

    “Aqui era um aterro e eu vi que estava rachando. Eu alertei o máximo de pessoas que conhecia para não construir casas”, começou. O dono de uma loja de materiais de construção contou com detalhes a tragédia que hoje permanece apenas nas manchetes jornalísticas da época. “Primeiro, dias antes, uma rua do morro despencou. Logo após escutamos duas explosões e começou o terror. O cheiro de ‘chorume’ era horrível, o lixo desceu o morro todo e tem pessoas soterradas até hoje”, finalizou.

    Sergio Garcia
    Sergio Garcia |  Foto: Lucas Alvarenga

    O desastre foi um movimento de massa, especificamente um deslizamento de lixo, desencadeado pela combinação do despejo de entulhos de obras no topo do morro e uma chuva extremamente intensa.

    “Eu fiquei em choque, meus filhos começaram a me sacudir e fiquei desnorteada. Eu escutei dois estalos grandes e quando olhei para o alto do morro, vi o fogo carregando tudo”, relembra Mônica.

    A prefeitura de Niterói informou, em nota, que os banheiros a serem instalados na obra de reurbanização da praça não vão interferir na visão do memorial. 

    “A Empresa Municipal de Moradia, Urbanização e Saneamento (Emusa) informa que a intervenção citada trata-se de uma obra de reurbanização da praça, com investimento de R$ 457 mil e prazo de término previsto para outubro. O projeto foi discutido com representantes dos moradores locais, e os banheiros serão construídos num ponto onde não haverá qualquer interferência na visão do Memorial, que também será contemplado. A obra inclui, ainda, a implementação de novos vestiários, espaços de convivência, iluminação, reforma do calçamento e meios-fios, repintura da quadra, novos alambrados e melhorias nas instalações elétricas e iluminação pública”. 

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