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    Confusão

    Mulher acusa racismo e é espancada em restaurante de Niterói

    Caso foi registrado em churrascaria da Zona Sul da cidade

    Publicado 12/02/2022 às 17:34 | Atualizado em 14/02/2022 às 7:50 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Estabelecimento confirmou o episódio, mas minimizou a situação.
    Estabelecimento confirmou o episódio, mas minimizou a situação. |  Foto: Marcelo Tavares

    Uma serventuária da Justiça, de 43 anos, foi agredida com tapas e socos dentro de uma tradicional churrascaria de São Francisco, na Zona Sul de Niterói. O crime ocorreu na noite da última quarta-feira (9). A vítima, que é negra, também alega ter sido chamada de "macaca piranha" por outra mulher.

    Ela afirma, ainda, ter sofrido diversos ferimentos em diferentes partes do corpo por um grupo formado por aproximadamente 20 pessoas — entre homens e mulheres que seriam de uma mesma família. O caso foi registrado na Delegacia de Polícia de Jurujuba (79ª) como lesão corporal e ameaça. 

    "Eu espero justiça e punição justa. Que o fato dos agressores serem pessoas ligadas à política não atrapalhe o andamento correto dos procedimentos. O trauma que a gente vive é doloroso demais, para a minha esposa foi psicológico e físico. Para mim, psicológico. Tudo isso aconteceu na frente do nosso filho de dois anos", lamenta o marido da vítima, engenheiro naval, de 39 anos, que prefere não se identificar.

    Segundo a denúncia, crianças brincavam no espaço kids da unidade durante as comemorações do aniversário de uma delas quando uma menina de 10 anos provocou o filho da vítima, de 2 anos, na brinquedoteca. A mulher agredida relata, então, ter pedido para a aniversariante parar. 

    "[a criança] Falava: 'sai daqui, seu chato' tentou virar a mesa para o meu filho cair.  Uma outra criança também empurrou meu filho que caiu de cara no chão", diz o marido.  

    O engenheiro continua dizendo que, após o episódio, a menina relatou à mãe que a esposa a agrediu. O texto do boletim de ocorrência relata que a mãe da garota, então, logo iniciou as agressões verbais.

    "Que história é essa de você falar com minha filha, sua macaca piranha?", teria dito a mulher, que tem mais de 11,4 mil seguidores nas redes sociais. 

    Logo após as ofensas, relatou o casal à Polícia Civil, foram desferidos socos e tapas entre as mulheres.

    "As crianças estavam incomodadas que o meu filho estava lá, como se o espaço fosse só delas. A menina pegou uma mesa de criança e tentou virar para o meu filho cair. Minha esposa segurou a mesa e pediu pra ela não fazer isso, porque ele só tinha dois anos. A menina saiu da brinquedoteca, não sei qual história contou para a mãe, que veio xingando a minha esposa. Chamou de 'piranha, macaca, preta, filha da p***'. A minha esposa não aguentou tantas ofensas e acabou dando um tapa nessa mulher. E foi aí que esse grupo todo se levantou e foi em direção à brinquedoteca. Só que ao invés de separarem, as pessoas começaram a agredir a minha esposa", explica o esposo da vítima.

    Laudo médico aponta diversas escoriações nos lábios, braço e joelho direito.

     

    Por conta das agressões, a vítima precisou ser atendida no hospital Niterói Dor. O laudo médico do hospital aponta diversas escoriações nos lábios, braço e joelho direito. Além de hematomas distribuídos no rosto, dorso, membros superiores e inferiores. A Polícia Civil tenta localizar os agressores. 

    O esposo da vítima também acusa os agressores de o ameaçarem de morte.

    "Tinham 20 pessoas ou mais na mesa e grande parte saiu correndo pra lá. Eu achei que fosse alguma criança se machucando. E como o meu filho estava lá, eu corri pra lá. Eu vi essa cena absurda, que toda hora me vem na cabeça. Eu não sei se alguém me ajudou, mas a única coisa que eu fiz foi tirar as pessoas de cima dela. Ela conseguiu se levantar. E, nisso, começaram a me ameaçar, dizendo: 'Você vai morrer, você está morto'. Sendo que eu não fiz nada, eu só separei. Eu não bati em ninguém", denuncia.

    De acordo com o casal, não havia seguranças no estabelecimento.

    "Não tinha segurança, ninguém nos acudiu, nos prenderam e isso facilitou que eles [agressores] saíssem. E, para terminar, ainda nos cobraram a conta. Se eu não tivesse chegado lá, minha esposa, hoje, talvez não estivesse mais aqui. Eram muitos homens e mulheres agredindo ela. O restaurante ainda fez a gente sair pela lateral para ninguém ver o rosto da minha esposa sangrando. Não deu nem tempo da minha esposa comer", diz o marido da vítima.

