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    Mesa vazia

    Vilã da mesa, cenoura tem aumento de mais de 50%

    Quilo do tubérculo chega a ser encontrado por mais de R$ 12

    Publicado 15/03/2022 às 12:52 | Atualizado em 15/03/2022 às 13:59 | Autor: Ana Fernanda
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    Alta foi motivada por conta das chuvas excessivas no verão.
    Alta foi motivada por conta das chuvas excessivas no verão. |  Foto: Karina Cruz

    A alta no preço transformou a cenoura em uma vilã nas mesas dos brasileiros. Isso porque, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação registrou alta de 1,01% em fevereiro de 2022, sendo essa a maior variação para um mês de fevereiro desde 2015 (1,22%).

    Por conta disso, especialistas procurados pelo Enfoco explicam os motivos da alta nos preços e dão alternativas que podem diminuir o impacto no bolso dos consumidores. 

    Segundo o IBGE, em fevereiro, dentre os produtos que mais tiveram aumentos nos preços estão a batata inglesa (23,49%) e a cenoura (55,41%). No caso do tubérculo, as variações foram de 39,26% em São Paulo até 88,15% em Vitória. Além disso, as frutas subiram 3,55%, informa o instituto. 

    Nos supermercados de Niterói, por exemplo, ficou difícil fazer as contas pra colocar o alimento na mesa. Os valores das cenouras variam entre R$ 12 e R$14, enquanto as batatas custam entre R$ 6 e R$8. 

    Tubérculo custa quase R$ 14 em alguns supermercados de Niterói.
    Tubérculo custa quase R$ 14 em alguns supermercados de Niterói. |  Foto: Karina Cruz

    Na Zona Norte da cidade, um casal que fazia as compras para a semana relatou a dificuldade em encher a despensa mensalmente.

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    Tá tudo caro, tá cada dia pior.
    Karen Batista, vendedora
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    "Tem que levar de pouquinho em pouquinho, estamos tendo que substituir uma coisa ou outra, a cenoura por exemplo antigamente era 8 reais. Lá em casa somos 4 pessoas, e mercado pra quem tem criança fica ainda mais difícil", contou a vendedora Karine Batista.

    Outra consumidora, Daniela Dorestes, também comentou a alta nos preços.

    “Eu acho um absurdo os valores atuais no mercado. A condição do trabalhador que recebe salário mínimo está ficando cada vez pior, os valores dos legumes e frutas estão cada vez mais altos e o salário continua o mesmo. Antes com 100 reais eu conseguia comprar bastante coisa no mercado, hoje em dia da 3 sacolinhas fajutas. Tem mercado que tá dividindo o alface em 3 e vendendo no valor de um normal”, desabafou.

    Batata inglesa também ajudou a puxar alta dos alimentos, segundo o IBGE.
    Batata inglesa também ajudou a puxar alta dos alimentos, segundo o IBGE. |  Foto: Karina Cruz

    Em outro supermercado, na Zona Sul de Niterói, clientes comentaram o valor nas alturas do alimento.

    “Faço compras toda semana, tá tudo muito caro. Além dos legumes, as frutas também estão, a laranja, por exemplo, ficou muito mais cara. O azeite eu comprava a R$19 e agora tá R$ 27”, disse a aposentada Elizabeth Rodrigues. 

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    Cada semana é um susto diferente
    Rogério Abreu, militar
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    Outro consumidor também reclamou dos valores. “Pra ter uma qualidade de vida hoje está muito caro. Tudo aumenta", informou o militar Rogério Abreu. 

    Por que aumentou ?

    De acordo com o economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) André Braz, a alta dos preços de alimentos denominados como tubérculos, ou seja, alimentos que crescem debaixo na terra, tem a ver com as chuvas intensas do verão. Houve perda de 50% da colheita no Brasil devido à antecipação da colheita em razão das chuvas em excesso, ou seja, quando a oferta diminui, o preço aumenta.

