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    Até um mês

    Grávida com bebê morto teme aguardar para retirar feto em Niterói

    Hospital diz que conduta é prevista no protocolo médico

    Publicado 10/10/2023 às 20:43 | Autor: Ezequiel Manhães e Lucas Luciano
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    Hospital Azevedo Lima orientou paciente a aguardar 'expulsão natural do embrião'
    Hospital Azevedo Lima orientou paciente a aguardar 'expulsão natural do embrião' |  Foto: Arquivo/Péricles Cutrim

    Não bastasse a perda do bebê, por meio de um aborto espontâneo, prestes a completar três meses de gestação, a paciente Alessandra Marinho de Souza, de 41 anos, quer entender o motivo de não conseguir realizar a curetagem no Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal) — procedimento indicado pelo médico obstetra que acompanhava seu pré-natal.

    Já são cinco dias de angústia e temor de que ocorra algum tipo de infecção, desde que houve a primeira negativa da unidade de saúde.

    Ela descobriu, na última quinta-feira (5), durante um ultrassom, que havia perdido o bebê. O feto estaria morto há duas semanas. Alessandra fazia o pré-natal na Policlínica Comunitária da Engenhoca - Regional Renato Silva, na Zona Norte de Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

    Segundo a mulher, a partir da constatação, o obstetra fez o encaminhamento para o Heal, para que fosse feita a curetagem, que consiste na retirada dos resíduos de um aborto incompleto, que inclui material fetal, placentário e endometrial.

    Isso é necessário quando há complicações que impedem que todo o conteúdo uterino seja expelido, condição que pode trazer riscos e causar infecção uterina.

    "Ela [médica] me perguntou três vezes se eu tinha certeza que eu não abortei. Eu falei que tinha certeza. E ela disse que se eu tinha certeza que eu não abortei, era pra eu ficar tranquila, que não iria me infeccionar, por ser aborto espontâneo, retido, que não teria problema nenhum na minha saúde. E que se eu tivesse tomado algo pra tirar, teria que falar porque iria me infeccionar. Ela me perguntou três vezes. Mas eu não tentei tirar, não tomei nada pra tirar", contou Alessandra.

    Lizandra Marinho de Souza, de 25 anos, filha de Alessandra, disse à reportagem que teme que aconteça o pior.

    "Ela descobriu que o bebê estava morto na quinta (5), aí o médico disse que o feto morreu com nove semanas. Minha mãe foi no Hospital Azevedo Lima na sexta (6), aí mandaram ela voltar pra casa, que não iriam fazer nada. Ela voltou nesta segunda (9), de novo, com encaminhamento e nada. Falaram que só pode internar se sangrar. E se ela ficar com infecção? Que absurdo é esse?", desabafou.

    O que diz o hospital?

    Procurada, a direção do Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal) informou que a paciente Alessandra Marinho de Souza foi atendida no setor de urgência obstétrica da unidade nos dias 6 e 9 de outubro, por ter sofrido um aborto natural com 8 semanas e 6 dias de gravidez.

    "Alessandra foi orientada a aguardar por 1 mês a evolução espontânea para expulsão natural do embrião. Esta é a conduta que vem sendo prescrita para este tipo de caso e é prevista no protocolo de boas práticas obstétricas do hospital, conforme o tempo de gestação e pelo fato da paciente não ter apresentado queixa de sangramento intenso e dor", diz a nota.

    De acordo com o texto, a paciente foi orientada a voltar ao hospital caso ocorra alguma intercorrência antes do prazo de 1 mês, ou se não houver a expulsão natural ao final do período determinado.

    "A opção pela não realização de procedimento invasivo (curetagem) para retirada do embrião visa preservar a saúde reprodutiva da mulher, sendo uma prática mais humanizada no atendimento desse tipo de caso", explica o hospital.

    O que dizem especialistas? 

    A ginecologista e obstreta, Fatima Oladejo, de 40 anos, confirma que a espera para a realização do procedimento é "a melhor forma" de garantir a segurança da paciente. 

    "A cirurgia em si envolve vários riscos, desde perfuração e anestesia até complicações. Muitas vezes, o corpo pode naturalmente expelir o produto do aborto, tornando o procedimento desnecessário. Portanto, essa é a abordagem mais segura", explica. 

    Fatima enfatiza, contudo, que  "é crucial que a paciente seja monitorada por profissionais de saúde e faça exames de acompanhamento no mês seguinte. Se surgirem sintomas de alerta, como febre, dores ou sangramento anormal, a paciente deve retornar à unidade de saúde. Tudo deve ser claramente explicado". 

    Ela ressalta ainda que, embora a espera seja a melhor opção em muitos casos, a paciente tem o direito de optar por não aguardar para realizar o procedimento.

    "A questão da curetagem vai além da parte física; envolve também aspectos emocionais e mentais. Algumas pacientes preferem o esvaziamento imediato e essa escolha deve ser respeitada. Nestes casos, o método por aspiração a vácuo, como o método Amiu, é mais seguro para o corpo da mulher", argumentou. 

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