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    Ligações perigosas: tráfico e milícia unidos em comunidades de Niterói

    Publicado 11/02/2021 às 21:26 | Autor: Alan Emiliano
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    Moradores do Fonseca sofrem com a aliança entre os criminosos. Foto: Vítor Soares

    "Os 'caras' cortaram os cabos de uma empresa de telefonia, estão cobrando R$ 80 por cada botijão de gás, estão falando também que vão passar a cobrar uma espécie de aluguel para quem mora na região no valor de R$ 500 por residência. Além disso, os criminosos cobram R$ 50 por 'gatonet', serviço de TV por assinatura comum em comunidades. Tenho uma parente que está sem internet, sem telefone, tudo isso por essa parceria feita entre eles"

    Morador da localidade da Palmeira, no Fonseca, em Niterói.

    A identificação do morador da localidade Palmeira, no Fonseca, em Niterói, precisou ser preservada nesta reportagem. Isso porque a denúncia desperta atenção para o que seria uma união entre traficantes do Terceiro Comando Puro (TCP) e milicianos, que passaram a cobrar valores por serviços utilitários, como o conhecido 'gatonet' e o uso do gás de cozinha, além de terem cortado fios de uma empresa de telefonia, prejudicando a vida de moradores de todo o conjunto conhecido como Complexo do Santo Cristo, formado pelas comunidades Coronel Leôncio, Palmeira, Coréia, Pimba e Santo Cristo.

    "Tá todo mundo desconfiado, tá tudo muito estranho. Eles cortaram os fios e praticamente impuseram uma regra: 'quem quiser ter o serviço, que faça conosco'. O serviço de internet nessas comunidades é cobrado pelos próprios traficantes através de empresas piratas. O problema é que grande parte dos moradores tem medo de denunciar, o que acaba dificultando tudo", disse o morador.

    Segundo policiais civis da Delegacia do Fonseca (78ª DP), responsáveis pela investigação da área, um grupo formado por criminosos do Rio de Janeiro, chegou no conjunto de favelas e passou a movimentar do tráfico da região.

    Uma nova investigação da distrital teve inicio na manhã desta quinta-feira (11), após a prisão de um homem, conhecido como Coroa de Caxias, apontado pela polícia como responsável pela distribuição de “gatonet” e gás na comunidade da Palmeira. Ele foi preso por policiais militares do Batalhão de Niterói (12º BPM) na manhã desta quinta, na localidade conhecida como Palmeira.

    Os policiais da distrital pedem que os moradores que estejam sofrendo com esse tipo de cobrança imposta pelo tráfico denunciem na delegacia com o objetivo de ajudar na identificação e localização dos criminosos.

    Segundo a polícia, os bandidos do Rio chegaram na região e montaram uma espécie de 'cinturão' do Terceiro Comando Puro no Fonseca, considerado o reduto da facção em Niterói.

    Complexo de Santo Cristo, Coreia, Palmeira, Favela, Fonseca
    Criminosos teriam cortado cabos de telefonia das localidades controladas pelo TCP. Foto: Vítor Soares

    A localidade conhecida como Palmeira, segundo policiais civis, teria servido de abrigo para traficantes do TCP, expulsos do Morro do Estado, no Centro de Niterói, após a invasão da facção Comando Vermelho (CV), no ano passado. Os criminosos teriam buscado refúgio no principal reduto do TCP na cidade e única região em que a facção detém o controle do tráfico de drogas no município.

    Questionada a respeito de uma possível ligação entre a prisão do Coroa de Caxias e denúncias a cerca da cobrança do tráfico, a Polícia Militar se limitou a dizer que é responsável pelo policiamento ostensivo.

    Em nota, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro informa ser responsável pelo policiamento ostensivo, por prisões em flagrante e pelo cumprimento de mandados de prisão em aberto quando identificados. Se algum criminoso for identificado no momento da prática dos crimes narrados, será detido e conduzido à delegacia da área. Fora desse contexto, o monitoramento desse tipo de ação é realizado através de procedimento investigativo.

    Já a empresa de telefonia, a Oi, questionada a respeito das denúncias sobre o corte dos cabos, informou que "a empresa vem sendo constantemente vítima de furtos e vandalismo na sua infraestrutura de telecomunicações e equipes técnicas têm sido impedidas de acessar equipamentos e operar a rede, o que impacta na manutenção e disponibilidade dos serviços de telecomunicações, tão importantes para garantir a continuidade dos serviços prestados à sociedade".

    Ligações perigosas

    A hipótese de uma aliança entre o tráfico de drogas do Terceiro Comando Puro e milícia, no Fonseca, surge a partir do nome de Gerson Batista Júnior, o Gecinho, miliciano atuante nos bairros Engenho Pequeno e Zumbi, em São Gonçalo, e que estaria atuando de forma indireta em Niterói arrecadando o dinheiro exigido de moradores por intermédio do tráfico.

    Gecinho, como é conhecido entre os milicianos, foi um dos 24 denunciados pelo Ministério Público, por intermédio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), em 2017, após inquérito realizado pela Divisão de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo (DHNISG), que identificou três grupos de milicianos atuantes em São Gonçalo e Maricá.

    O milicianoexercia a função de destaque, sendo o principal auxiliar do conhecido Zado, líder da organização criminosa em São Gonçalo, nas decisões sobre as atividades do grupo criminoso.

    Na época, foi detectado que sua especialidade e principal função era administrar e receber as vantagens indevidas advindas da exploração do furto e distribuição de sinal de TV e Internet daquela região, cuidando tanto de questões técnicas, quanto da divisão do lucro proveniente da atividade
    ilícitas.

    A Polícia Civil investiga a participação da aliança entre criminosos e milicianos durante o arrombamento de uma farmácia, em junho do ano passado, no Fonseca, na Zona Norte de Niterói.

    Os bandidos arrombaram o estabelecimento e furtaram dinheiro do caixa eletrônico na Rua São Januário, na madrugada do dia 7 de junho do ano passado. De acordo com o Boletim de Ocorrência, os policiais encontraram uma bolsa com um macaco hidráulico e uma bateria de carro. As ferramentas teriam sido utilizadas na ação criminosa.

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