Saúde
Trabalhadores do Programa Médico de Família fazem novo protesto em Niterói
Protestantes querem revisão do desligamento de 900 funcionários
"É muito injusto!", esse é o sentimento da idosa Marli de Souza, de 69 anos, paciente da Clínica do Programa Médico de Família (PMF) do Atalaia, em Niterói, sobre o fim do contrato de cerca de 900 funcionários do Município. De acordo com Marli, os médicos atendiam diferentes gerações de sua família como a mãe, que precisava de atendimento domiciliar, e o irmão, que possui uma doença mental. Com esse desligamento dos profissionais, ela tem medo de perder esse apoio.
"Eu vou perder o apoio que eles dão ao meu irmão, que é doente mental. Os médicos do programa fizeram ele socializar com as pessoas. Eu sou atendida bem por todos os serviços. Quem me atende agora é um médico de outro setor, que ficou sobrecarregado. É muito injusto", contou a idosa.
Trabalhadores do PMF de Niterói realizaram um novo protesto na tarde desta quarta-feira (23) em frente à Prefeitura, no Centro da cidade, contra o desligamento de funcionários do programa. No dia 31 deste mês, o contrato com o Município termina.
Frases como "Heróis da saúde ameaçados de ir para o olho da rua", "o caos está instaurado nas unidades de saúde" e "cuidamos da saúde da população, queremos respeito!" foram escritas em faixas e cartazes.
Segundo o enfermeiro Ronald de Jesus, que trabalha na unidade do Atalaia, a saída desses funcionários irá contribuir com a perda do vínculo com os pacientes de comunidades carentes de Niterói.
"Estamos reivindicando a permanência dos funcionários do Programa Médico de Família. Será uma descontinuidade do serviço. O PMF é um serviço de continuidade e isso é gerado por anos e anos de trabalho no local. Existe um vínculo com os usuários do programa. Estamos brigando pelos nossos empregos e pela continuidade do serviço que já havíamos fazendo com essa população que é carente. E é nesses locais que se encontra os módulos. A história não pode ser apagada", disse Ronald.
O funcionário ainda complementou que existe um sucateamento das unidades de saúde da cidade e que, às vezes, não há remédios nem curativos para a população. Durante o ato, membros da Guarda Municipal estiveram no local e prestaram apoio ao trânsito da região. Procurada sobre a manifestação, a Prefeitura ainda não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Semana passada
A manifestação de hoje é a terceira realizada em um intervalo de menos de uma semana. Na última quinta-feira (17), em frente à Câmara Municipal, um outro protesto tomou conta da Avenida Ernâni do Amaral Peixoto. No dia, a enfermeira Mariana de Mariano complementou os pedidos dos manifestantes. Segundo ela, a Fundação Municipal de Saúde (FMS) do município realizou um concurso público que oferecia 898 vagas aos profissionais de saúde em 2021. Contudo, a enfermeira explicou que as condições para se preparar para a prova foram inviáveis, já que os profissionais estavam na linha de frente contra o enfrentamento da pandemia da Covid-19 e não tinham tempo para se preparar adequadamente.
"Além da gente ter nossa carga de horário de trabalho, a gente tinha que trabalhar incessantemente em casa, lendo protocolos de saúde. Quadruplicou o nosso quadro de serviços no posto. Então, a gente não tinha condições de cuidar da nossa família, muito menos estudar para um concurso", relatou a profissional.
Na semana passada, a Secretaria Municipal de Saúde informou ao ENFOCO que reconhece o excelente trabalho destes profissionais no combate a pandemia de Covid-19. Eles esclareceram que o modelo de contratação da prefeitura segue um determinação do Ministério Público de 2019.
"No fim de 2021, o concurso foi realizado, com 898 profissionais aprovados. Em relação aos contratos temporários, de acordo com a cláusula terceira do Termo de Ajuste de Conduta, assinado com o MP, esses profissionais só poderiam permanecer até a finalização do concurso, o que ocorreu este mês de março, quando os profissionais aprovados começaram a ser contratados", explicou.
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