    “Todo verão, nessa época que faz muito calor e chove de forma muito intensa, a produtividade desses tubérculos diminui, e é um efeito climático não propício ao cultivo desses alimentos. O solo fica muito encharcado, além disso há problemas logísticos que também atrapalham, as estradas ficam danificadas e às vezes não é possível levar a produção para os centros urbanos”, esclarece o economista. 

    Tem a ver com a Guerra ?

    De acordo com o especialista, a alta ainda não tem a ver com a Guerra entre Rússia e Ucrânia, deflagrada no leste europeu e que pode afetar o acesso a fertilizantes ao Brasil. 

    “Apesar do aumento do diesel também encarecer o frete, essa [a guerra] não foi a razão para esses preços terem chamado a atenção, porque eles subiram de preço em fevereiro e a alta alarmante no petróleo veio agora. Então, tem mais a ver com o efeito passageiro, típico do verão", pontua. 

    Na última sexta-feira (11), o preço médio de venda do Diesel da Petrobras para as distribuidoras passou de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro. Considerando a mistura obrigatória de 10% de biodiesel e 90% de diesel A para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passou de R$ 3,25, em média, para R$ 4,06 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,81 por litro.

    Vai diminuir?

    Prevendo uma queda e um refresco para o bolso, Braz diz que os preços desses alimentos devem diminuir a medida que o verão acabar.

    “Daqui a pouco, a medida que as altas temperaturas cessarem e as chuvas do verão pararem, a gente vai começar a ter uma oferta de alimentos mais regular. Temos meses próprios de cultivo para cada alimento” relatou. 

    A expectativa é que os preços desses alimentos se estabilizem entre junho e julho, no auge do Inverno.

    Alternativa 

    De acordo com a nutricionista clínica Luciane Barros, especialista em qualidade e segurança alimentar, os legumes são considerados fontes importantes para proporcionar energia, vitamina, minerais e fibra e, devido à alta nos preços, informou por quais alimentos eles podem ser substituídos. 

    “A batata e a cenoura são considerados carboidratos bons para nossa saúde, eles são alimentos que atualmente estão com a safra alta nos preços e por isso podemos substituir a batata por aipim, mandioca, batata doce e batata baroa, enquanto a cenoura, que possui muita vitamina A, pode ser substituída pela abóbora e abobrinha”, sinalizou. 

    Inflação 

    O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 10,54% nos últimos 12 meses. Em fevereiro, os principais impactos vieram da Educação (5,61%) e da Alimentação e Bebidas (1,28%).

    “Em fevereiro, são incorporados no IPCA os reajustes habitualmente praticados no início do ano letivo. Com isso, esse foi o grupo que teve o maior impacto no mês, contribuindo com 0,31 ponto percentual. O outro grupo que pesou bastante no mês foi o de Alimentação e bebidas, que acelerou para 1,28% e contribuiu com 0,27 ponto percentual. Juntos, os dois grupos representaram cerca de 57% do IPCA de fevereiro”, ressalta o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

    No grupo Educação (5,61%), o maior impacto (0,28 p.p.) veio dos cursos regulares (6,67%), com destaque para o ensino fundamental (8,06%), a pré-escola (7,67%) e o ensino médio (7,53%). Os preços dos cursos de ensino superior e de pós-graduação subiram 5,82% e 2,79%, respectivamente. Os cursos diversos, por sua vez, tiveram alta de 3,91%, sendo que a maior variação dentro do item veio dos cursos de idioma (7,29%).

    Já o grupo de Alimentação e Bebidas registra sucessivas altas desde o início da atual série, em janeiro de 2020, sendo a única exceção o mês de novembro de 2021, quando teve variação de -0,04%. Em 12 meses, esse segmento acumula alta de 9,12%.

    Por outro lado, foram registradas quedas nos preços do frango inteiro (-2,29%) e do frango em pedaços (-1,35%), que também tiveram recuos em janeiro, de -0,85% e -0,71%, respectivamente.

    Já nos últimos 12 meses, o que mais pesou na alta da inflação, de modo geral, foram os combustíveis, que acumulam avanço de 33,33%. Mas, em fevereiro, esse item do grupo Transportes (0,46%), teve queda de 0,92%.

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