São Gonçalo
'Ele era meu tudo, meu pai, meu herói', diz filha de pescador morto
No enterro, família de vítima diz que vai lutar por justiça
O sepultamento do pescador aposentado Valteles Pereira de Oliveira, de 57 anos, foi realizado no início da tarde desta sexta-feira (1) no Cemitério São Miguel, em São Gonçalo. Em meio a comoção, o velório reuniu a família e amigos do homem.
Valteles foi morto na porta de casa após um confronto entre uma equipe do Batalhão de São Gonçalo (7° BPM) e criminosos no Complexo do Salgueiro, também em São Gonçalo, na noite de quarta-feira (30). O pescador foi baleado na barriga.
De acordo com familiares, os três estavam na porta de casa quando começou o tiroteio que vitimou o pescador. No entanto, familiares acusam despreparo da polícia e afirmaram não haver confronto no local próximo a residência. Inclusive alegam que a polícia retirou as cápsulas de tiro do local. Uma teria ficado agarrada na roupa da vítima, o que serviria de provas.
"Ele era inocente. Eles mataram meu pai e mataram os bandidos em um local bem distante de onde meu pai mora. Era impossível. Ainda queriam tirar a culpa deles querendo incriminar o meu pai. Eles forjaram a cena do crime. A morte do meu pai não vai sair impune. Eu quero justiça e vou lutar até onde eu tiver forças", conta Tatiana Oliveira, filha de Valteles.
A cuidadora de idosos, de 36 anos, contou emocionada ao ENFOCO como era a relação com o pai. Segundo Tatiana, Valteles gostava de acampar, pescar e de fazer churrasco.
"Ele gostava de acampar, pescar, de tomar a cerveja dele, de fazer churrasco. Ele era uma pessoa honesta e trabalhadora. Eu fiquei sem chão. Estou quebrada. Ele era meu tudo, meu pai, meu herói. Ele era minha vida. Eu trocaria de lugar com ele. Meu pai não merecia isso. O que eu sou hoje na vida eu agradeço a ele pela educação que ele me deu", disse.
Muito emocionada, um outra filha de Valteles, Tatiele Oliveira, teve que ser amparada por amigos e familiares. Durante o cortejo, os presentes no sepultamento gritaram por justiça para a morte do pescador.
A esposa, Rosane Rosa Maia de Oliveira, de 54 anos, e a sobrinha, de 17, também foram baleadas. Ambas foram levadas para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo. Elas ficaram internadas e passaram por cuidados médicos. A sobrinha, inclusive, já recebeu alta e esteve presente no sepultamento usando muletas. Já Rosane continua internada e com risco de perder os movimentos da mão.
Valteles deixa a esposa, três filhas, um filho e cinco netos. Ele não pôde ver o nascimento da sexta neta, que nasce no mês que vem.
A família, amigos e moradores do bairro chegaram a fazer um protesto na BR-101, ainda na noite de quarta-feira (30), por causa da morte do homem e da demora na retirada do corpo. Procurada sobre as acusações, a PM ainda não respondeu sobre o assunto.
O caso
Outros três homens morreram após entrarem em confronto com policiais militares do 7° BPM na noite desta quarta-feira (30), no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo.
Segundo a Polícia Militar, uma equipe estava em patrulhamento próximo à BR-101, na altura do Recanto das Acácias, quando um grupo realizou disparos contra os policiais, dando início a um confronto.
Ainda de acordo com a PM, três criminosos foram baleados. O trio foi levado para o Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), mas não resistiram. Junto com eles, foram apreendidas três pistolas, drogas e rádios comunicadores.
Posteriormente, policiais foram acionados para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo por causa de duas mulheres baleadas. Na ocasião, Rosane Oliveira, esposa de Valteles, foi baleada no braço e a sobrinha levou um tiro na perna.
A Delegacia de Neves (73ª DP) irá investigar o caso. As armas dos policiais militares, que participaram da ação, já foram apreendidas.
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