Fim
Um império em ruínas: todas as igrejas de Flordelis estão fechadas
Sede do Ministério ficava em São Gonçalo
O império religioso da pastora e ex-deputada federal Flordelis, presa desde 13 de junho de 2021 após ser acusada de ser a mandante do crime sobre o pastor e ex-marido Anderson do Carmo, chegou ao fim. A última igreja "Cidade do Fogo", do Ministério Flordelis, localizada no Mutondo, em São Gonçalo, encerrou os trabalhos permanentemente, colocando um ponto final na história da pastora na região.
O templo ficava localizado à Rua Guilherme Santos Andrade. Após a prisão de Flordelis, o espaço, que era alugado, acumulou dívidas, o que impossibilitou a continuação do trabalho. Fiéis deixaram de comparecer aos cultos depois de a pastora, uma das responsáveis por congregar no lugar, ser presa.
Segundo Marlene Garcia, de 65 anos, que mora em frente ao espaço onde era a igreja, Flordelis só conversava com as pessoas ao redor do espaço quando havia interesse.
Ela não era popular com ninguém, só quem com era do interesse dela. Quando havia interesse, ela se aproximava da gente. Nós fomos pegos de surpresa com a prisão, mas eu nunca fui com a cara dela.
Para o morador Everaldo Silva, de 67 anos, o fechamento da igreja tirou a graça do local. O homem contou que bairro ficava agitado quando tinha culto e auxiliava as crianças da comunidade.
Para a gente, o que importava era que as crianças estavam dentro da igreja. Como morador, no meu ponto de vista, era melhor o pessoal estar aqui do que em drogas. Uma coisa eu sei: aqui ficou chato e ficou triste. Para o morador, estava ótimo. Quanto ao erro dela, só a justiça divina e a do homem. Quando a gente via, era bonito, mas a gente não sabia que por trás da beleza havia crime e maldade.
Depois da prisão da ex-deputada, a igreja chegou a ser administrada por Gerson da Conceição, também conhecido como Gerson Baiano, um dos filhos de consideração da pastora. No entanto, a questão financeira impossibilitou a continuação do império. Depois de sua saída, Gerson Baiano fundou a Comunidade Evangélica Manassés, localizada na rua Pedro Américo, no Colubandê, onde prega.
A equipe do ENFOCO esteve no local nesta quarta-feira (6), mas não conseguiu contato com o pastor.
A Assembleia de Deus Ministério Saracuruna chegou a pegar o ponto no Mutondo e vender o imobiliário da igreja, mas rapidamente também deixou o local. Atualmente, o antigo templo "Cidade do Fogo" funciona como uma fábrica de lajes. A reportagem esteve no local e conversou com um dos trabalhadores, que preferiu não se identificar. Ele negou qualquer envolvimento da fábrica com a família de Flordelis.
O ENFOCO tentou contato com a defesa de Flordelis sobre o assunto, mas até o fechamento desta reportagem não obteve retorno.
Igrejas fechadas
A sede do Mutondo é a sexta e última igreja a fechar depois da prisão de Flordelis e do assassinato do pastor Anderson do Carmo. O império da pastora ainda era composto por templos no Jardim Catarina, em São Gonçalo; em Pendotiba e Piratininga, em Niterói; em Itaboraí; e em Itaipuaçu, Maricá.
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Flordelis ainda possuía a ideia de construir uma sede no Laranjal, também em São Gonçalo, para cinco mil pessoas. Contudo, as obras não continuaram após a prisão. Em depoimento, a pastora informou que as igrejas que possuía davam um lucro de R$ 2 milhões por mês.
Rompimento
Além de Gerson Baiano, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, outro filho de consideração de Flordelis, liberado da prisão em julgamento em maio deste ano, também comandava uma das igrejas, a de Piratininga. O homem, que rompeu com a Flordelis, assumiu o cargo de pastor do Ministério Yeshua, fundado após a paralisação da “Cidade de Fogo”.
Outros filhos afetivos como Wagner Andrade Pimenta, o Misael, e Alexsander Felipe Matos Mendes, conhecido como Luan, também se desvincularam das igrejas do Ministério após a prisão de Flordelis.
Julgamento
O Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), através da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, adiou no dia 3 de junho, pela segunda vez, o julgamento da ex-deputada federal Flordelis.
A nova sessão será realizada em 12 de dezembro. Os depoimentos de Marzy Teixeira, filha afetiva, e Rayane dos Santos, neta da pastora, também foram adiados para o último mês do ano.
O júri estava marcado, inicialmente, para 9 de maio, e foi adiado para 6 de junho pela magistrada. A justificativa era de que alguns laudos do processo ainda estavam pendentes. Posterior a decisão, no final de maio, a defesa já havia pedido o adiamento, mas foi negado pelo desembargador Celso Ferreira Filho, relator do caso na 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça.
A defesa afirma que os motivos são os mesmos de antes. Entre eles a alegação de que no dia 3 de maio, a juíza do caso tinha falado com os jurados que devem atuar no processo sobre o julgamento da ré.
A nova sessão será realizada em 12 de dezembro.
Desse modo, os advogados alegam que, ao comentar sobre o caso em uma reunião, a magistrada teria comprometido a parcialidade dos jurados. Além disso, alegam que alguns laudos pedidos ainda não foram anexados porque não houve tempo suficiente para análise.
Condenação
Flávio dos Santos Rodrigues, acusado de ter efetuado os disparos contra a vítima, foi sentenciado a 33 anos, dois meses e 20 dias de prisão em regime inicialmente fechado. Ele foi condenado pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, porte ilegal de arma de fogo, uso de documento ideologicamente falso e associação criminosa armada.
Já Lucas Cezar dos Santos de Souza, acusado de ter sido o responsável por adquirir a arma do assassinato, foi condenado a sete anos e seis meses de prisão em regime inicialmente fechado, por homicídio triplamente qualificado.
Adriano dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis, foi condenado a quatro anos, seis meses e 20 dias de prisão em regime semiaberto por ser acusado de uso de documento falso e associação criminosa armada.
O ex-policial militar Marcos Siqueira da Costa foi condenado a cinco anos e 20 dias de prisão em regime inicialmente fechado por uso de documento falso e associação criminosa armada. Já Andrea Santos Maia, esposa do ex-PM, há quatro anos, três meses e dez dias de prisão em regime inicialmente semiaberto por uso de documento falso e associação criminosa armada.
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