Polícia
Por que Niterói é tão atrativa para os estelionatários?
Um levantamento feito pelo Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro (ISP-RJ) revela que, nos oito primeiros meses do ano, Niterói foi o segundo município com maior atuação de estelionatários em todo o Estado do Rio. Fatores como renda per capita e grande presença de idosos na população niteroiense são apontados por especialistas como os principais motivos para a marca de 2.033 crimes dessa magnitude registrados somente esse ano, quantitativo inferior apenas ao da Capital, que teve mais de 23 mil casos entre janeiro e agosto deste ano.
Prova do aumento da atuação de estelionatários na 'Cidade Sorriso' é que, em 2019, o município registrou 1.119 casos e, no ano seguinte, foram registrados 1.373 crimes dessa magnitude. Ou seja, entre 2019 e 2021, houve um aumento de 81% de crimes relacionados a estelionato em Niterói. Somente, em agosto deste ano, foram registrados 329 ocorrências desse tipo, um aumento de 19% em relação ao mesmo mês do ano passado quando houveram 276 registros.
Influência do crime
No âmbito municipal, a Região Central de Niterói é a área com maior influência de criminosos segundo os dados do ISP. De acordo com o levantamento, a Delegacia do Centro (76ª DP) registrou 682 crimes de estelionato em 2021, o que representa cerca de 30% da modalidade de crimes registrados na cidade.
Pirâmide financeira
De acordo com os Polícia Civil, o impacto causado pela pandemia, que deixou milhões de pessoas desempregadas, fez com que alguns tipos de estelionato voltassem à tona. Em Niterói, por exemplo, a maior incidência dessa atividade criminosa acontece devido ao famoso esquema de pirâmides financeiras que voltou com uma aparência renovada e passou a convencer vítimas com falsas ilusões de lucro alto através de práticas como investimento no mercado financeiro, criptomoedas, trading esportivo e etc.
Cartão clonado
Segundo a polícia, outro estelionato que aumentou foi o golpe do cartão clonado. Nessa modalidade o criminoso, que se passa por um funcionário de banco, liga para a vítima e alerta que o cartão foi clonado e que precisa ser bloqueado. A maioria das vítimas em Niterói são idosas, segundo a polícia. Os criminosos pedem que a vítima corte o cartão no meio sem que o chip seja prejudicado. Em seguida, o falso funcionário pede dados pessoais, incluindo a senha, alegando que essas informações serão necessárias para iniciar o processo de bloqueio das compras realizadas de forma irregular pela pessoa que clonou o cartão bancário.
Após a vítima fornecer os dados, o 'funcionário' alega que um motoboy irá até a residência da vítima para recolher o cartão com a alegação de que será feito uma perícia com o objetivo de evitar novas fraudes. Acontece que após recolher o cartão quebrado com a senha, os criminosos realizam saques, transferências, fazem compras, etc.
Vítima do golpe, a aposentada Rita Monteiro, de 74 anos, no inicio do ano recebeu uma ligação de uma pessoa se passando por gerente de banco. Ele fez todo o trâmite criminoso sem que a vítima percebesse. A moradora do bairro São Lourenço relatou ter sofrido um prejuízo de R$ 4 mil.
"Todo o procedimento é feito de forma muito planejada por eles. Tudo parece ser verdade e a pessoa que liga é super prestativa e te explica todo o procedimento. Entretanto, tudo não passa de uma estratégia criminosa e só vemos o prejuízo depois que eles buscam o cartão, infelizmente"
Empréstimo
O terceiro golpe mais praticado no município é o empréstimo consignado, em que funcionários públicos são vítimas de uma quadrilha que oferece rentabilizar saldos de empréstimos consignados através de investimentos no mercado financeiro.
"Uma empresa liga para funcionários públicos ofertando rentabilizar saldos de empréstimos consignados através de investimentos no mercado financeiro. Em muitas das vezes, esse servidor - com dificuldades financeiras - utiliza a margem consignável fazendo um empréstimo no banco e repassa para tal empresa fazer investimentos com promessas de rendimentos altos: 10% ou mais. A quadrilha paga algumas parcelas ao funcionário público e depois some com o dinheiro da vítima"
Luiz Henrique Marques, titular da 76ªDP
Segundo Mauro Rochlin, professor de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), não existe investimento com alto rendimento em curto espaço de tempo. Ele explica que é preciso ficar atento a propostas tentadoras realizadas por estelionatários no telefone.
"O estelionato é um crime silencioso e faz muitas vítimas em todo o país. Não podemos aceitar a falsa ideia de investimento com lucros absurdos em pouco tempo. Em muitos casos, eles entram em contato com muitas informações falsas e conseguem iludir as vítimas com propostas de investimento financeiro ou resolução de problemas financeiros. É importante que as vítimas desconfiem dessas ações criminosas. Qualquer dúvida, entre em contato com o seu gerente de banco e que, caso caiam nesses golpes, juntem os documentos como horário de ligação, telefone utilizado pela quadrilha, extratos bancários e vá ate uma delegacia para registro de ocorrência. Lembre-se: não existe milagre no mundo financeiro"
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