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    Tristeza

    Morador de SG, tricolor morto no Maracanã não ia ao estádio há 5 anos

    Família alega demora no atendimento: 'Ficha não caiu', diz viúva

    Publicado 25/11/2024 às 14:12 | Autor: Tayná Ferreira
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    Sérgio Souza Pinto
    Sérgio Souza Pinto |  Foto: Arquivo pessoal
    Estiveram presentes familiares e amigos
    Estiveram presentes familiares e amigos |  Foto: Péricles Cutirm

    Foi sepultado na manhã desta segunda-feira (25), no Cemitério Maruí, em Niterói, o corpo do tricolor Sérgio Souza Pinto, de 63 anos, que faleceu após assistir à partida entre o Fluminense e o Fortaleza, no Maracanã, no último dia 22.

    O velório foi marcado por indignações, segundo a família, pela demora no atendimento da equipe do estádio. Além disso, a cerimônia fúnebre foi marcada por emoções diversas: lágrimas, risos e lembranças compartilhadas por familiares e amigos.

    Segundo a família, Sérgio sofreu um mal súbito de origem cardíaca nas proximidades de um banheiro do Maracanã e, ainda de acordo com a família, não recebeu o auxílio necessário no momento da emergência.

    Wellington, filho de Sérgio, estava com o pai no Maracanã
    Wellington, filho de Sérgio, estava com o pai no Maracanã |  Foto: Péricles Cutirm

    Wellington Silva, de 40 anos, filho do torcedor, estava acompanhado de sua esposa e de seu filho, de 12 anos, no estádio Maracanã para assistir à partida pelo Campeonato Brasileiro.

    "Ele estava feliz, alegre, brincou, e nos abraçamos. Fazia cinco anos que ele não ia, devido a questões financeiras, de saúde e outros motivos", relatou o filho.

    Segundo Wellington, após o término do jogo, ele deixou o pai próximo ao banheiro. Ao retornar, presenciou uma pequena discussão entre Sérgio e outro homem.

    Embora não tenha certeza sobre o motivo, Wellington soube por outras pessoas que o desentendimento pode ter ocorrido devido a problemas na porta de um dos banheiros.

    "Eu falei: 'Cara, segura aí, é meu pai, ele é idoso.' Eu peguei meu pai e virei. Quando eu o peguei, ele deu três passos e desmaiou. Ele foi caindo nos meus braços", relata o filho.

    “Deus, não leve o meu avô”

    Após ver a cena, Wellington conta que, o filho de 12 anos, que estava acompanhado do pai, gritava pelo avô. A criança, que esteve no velório, desabou em choro durante a despedida.

    Segundo Wellington, torcedores do time tentaram ajudar enquanto a assistência não chegava e abanavam Sérgio o tempo todo.

    Denúncia

    O filho conta que logo que viu seu pai desmaiado em seus braços, chamou por ajuda, que segundo ele demorou. “Depois de algum tempo chegou duas ou três enfermeiras, sem disfribrilador, sem um balão de oxigênio, sem nada”, lamenta.

    Ainda segundo Wellington, após um certo tempo chegou uma cadeira de rodas, nesse momento, uma confusão no local foi protagonizada por outros torcedores. 

    Após isso, Sérgio foi encaminhado para um laboratório. Vinte minutos depois, o médico informou à família que ele estava em estado grave.

    O torcedor foi encaminhado para um hospital na Gávea. De acordo com Wellington, a família foi avisada de que poderia ir de carro ou de ônibus. Após duas horas no local, o médico confirmou a morte de Sérgio.

    "O médico perguntou: 'Como você esperava seu pai quando chegasse aqui?' Eu respondi: 'Meu pai não estava mais vivo'".

    O médico confirmou para a família que Sérgio chegou à unidade hospitalar já morto. "Merecia uma tentativa. Não houve uma massagem cardíaca, não fizeram sequer uma tentativa de nada. Para mim, parecia que pegaram ele dali [no Maracanã] e o jogaram em outro lugar."

