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    Pânico

    Piratas da Baía de Guanabara causam terror em Niterói

    Houve ameaça de morte e roubo de lancha avaliada em R$ 100 mil

    Publicado 07/06/2024 às 12:49 | Atualizado em 07/06/2024 às 19:40 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Os assaltantes armados abordaram a lancha Carioca 4 e sumiram com a embarcação
    Os assaltantes armados abordaram a lancha Carioca 4 e sumiram com a embarcação |  Foto: Yann Garcia / Colaboração

    Piratas armados ameaçaram de morte o marinheiro Jean da Silva Lima, de 51 anos, em plena Baía de Guanabara, altura de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, na madrugada da última quarta-feira (5).

    A lancha Carioca 4 — que ele conduzia, e avaliada em R$ 100 mil, nunca mais foi vista. A embarcação pertence ao estaleiro Renave, onde o funcionário presta serviço. O celular de Jean também foi roubado pela dupla de assaltantes. A Polícia Civil investiga o caso.

    Após o crime, Jean foi abandonado em uma ilha deserta a cerca de 25 quilômetros de onde estava, onde pegou chuva e frio. O resgate foi feito por pescadores, somente ao amanhecer, cerca de cinco horas após a abordagem criminosa.

    Terror

    O marinheiro foi surpreendido pelos piratas, enquanto fazia o trajeto entre Maruí e Ilha do Viana, altura do Barreto, em Niterói, por volta de 0h30 de quarta (5).

    Encapuzados, os assaltantes pararam a lancha, renderam a vítima e assumiram o controle da embarcação, que cabe até 28 passageiros. Depois, os piratas seguiram em direção a Refinaria Duque de Caxias (Reduc) da Petrobras.

    "Eles mandavam eu ajoelhar e soltavam muitos palavrões. Comecei a gitar, pedi socorro, pedia para que não me matassem, porque tenho família, filho. E eles diziam: 'ajoelha, ajoelha'. E assim eu fiquei: com o outro me escoltando com revólver", narrou Jean da Silva ao ENFOCO.

    Abandonado

    Nas proximidades da Ilha Redonda, entre a Ilha do Governador e Paquetá, Jean foi obrigado a descer em uma pequena ilha deserta, chamada de Braço Forte, em um píer em decomposição, onde passou tensas horas, sozinho.

    Aspas da citação
    Fiquei a noite toda dentro dessa ilha, com muito frio, chovia muito e eu ficava esperando o resgate, passou uma lancha pequena e eles não escutavam. Esperei o dia amanhecer, passou um barco de pesca de madeira, gritei, pedi socorro e veio em minha direção. Só pedia para ligar para a Renave
    Jean da Silva Lima vítima
    Aspas da citação

    Conhecimento da Baía

    A dupla de bandidos estava a bordo de uma lancha de alumínio, e usava touca ninja. Segundo a vítima, os piratas tinham amplo conhecimento da Baía de Guanabara.

    Durante a empreitada, os piratas pularam para dentro da embarcação da empresa Delima Comércio e Navegação, sediada no estaleiro Renave, em Niterói, e rebocaram a lancha que usavam.

    "Eles conhecem tudo. No escuro, ele [o bandido] conheceu o motor, conseguiu navegar da área que me abordou até o destino onde me deixou, dentro da ilha", relembrou a vítima.

    Investigação

    A investigação do caso está em andamento na 78ª DP (Fonseca). Segundo a Polícia Civil, os agentes realizam diligências para esclarecer todos os fatos e identificar a autoria do crime. A Polícia Federal também foi comunicada sobre o crime, conforme um representante da Renave. 

    O que diz a Marinha 

    A Marinha descartou, em nota, que o caso tenha sido pirataria, qualificando o crime como roubo armado. 

    "A Marinha do Brasil (MB), por intermédio do Comando do 1º Distrito Naval, informa que a Capitania dos Portos do Rio de Janeiro (CPRJ) tomou conhecimento, na manhã de quarta-feira (5), de roubo armado à embarcação "Carioca 4", de propriedade da empresa "Delima Comércio e Navegação", ocorrido na madrugada daquele dia na Baía de Guanabara.

    No momento do roubo, a embarcação “Carioca 4” realizava o trajeto entre Maruí e Ilha do Viana, nas proximidades da Ilha da Conceição, em Niterói, quando dois homens, um deles armado, a bordo de uma lancha, renderam o marinheiro e assumiram o controle da embarcação. O tripulante rendido foi liberado nas proximidades da Ilha Redonda, próximo a Paquetá, e os criminosos seguiram no rumo ao norte, entre a Ilha do Governador e Paquetá.

    Em contato com a empresa proprietária da embarcação, a MB foi informada que teria sido realizada a comunicação formal do fato, por meio de boletim de ocorrência, à autoridade policial competente.

    A MB destaca, ainda, que o crime praticado caracteriza-se como roubo armado, e não como pirataria. De acordo com a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (UNCLOS - 1982), a pirataria envolve atos ilícitos de violência, detenção ou depredação cometidos em alto mar, fora da jurisdição de qualquer Estado, por tripulantes ou passageiros de um navio privado contra outro navio. Já o roubo armado ocorre dentro das águas territoriais de um país, sendo tratado segundo as leis nacionais.

    Nesse sentido, cabe ressaltar que a CPRJ, como Agente da Autoridade Marítima, atua diariamente na Baía de Guanabara com duas equipes de inspeção naval, com foco na segurança da navegação, na salvaguarda da vida humana no mar e na prevenção à poluição ambiental oriunda de embarcações, plataformas e suas instalações de apoio".

    Acolhimento

    O marinheiro Jean é natural de Canavieiras (BA), e apesar de trabalhar no Rio de Janeiro há cinco anos, é recém-chegado à empresa Delima, que acolheu o funcionário e presta toda a  assistência.

    "Eles me deram todo o suporte, quando os pescadores me deixaram lá, me trouxeram ao posto médico, psicólogo. Quando tudo aconteceu, os meus colegam começaram a me ligar preocupados, porque eu sumi. Eu espero que isso não aconteça mais, porque é horrível, na sua cabeça vem muita coisa. Só pensava que iriam me matar e me jogar na água", contou Jean.

    O advogado da Empresa Brasileira de Reparos Navais (Renave), André Rebelo, enfatiza que os criminosos entendiam de navegação.

    "Não era um assaltante qualquer, é um marítimo, que sabia dessa rota. Foi uma coisa armada, e não de acaso. Até então, o barco não apareceu no mar. Já foi noticiado na comunidade marítima, entre pescadores, e nada. A embarcação é gêmea, tem uma outra chama Mocanguê", comentou.

    À reportagem, o advogado André Rebelo, que preside a Comissão do Mar, da OAB-16ª (Subseção Niterói) também se mostrou preocupado quanto ao tipo de crime.

    "Se fazem isso com uma Barcaça Industrial, como vai ser com civis, que alugam lanchas para passeios? Estou há 15 anos no Rio e é a primeira vez que eu vejo um caso de pirataria na Baía de Guanabara. Uma lancha nova dessa vale uns R$ 250 mil. ⁠Do jeito que estava deveria valer metade", lamentou.

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