    Estabelecimento minimizou

    Ao Enfoco, a gerência do Mocellin minimizou a situação. Disse que aconteceu um 'pequeno' atrito entre as crianças no parquinho, onde os pais se exaltaram. E confirmou que a situação ocorreu no horário de jantar, com as partes se retirando do estabelecimento para buscar resolver o caso na delegacia. A casa não confirmou se forneceu as imagens das câmeras de segurança aos policiais.

    A reportagem questionou à Polícia Civil se os agressores já foram identificados, e a corporação respondeu que as imagens foram solicitadas para análise e que os envolvidos estão sendo ouvidos na distrital. 

    Segundo os denunciantes, os agressores seriam pessoas influentes na política. O engenheiro afirma ainda que tinha ido ao local com a família e amigos para comemorar o aniversário de 39 anos. 

    Aspas da citação
    Elas gritavam pelo restaurante que minha esposa agrediu uma criança. Fomos ameaçados de morte explicitamente.
    Marido da vítima
    Aspas da citação
     

    "Que isso não passe em branco. Estamos falando de injúria racial, calúnia, lesão corporal grave e ameaça. Temos testemunhas como funcionários do restaurante e amigos que estavam lá para comemorar meu aniversário. Elas gritavam pelo restaurante que minha esposa agrediu uma criança. Falavam que ela precisava de tratamento. Fomos ameaçados de morte explicitamente", relata.

    Câmeras

    Imagens das câmeras de monitoramento do espaço já foram solicitadas pelo casal à Polícia Civil, no horário entre 20h30 e 21h. Elas podem ajudar na identificação das pessoas envolvidas no fato. Além disso, a recreadora contratada pelo restaurante pode servir como testemunha principal.

    É que o marido da mulher agredida relata que a funcionária tentava explicar aos familiares da menina de 10 anos que a mulher acusada de agressão não cometeu o ato.

    "A recreadora falava a todo tempo que minha esposa não bateu em ninguém. Só as câmeras vão mostrar o que eu vi e até mais. A minha esposa está toda roxa, com o rosto machucado. Eu não bati em ninguém e mesmo assim falavam que eu não sairia vivo dali. O Mocellin foi bastante conivente, nos trancou dentro da brinquedoteca, não deixava a gente sair", enfatiza.

    O engenheiro também contou que quando foi confirmado que havia chamado a polícia os agressores foram embora.

    "Nenhum deles estava mais lá e fomos pra 79ª DP, onde nos orientaram procurar um hospital. Ela foi examinada. Voltamos para a delegacia, fizemos o registro e no dia seguinte estivemos no IML. Na sexta-feira ela estava com tantas dores que precisou voltar ao hospital e ser medicada, fez tomografia na cabeça", explica. O advogado da família prepara uma ação contra os agressores. 

    Outro lado 

    Procurada pela reportagem para relatar sua versão, a acusada pela mulher de a ter xingado negou a acusação de racismo, mas confirmou o incidente com as crianças na brinquedoteca e a briga no restaurante. 

    "Sempre optamos por sentar próximo à brinquedoteca por conta de ficar mais fácil para tomar conta das crianças. Jamais xinguei ela de macaca e piranha, porque eu tenho trauma de racismo e nunca sairia isso da minha boca. O que aconteceu foi que as crianças brincavam e uma amiga da minha filha veio dizendo que havia uma moça que estava brigando com elas e que a mulher disse que um das crianças deu um tapa na mão do filho dela, mas não é verdade, elas estavam brincando. Quando fui falar com ela, achando que ela pudesse se desculpar, fui lá pra entender o que estava acontecendo, mas falei de forma ríspida, porque envolvia criança, e logo tomei um tapa na cara. Tudo aconteceu de forma muito rápida e em seguida caímos no chão e ela puxou meu cabelo. Depois do ocorrido eu só queria pegar minhas coisas e ir embora. A própria menina que fica na brinquedoteca disse que não ouviu nada sobre racismo e eu nenhum momento a xinguei, essa era a única coisa que ela poderia falar a meu respeito, porque é uma desequilibrada", relata. 

    Segundo ela, que também foi orientada por advogados a comparecer em uma delegacia para registrar o fato e ir em um hospital por conta dos ferimentos da briga, diz que comunicou o caso na delegacia de Icaraí (77ª DP) e que aguarda as imagens das câmeras do estabelecimento para comprovar o caso. 

    "Tenho a ocorrência, machuquei meu dedo, fiquei com dores no pescoço. Minha filha está trancada em casa, só chora e não quer sair. Fui na delegacia da Criança e do Adolescente por conta dos danos causados a ela e marquei psicólogo e psiquiatra, porque foi um trauma ela ver a mãe dela naquela situação. Isso afetou de forma muito negativa a minha vida", explica. 

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