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    Flagrante

    Médico induziu paciente a exame ginecológico para cometer abuso

    Radiologista foi transferido para presídio no Rio nesta quinta

    Publicado 02/03/2023 às 17:54 | Autor: Ana Carolina Moraes
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    O médico tenta esconder o rosto ao ser levado para o presídio
    O médico tenta esconder o rosto ao ser levado para o presídio |  Foto: Marcelo Tavares

    A Polícia Civil informou, nesta quinta-feira (2), que o radiologista Martinho Gomes de Souza Neto, preso acusado de abusar sexualmente de uma jovem de 26 anos, induziu a vítima a fazer um ultrassom ginecológico para cometer o crime. A jovem foi até uma clínica em Copacabana, Zona Sul do Rio, na tarde de quarta (1º), a princípio apenas para fazer uma mamografia. 

    “Ele falou que o exame sairia de graça para ela. Durante o exame, ele falou para ela que ela tinha um cisto e, para visualizar o ovário dela melhor, ela deveria se masturbar sexualmente. Ela passou a fazer isso enganada pelo médico. Aí ele disse que ela estava fazendo de forma errada e que ele faria para ela, passando a tocá-la na região genital sem luva. Foi quando ela notou que nem de longe aquilo se parecia com um exame médico”, contou o delegado André Leiras, da 12ª DP (Copacabana), onde o caso foi registrado. 

    Leia +: Radiologista é acusado de abusar de paciente durante exame no Rio

    O médico foi transferido nesta quinta para a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica, onde passará por uma audiência de custódia. Ele foi preso em flagrante pelo crime, que ocorreu por volta das 17h de quarta.  

    Ainda de acordo com a Polícia, a vítima buscou auxílio até das recepcionistas da clínica. No entanto, Martinho chegou a colocar uma cadeira para bloquear a porta e, assim, evitar que a vítima saísse da sala e segurou no braço dela.

    O delegado André Leiras informou que o crime não cabe fiança
    O delegado André Leiras informou que o crime não cabe fiança |  Foto: Marcelo Tavares
    Aspas da citação
    Ela, inclusive, escreveu uma mensagem falando que estava sendo vítima de abuso. O amigo dela, que estava com ela, soube e todos foram trazidos à delegacia. O médico tentou convencer a vítima ainda para que ela não trouxesse o caso para a polícia
    André Leiras delegado da 12ª DP (Copacabana)
    Aspas da citação
     

    A Polícia Militar foi acionada e fez com que todos fossem até a 12ª DP (Copacabana). A PM foi acionada por volta das 19h. Após o registro da ocorrência, os agentes da Polícia Civil conseguiram pesquisar sobre o médico e encontraram um inquérito de 2020 aberto contra ele por importunação sexual na Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio. 

    “Após ouvir as testemunhas e a vítima, ele foi preso em flagrante pelo crime de violação sexual mediante fraude e não cabe fiança. A pena é de 2 a 6 anos. Já representamos pela prisão preventiva dele”, ressaltou o delegado. Até o momento, a prisão do caso segue como sendo flagrante. 

    Cremerj informou que a situação de Martinho está ativa. O conselho, no entanto, disse que está apurando os fatos

      

    DICAS ÀS MULHERES

    O delegado sugeriu que outras mulheres busquem sempre fazer exames do tipo acompanhadas. “Esse profissional não representa a categoria médica, que são verdadeiros heróis. Um conselho para as mulheres, para que elas se sintam acolhidas, é que quando elas forem fazer algum exame de natureza ginecológica, solicitem a presença de alguma enfermeira ou de um acompanhante, isso traz segurança para ela e para o profissional também que fica isento de acusações levianas”, concluiu ele. 

    No site do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj), a situação de Martinho segue como ativa. A entidade disse que abriu sindicância para apurar os fatos. 

    RELATO DA VÍTIMA 

    A vítima, que preferiu se identificar apenas como Cris Silva, confirmou ao ENFOCO que foi induzida a fazer o ultrassom ginecológico. Ela contou que mora nos Estados Unidos, mas veio ao Brasil, onde nasceu, para fazer um check up geral e pagou um pacote de exames. Nesse dia, ela faria apenas o exame de mama quando ele sugeriu a transvaginal, que seria com outro médico em outro dia. 

