Política
Caça like: vereador do Rio Gabriel Monteiro lucra fortuna com vídeos de conflitos
Conhecido por angariar fãs e críticos por onde passa, o vereador do Rio, Gabriel Monteiro (PSD), de 27 anos, tem acumulado atritos, confusões, muitos likes e fortuna. Um estudo divulgado pelo Social Blade, mídia especializada em rastreamento de estatísticas e análises de redes sociais, revela que o parlamentar conta com alto engajamento e um ganho estimado, nos últimos 30 dias, entre $15,2 mil e $243,6 mil, somente pela plataforma Youtube, ou seja, quase R$ 1,2 milhão por mês. Na média anual o valor estimado com a plataforma pode alcançar $2.9 milhões, que convertendo para o real, de acordo com a cotação do dólar até esta quinta-feira (8), mais R$ 15 milhões.
Nos últimos meses o parlamentar voltou a atrair a atenção do público, em virtude de fiscalizações em órgãos públicos e denúncias sobre um possível esquema de favorecimento de agentes da Polícia Militar com práticas ilegais de contravenção penal e até uma suposta ligação de coronéis da corporação com o crime organizado. Acumulando papéis de policial militar, youtuber e, desde janeiro, vereador, Gabriel já foi até acusado de deserção, chegando a ser anunciada a sua expulsão da PM e, desde então, está em rota de choque com a PMERJ. Uma colisão bastante rentável, já que os vídeos envolvendo conflitos resultam em milhares de likes.
O vereador entrou na Polícia Militar em dezembro de 2015 quando teve início mais uma turma do Curso de Soldados da corporação. Com menos de um ano na PM, o soldado já teve a sua primeira punição por desobedecer a ordem de um oficial ainda no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças, no Rio. Em pouco menos de quatro anos na corporação, Gabriel Monteiro passou por cinco Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) e dois batalhões, entre eles o de Niterói (12º BPM).
Um dos casos de maior repercussão envolvendo o então soldado aconteceu em outubro de 2018 quando, por volta de 5h, ele teria reagido a uma suposta tentativa de assalto e baleado um homem no bairro Camarão, em São Gonçalo. Segundo o vereador, o acusado teria tentado assaltar armado um simulacro de arma de fogo, que se revelou ser um grampeador.
Na época a versão do então PM foi confrontada por testemunhas, que afirmaram que a vítima se tratava de um motorista de aplicativo e teria freado de forma brusca, onde Gabriel estava, para entrar em um posto de gasolina em busca de uma passageira, que o aguardava. A forma com que o motorista entrou na via teria assustado o policial, que fez um disparo atingindo o motorista.
Uma testemunha do ocorrido ainda afirmou que o motorista conseguiu dirigir até um ponto utilizado por outros colegas de aplicativo e pediu socorro, sendo levado para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo, no Zé Garoto. O processo segue em tramitação na justiça e o baleado é quem responde pela ação, mas em liberdade.
A última movimentação da ação criminal aconteceu em março deste ano com um procedimento de praxe. Questionado a respeito do andamento do processo, o Tribunal de Justiça (TJ) afirmou que não há previsão para a sentença do processo penal.
Em nota o TJ informou que o caso está na 3ª Vara Criminal de São Gonçalo. A prisão em flagrante foi convertida em preventiva em outubro de 2018 e a denúncia foi recebida em novembro. A prisão preventiva foi revogada após audiência realizada em abril de 2019. Não há previsão para a sentença.
Já no batalhão de Niterói, um dos colegas de Gabriel, na época, que atualmente trabalha em uma das alas de elite da corporação, ressaltou o comportamento diferente da maioria dos praças 'batendo de frente' com os superiores e questionando o que considerava possíveis desvios de conduta dentro da Polícia Militar.
"É bem complexo definir o comportamento do Gabriel. Acredito que ele tenha dois tipos de comportamento, sendo um deles esse explosivo que quer fazer justiça e mostrar supostos comportamentos duvidosos dentro da polícia. Entretanto, quem o conhece fora dos vídeos sabe que ele não é assim e que talvez 'vista' uma máscara para conseguir admiradores e lucratividade com seus vídeos na internet"
o policial preferiu ter a identidade preservada
Derrotas
Entretanto, a carreira de policial militar sempre esteve entrelaçada com a publicação de vídeos no Youtube, onde atualmente Gabriel Monteiro possui 4 milhões de inscritos no canal, divididos entre admiradores e haters. Em um dos vídeos com maior engajamento, o então soldado aparece questionando o coronel da Polícia Militar Íbis Pereira sobre um possível envolvimento do PM com o crime organizado no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio, após uma suposta visita do coronel à localidade para uma palestra.
Das redes sociais para os tribunais, o caso foi parar na justiça e na última semana o vereador sofreu uma derrota. A juíza Renata Miranda de Mello Silveira, do 14º Juizado Especial Cível do Rio, condenou Gabriel Monteiro a pagar 40 salários mínimos ao coronel por promover 'acusações levianas'. Pouco após a decisão, o vereador publicou uma mensagem a respeito da decisão judicial.
"Entrei na PM do RJ escutando que tinham vários corruptos fardados. Prometi pra mim mesmo que não aceitaria, consegui derrubar comandos por causa de sacanagem, agora tem gente que acredita que coronel da PM entrou no coração da Maré (Nova Holanda) para palestrar pros meninos"
Outra confusão com o parlamentar, nas últimas semanas, envolveu o 19º BPM, em que o vereador acusa o comando da unidade de ligação com um esquema de contravenção penal existente em Copacabana, na Zona Sul do Rio.
Após três vídeos publicados mostrando a atuação do parlamentar, que inclui até resgate de reféns de um dos pontos do grupo criminoso, Gabriel sofreu outra derrota, na última segunda-feira (5). A juíza Luciana Santos Teixeira determinou a retirada de todos os vídeos em que ele cita uma possível ligação entre o batalhão de Copacabana e a contravenção penal.
Questionado a respeito das confusões, desde a época em que era soldado, o vereador garante que irá continuar produzindo vídeos que, segundo ele, mostrem a realidade 'nua e crua', independente do desejo das autoridades e órgãos públicos.
"O meu posicionamento frente a essas supostas confusões envolvendo o meu nome é de que ninguém tinha coragem de denunciar possíveis esquemas criminosos envolvendo órgãos públicos e eu venho fazendo isso de forma correta e com base em inúmeras denúncias que recebo. Infelizmente, é público e notório que existe corrupção, seja na PM ou em órgãos públicos, e quem sofre é a população de bem que paga os seus impostos e detém um serviço horrível prestado pela maioria"
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