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    Tráfico vira milícia e aterroriza moradores da Baixada

    Testemunhas acusam conivência da Polícia Militar com criminosos

    Publicado 03/03/2023 às 13:50 | Autor: Manuela Carvalho
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    Problema começou há cerca de 1 mês
    Problema começou há cerca de 1 mês |  Foto: Google Street View

    Moradores do bairro Pantanal, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, estão vivendo momentos de terror. Segundo relatos, uma facção do tráfico tomou conta do lugar e, além de ameaças, cobram taxas a comerciantes para manter o comércio local aberto. Além disso, acusações dão conta de que o comando do 15° BPM (Duque de Caxias) vem sendo conivente com a prática de milícia dos traficantes. 

    O lugar, que antes era considerado por moradores como tranquilo, há cerca de um mês vem trazendo medo e insegurança. Até mesmo barricadas foram instaladas nas ruas.

    "Já aconteceram mortes, ameaças à mão armada, milhões de assaltos na região. Já deram tiros contra meu carro, sorte que deu tempo de dar ré e voltar", contou uma testemunha.

    Barricadas foram instaladas nas ruas
    Barricadas foram instaladas nas ruas |  Foto: Arquivo Pessoal

    Os criminosos vêm adotando práticas semelhantes as da milícia, que cobram dinheiro aos lojistas para permitir o funcionamento dos estabelecimentos.

    "Passaram em todo comércio da região fazendo cobranças e monopolizando venda de água, gás e internet. Mesmo [os moradores] cobrando segurança, o que tem sido visto no local é a falta de policiamento", acusou outra.

    Procurada pelo ENFOCO, a Polícia Militar informou somente que, na manhã desta sexta-feira (3), equipes do 15º BPM realizaram uma operação para reprimir o crime organizado nas comunidades do Sapinho, do Cacareco, do Sossego, da Marquesa e do Pantanal.

    Ainda segundo a corporação, na ação, um homem foi preso na Rua Nove, no Pantanal, e foram apreendidos uma pistola calibre 9mm, um radiocomunicador e um cinto de guarnição. Também foram removidas diversas barricadas da região.

    Narcotráfico 

    As medidas adotadas pelas facções criminosas semelhante as da milícia não são novidade e já possuem até uma definição: narcotráfico. Segundo o antropólogo e capitão veterano do Bope Paulo Storani, a medida vem ganhando espaço nos últimos 10 anos.

    "Nós estamos vivendo esse fenômeno já nos últimos 10 anos. As quadrilhas especializadas no narcotráfico começaram a adotar atividades típicas de milícia. E qual seja: exploração econômica das comunidades dominadas por eles, ou quando não, uma ânsia expansionista, invadir em áreas dominadas por outras facções criminosas e também a mesma atividade", explicou o especialista.

    Aspas da citação
    Além do tráfico de drogas, eles promovem essa exploração econômica das comunidades que eles controlam. E esse controle é sempre feito com violência, oprimindo a população, oprimindo o comércio local, as atividades econômicas.
    Paulo Storani Antropólogo e Capitão Veterano do BOPE
    Aspas da citação
      

    Segundo Storani, é possível que, no futuro, a inversão de papéis venha cada vez mais acontecendo, e poderemos ver a própria milícia traficando também. Uma medida para trazer uma solução, na opinião do antropólogo, é aumentar a penalidade.

    "Que a lei tenha sentido pedagógico, no sentido de preparar a população, educar a população. É através de uma pena rigorosa que as pessoas evitam cometer o crime, porque se forem identificados e presos, eles vão receber uma pena rigorosa. Devemos ser muito duros com os crimes onde haja concorrência de violência. Principalmente armas usadas em guerras convencionais como fuzis de assalto, submetralhadoras, enfim. Se nós não tivermos um tratamento nesse sentido, dificilmente vamos conseguir reverter esse cenário", conclui. 

    Denúncias

    A equipe de reportagem também procurou o Ministério Público para saber se há alguma investigação criminal sobre o caso, mas eles informaram que esse tipo de caso corre sob sigilo e que, por isso, é impossível informar até mesmo sobre a eventual existência de algum procedimento em curso.

    O MP salienta que qualquer denúncia sobre as ações que ocorrem na região podem ser relatadas à Ouvidoria por meio do número de telefone 127 ou por meio do site, para o devido encaminhamento à Promotoria de Justiça Criminal com atribuição para apuração e processamento dos mesmos.

    A Polícia Civil também foi procurada, mas ainda não retornou para comentar o caso. 

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