    “Ele disse que seria melhor que aí eu faria tudo de uma vez e eu acabei aceitando. O início foi super correto e educado, quando fez a mamografia. Mas no final, no outro exame, ele mudou a conduta. Era a primeira vez que estava fazendo esse exame e fiquei na dúvida se o que eu sentia era realmente estava acontecendo ou se era coisa da minha cabeça. Entendi que era abuso quando ele se irritou comigo e, sem as luvas, começou a me tocar nas  minhas partes íntimas com as mãos e perguntou se eu estava gostando”, disse a influencer de 26 anos. 

    Nessa hora, ela percebeu que algo estava errado e tentou sair da maca. “Ele me segurou pelos braços, me impedindo de descer da maca. Ele queria que eu descesse pelo lado que ele estava para sentar no colo dele e entrei em uma luta corporal para me livrar dele e ele só me soltou quando uma enfermeira bateu na porta. Ele se assustou, me soltei dele, entrei no banheiro e coloquei minha roupa”, acrescentou a vítima. 

    Zangada, a enfermeira entrou na sala e perguntou o motivo do exame estar demorando tanto e ele disse que era porque máquina de impressão não estava funcionando. “A enfermeira disse que era só ele pedir ajuda, que ela o ajudava. E eu tentando fazer contato visual com ela para ela ver que algo estava errado, mas ela não olhava pro meu rosto. Quando ela saiu, ela deixou a porta aberta e eu corri”, contou a vítima, que logo pediu ajuda à enfermeira. 

    Ela foi levada para uma outra sala e questionada pelo pessoal da clínica o que eles poderiam fazer para que aquilo acabasse ali e não envolvesse a polícia. Nessa hora, ela disse que não queria dinheiro nem nada, só justiça.

    Segundo a vítima, responsáveis pela clínica tentaram evitar que a polícia fosse chamada
    Segundo a vítima, responsáveis pela clínica tentaram evitar que a polícia fosse chamada |  Foto: Reprodução

    “O que ele fez foi errado e ele poderia fazer com outras meninas. Eu fiquei aliviada quando, na delegacia, eu descobri que ele já tinha cometido esses crimes antes porque é difícil as pessoas acreditarem na gente. Então, eu estava ali na delegacia a todo momento me sentindo culpada e julgada. Foi quando me falaram que eu não era a primeira vítima dele, que ele já tinha vítimas no histórico pelo mesmo crime. Foi quando eu respirei aliviada porque iam ver que eu não estava mentindo. A primeira vítima dele também, que não foi ouvida, agora foi chamada. Por mais que você denuncie e nada ocorra, na frente outra vai e isso não passará impune, precisando ser unidas. E eu quero, inclusive, que quem passou por abuso com ele, vá na delegacia e denuncie para que ele vá para a prisão e não seja solto”, afirmou a jovem.

    O QUE DIZ A CLÍNICA

    A Clínica da Cidade disse, através da sua assessoria de imprensa, que considerou o caso isolado ocorrido no local e informou que ofereceu apoio à paciente. O estabelecimento não comentou, no entanto, a denúncia de ter tentado evitar o registro da ocorrência. 

    "Contamos com mais de mil médicos contratados, que prestam um serviço de qualidade para a população de todo o país, e esse é um fato isolado, envolvendo um profissional e que está em investigação perante as autoridades. Desde o momento em que veio à tona o fato, a Clínica da Cidade prestou todo amparo para a paciente. Além disso, a franqueadora e a franqueada estão à disposição das autoridades para colaborar com as investigações", disse a empresa na nota. 

    A clínica também ressaltou o seu trabalho e reputação em relação à contratação dos profissionais que atuam no estabelecimento. 

    "O processo de seleção de profissionais das unidades da Clínica da Cidade é realizado de forma rigorosa, com base em checagens prévias e periódicas nos conselhos de classe,, além da análise de diploma, título de especialização e documentos com foto. Mesmo entendendo que 'poderiam haver' acusações/processos jurídicos em andamento, a busca por antecedentes criminais no ato da contratação não é permitida pela lei trabalhista brasileira, apenas em casos específicos. A rede ainda reforça que os documentos do profissional em questão estavam em situação regular, tornando-o apto a exercer a prática da medicina em todo o estado do Rio de Janeiro, inclusive atendendo em demais serviços de saúde na cidade", finalizou a clínica na nota.

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