Dor sem fim
Morte de Kathlen Romeu completa um ano: 'Dias monstruosos', diz mãe
Modelo tinha 24 anos e estava grávida do primeiro filho
A morte da jovem Kathlen de Oliveira Romeu, de 24 anos, completa um ano nesta quarta-feira (8). Ela estava grávida quando foi atingida por um tiro de fuzil no peito disparado por um policial militar no Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio. Para a mãe dela, Jackeline Oliveira, todos os dias 'são horríveis', desde que a filha foi assassinada.
"A única informação que eu tenho é que a polícia já concluiu que foi um dos policiais, corroborando toda a informação que a minha mãe já passou desde o começo, os familiares, as testemunhas, de quem estava na rua. Do Ministério Público (MPRJ) eu não tenho nenhuma posição, exceto quando há manifestações", declarou Jackeline em entrevista à TV Globo.
Kathlen Romeu tinha 24 anos e estava grávida do primeiro filho
Uma programação em memória de Kathlen está prevista para ocorrer desta quarta até sábado (11). O primeiro encontro envolvendo familiares, amigos e instituições de estado acontece às 15h de hoje na sede da Defensoria Pública do Rio. A mesa com juristas e intelectuais vai discutir o tema: 'O que falta para fazer justiça no caso Kathlen'.
Às 19h da noite haverá missa de 1 ano sem Kathlen Romeu na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, no Méier. Já na sexta (10) está prevista uma sessão solene na Câmara Municipal do Rio. E no sábado, haverá um ato político e cultural no Engenho Novo.
Desde o assassinato de Kathlen, só houve uma audiência do caso. Foi no último dia 16 de maio. O juiz Bruno Arthur Mazza Vaccari Machado Manfrenatti, da Auditoria da Justiça Militar do Rio, marcou a segunda para o dia 27 de junho.
Cinco policiais militares são réus do processo, acusados de fraude processual, segundo informou a Justiça. São eles: Jeanderson Correia Sodré, Rodrigo Correia de Frias, Cláudio da Silva Scanfela, Marcos Felipe da Silva Salviano e Rafael Chaves de Oliveira.
Jackeline, mãe da vítima, disse que ficou 'descrente do bem', desde a morte brutal da filha.
[...] Todos os meus dias são horríveis, são horrorosos, monstruosos [...] Eu não tenho o que Estado deveria me dar, que é a justiça. Porque o Estado foi covarde. O Estado matou a minha filha
Processo
O Tribunal de Justiça do Rio informou à imprensa que na primeira audiência do caso, foram ouvidas nove testemunhas de acusação. A avó de Kathlen, Sayonara de Fátima Queiroz de Oliveira, que estava com a jovem no momento do crime, foi a primeira a prestar depoimento.
Ela contou que estava passando com a neta na Rua Araújo, no Complexo do Lins. Disse que o local estava calmo, inclusive com crianças brincando na rua, quando ouviram barulhos de tiros.
Sayonara de Fátima, avó de Kathlen, estava com ela no dia do crime
Nesse momento, segundo o depoimento, Kathlen caiu no chão, atingida por um tiro. A avó aponta que houve abuso de poder por parte de um policial, que não queria deixa-la acompanhar a neta, levada pelo camburão ao hospital.
MP
Em abril deste ano, por meio de nota, o promotor Alexandre Murilo Graça, titular da 4ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Especializada do Núcleo Rio de Janeiro, afirmou compreender o sentimento de dor de uma família que perdeu sua filha durante operação policial.
Reafirmou o compromisso em elucidar o caso e esclareceu que, para que a denúncia contra os policiais que efetuaram os disparos seja oferecida, é preciso concluir a colheita de todas as provas.
Neste sentido, pontuou o promotor, "a apresentação de uma inicial acusatória mal instruída, isto é, não completa, traz prejuízos não só para as partes, mas também para toda a sociedade, em sua busca por Justiça", disse na ocasião. As informações foram divulgadas pelo Ministério Público do Rio.
Denúncia
Em dezembro de 2021, o MP denunciou o capitão da PM Jeanderson Corrêa Sodré, o 3° sargento Rafael Chaves de Oliveira e os cabos da PM Rodrigo Correia de Frias, Cláudio da Silva Scanfela e Marcos da Silva Salviano, por modificarem a cena no local onde a jovem Kathlen de Oliveira Romeu foi morta, no dia 8 de junho, no Complexo do Lins.
Segundo a denúncia, os policiais militares Chaves, Frias, Scanfela e Salviano retiraram, antes da chegada da perícia, o material que lá se encontrava, acrescentando 12 cartuchos calibre 9mm deflagrados e um carregador de fuzil 556, com 10 munições intactas, que foram apresentados mais tarde na 26ª Delegacia de Polícia, no bairro de Todos os Santos.
Ainda de acordo com o documento, Jeanderson Corrêa Sodré, estando no local dos fatos e podendo agir como superior hierárquico para garantir sua correta preservação, omitiu-se quando tinha por lei o dever de vigilância sobre as ações de seus comandados.
"Ato contínuo, enquanto deveriam preservar o local de Homicídio, aguardando a chegada da equipe de peritos da Polícia Civil (PCERJ), os denunciados Frias, Salviano, Scanfela e Chaves o alteraram fraudulentamente, realizando as condutas acima descritas, com a intenção de criar vestígios de suposto confronto com criminosos”, diz trecho da denúncia.
Conforme o MP, diante dos fatos, os policiais militares Cláudio da Silva Scanfela, Marcos da Silva Salviano, Rafael Chaves de Oliveira e Rodrigo Correia de Frias foram denunciados por duas fraudes processuais e por dois crimes de falso testemunho. Os quatros tiveram a prisão preventiva pedida pelo MP. Já o policial militar Jeanderson Corrêa Sodré foi denunciado por fraude processual na forma omissiva.
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