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    Dura realidade

    'Mulheres Apaixonadas': 20 anos depois, a violência só cresceu

    Cena de crime com morte no Leblon chocou na época da novela

    Publicado 10/06/2023 às 7:28 | Atualizado em 11/06/2023 às 9:46 | Autor: Ana Carolina Moraes
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    Cena de morte da personagem Fernanda foi muito comentada em 2003
    Cena de morte da personagem Fernanda foi muito comentada em 2003 |  Foto: Acervo TV Globo/Divulgação
    Moradores da Zona Sul da cidade vivem rotina de medo e insegurança
    Moradores da Zona Sul da cidade vivem rotina de medo e insegurança |  Foto: Karina Cruz

    Vinte  anos depois do crime que parou o país, a morte de Fernanda (Vanessa Gerbelli) na novela ''Mulheres Apaixonadas", a realidade da violência continua crescente na Zona Sul do Rio. O ENFOCO fez um levantamento de dados e concluiu que os roubos de ruas cresceram mais de 50% em 2022 quando comparados aos dados de 2003, ano em que a novela foi exibida pela TV Globo. A atração está de volta ao ar no Vale a Pena Ver de Novo. 

    A morte de Fernanda ocorre durante uma perseguição policial no Leblon, na Zona Sul. Na trama, Fernanda é vítima de bala perdida, é socorrida, mas acaba morrendo. Ela está com Téo (Tony Ramos), em um carro, quando é baleada. Ambos tinham acabado de deixar Salete (Bruna Marquezine), filha de Fernanda, na escola e estavam a caminho de um hotel.

    Os dois percebem o engarrafamento e descobrem ser por causa da perseguição. Fernanda é baleada quando tenta fugir do tiroteio com Téo, que também é baleado, mas sobrevive. Quando Salete descobre que mãe morreu, se desespera. A cena é uma das mais emblemáticas da teledramaturgia brasileira. 

    Cena de morte da personagem Fernanda foi muito comentada em 2003
    Cena de morte da personagem Fernanda foi muito comentada em 2003 |  Foto: Acervo TV Globo/Divulgação

    Após a análise de dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) de quatro delegacias da Zona Sul carioca, foi possível perceber uma crescente nos números de roubos de rua, o crime que ocorreu e causou a morte da personagem. Em 2003, o número de roubos de rua registrados na 12ª DP (Copacabana) foi 366 e, em 2022, o total chegou a 803, ou seja, o aumento foi de 120%. Na 13ª DP (Ipanema), o aumento foi de 20%, saindo de 298 casos de roubo de rua em 2003 para 357 casos em 2022.  A variação dos roubos de rua entre 2003 e 2022 na 14ª DP (Leblon) foi de 10% (de 560 para 623) e de 65% (de 193 para 309 no mesmo intervalo de tempo na 15ª DP (Gávea). 

    Avaliação de especialistas

    Para o especialista em Segurança Pública Paulo Storani a melhoria nos índices de violência passa, entre outros aspectos importantes, por uma preparação melhor dos policiais. 

    "A situação é bem mais complexa do que simplesmente aumentar o policiamento ou simplesmente fazer com que a polícia pare de atuar nas comunidades. As duas situações não resolvem o problema. Na verdade, impedir que a polícia atue em operações sistemáticas nas comunidades dominadas por traficantes ou milicianos, o que sempre ocorreu no Rio, haverá o fortalecimento dessas forças criminosas. É óbvio que uma polícia mais preparada, mais bem equipada, vai conseguir cumprir sua missão, mas existe um problema sério no país, que é uma legislação que estimula que as pessoas continuem no delito, das pessoas continuarem em uma ação criminosa", argumentou Storani.

    Já o sociólogo Ignacio Cano diz que a violência cobra seu preço em especial nas comunidades tanto da Zona Sul quanto da Zona Norte e que a política de segurança do enfrentamento está falida. 

    "A segurança no Rio nos últimos 20 anos tem sido mais ou menos a mesma, especialmente na Zona Sul, com a diferença das UPPs, que foram justamente a tentativa de evitar os tiroteios no Centro, na Zona Sul, no Maracanã. Tem uma presença policial maior na Zona Sul que nas outras áreas da cidade e tem a política das favelas, seja na Zona Sul ou na Zona Norte, de invasões, tiroteios, que nunca cessaram à época das UPPs. Alguns índices caíram, os homicídios caíram, não podemos dizer que todos aumentaram. Mas certamente uma política de segurança que convive com tiroteios constantes, alguns pela própria intervenção da polícia, é uma política falida", esclarece. 

    Em 2023 já foram registrados, ao todo, 679 roubos de rua nas delegacias analisadas na Zona Sul do Rio. Um exemplo foi o caso de Alair Barbosa, de 72 anos, morta após ser assaltada no calçadão da Praia de Copacabana em abril. Ela estava andando com amigas quando dois homens puxaram o cordão dela e a empurraram. Ela bateu com a cabeça e, mesmo tendo sido socorrida, não resistiu. 

    Estatística trágica  

    O Instituto Fogo Cruzado atua mapeando tiroteios, mortos e vítimas de bala perdida no estado. Desde 2016, foram mapeados pelo instituto 1.591 tiroteios, destes 551 foram tiroteios em ações policiais, com 162 mortes e 279 feridos. As pessoas atingiram por balas perdidas somam 60, com seis delas tendo vindo a óbito. Vale lembrar que Fernanda morreu na novela com um tiro de bala perdida durante a perseguição. 

    Em março deste ano, uma bebê de um ano e oito meses, a pequena Maria Júlia da Silva Gomes foi baleada durante uma operação da PM na ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. Ela estava em casa, dormindo com os pais, quando foi atingida em uma das pernas. Na época, ela passou por cirurgia e se recuperou. Maria Júlia é uma bebê que sobreviveu à violência armada da Zona Sul do Rio. 

    "Minha filha, graças a Deus se recuperou bem. Ela ainda 'puxa' um pouco da perna quando anda, mas os médicos me garantiram que ela volta a andar 100%. Ela voltou à rotina e vai para creche. Minha filha é um milagre. A gente, no entanto, ainda sente insegurança, mesmo sendo Zona Sul. Nunca vi outros casos de bala perdida aqui na Ladeira dos Tabajaras, mas minha filha entrou para essa estatística no Rio. Podia ser pior!", afirmou o mototaxista e pai da criança, Júlio Cesár Pereira Gomes. 

    Felizmente, Maria Júlia se recuperou do tiro que atingiu uma das suas pernas
    Felizmente, Maria Júlia se recuperou do tiro que atingiu uma das suas pernas |  Foto: Reprodução

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