    Wellington ainda mencionou que a equipe do Estádio do Maracanã não entrou em contato com a família após a morte de seu pai. "Ninguém perguntou nada, de onde eu vim, o que aconteceu, ou mandaram alguém ao hospital."

    O filho ainda destaca que só quer lutar pelo pai. "Eu não quero nada, até porque nada vai trazer ele de volta. Só quero lutar para que as coisas melhorem lá dentro e para que não haja mais vítimas. Tem que haver um suporte, e não estou falando de financeiro", finalizou.

    Último contato

    Viúva e filha no sepultamento de Sérgio
    Viúva e filha no sepultamento de Sérgio |  Foto: Péricles Cutirm

    Com a camisa do Fluminense que Sérgio utilizava no jogo, a filha Ágata Silva e a viúva do torcedor, Georgia Paraná Silva, cobraram justiça e lembraram a última vez que conversaram com ele.

    Casada há 40 anos com Sérgio, Georgia conta que, antes do marido ir ao jogo, perguntou se ele voltaria para casa ou se dormiria na casa do filho. "Ele disse que voltaria para casa", relatou a esposa.

    Ela, que reconheceu o corpo, disse que a ficha ainda não caiu e desabafou: "Eu ainda não chorei, a ficha ainda não caiu."

    Sérgio ligou para a filha, mas ela não podia falar com ele no momento e recusou a ligação. Logo depois, Ágata ligou para o pai e fez uma chamada de vídeo. "Eu não estava conseguindo escutar muito bem, estava muito barulho". Naquele momento, foi a última vez que a filha falou com ele.

    Algumas horas depois, ela recebeu a notícia da morte do pai por telefone e comunicou à mãe, que estava em casa sozinha no momento. "Eu não acreditei, não conseguia processar a informação, eu estava dormindo. Quando fui dar a notícia para minha mãe com todo cuidado" contou ela. 

    No momento do sepultamento, a viúva Georgia desmaiou e foi amparada por familiares e amigos.

    Sepultamento de Sérgio no cemíterio Maruí, em Niterói
    Sepultamento de Sérgio no cemíterio Maruí, em Niterói |  Foto: Péricles Cutirm

    Quem era Sérgio

    Sérgio Souza Pinto
    Sérgio Souza Pinto |  Foto: Arquivo pessoal

    Sérgio Souza Pinto era morador do bairro Colubandê, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Antes disso, havia residido no bairro Barreto, em Niterói.

    Ele deixa a esposa, dois filhos, três netos e uma rede de familiares e amigos que guardam lembranças de seu carinho e amor.

    Um dos amigos de Sérgio, João Pampal
    Um dos amigos de Sérgio, João Pampal |  Foto: Péricles Cutirm

    “O Sérgio era um grande amigo, honesto, limpo e torcedor do Fluminense”, relatou João Pampal, amigo do torcedor.

    O filho Wellington destaca Sérgio como "meu pai, meu amigo, meu herói".

    Já um cunhado de Sérgio, Ricardo Paredes, definiu o parente como "um parceiro, alegre“.

    Homenagens 

    No velório, amigos em forma de homenagem foram com a camisa do time de coração do Sérgio e cantaram o hino do time.

    Além disso, os amigos que estarão presentes no próximo jogo, na terça-feira, irão gritar o nome de Sérgio e prestar suas homenagens na arquibancada.

    Nas redes sociais, amigos e conhecidos lamentaram a perda de Sérgio, destacando sua presença constante nos jogos do clube carioca.

    O Fluminense, em nota, lamentou a morte do torcedor. “Lamentamos profundamente o falecimento de Sergio Souza Pinto, grande Tricolor, que veio a óbito logo após assistir ao jogo desta sexta no Maracanã. Nossa solidariedade a parentes e amigos”, frisou.

    A reportagem tenta contato com o Estádio do Maracanã para os questionamentos feitos pela família.

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