Mães
Saiba quem são as mães da dor e da saudade que lutam por justiça
Elas falam da tristeza de perder seus filhos para a violência
A violência que assola o Estado do Rio de Janeiro deixa vítimas para além daquelas registradas nos boletins de ocorrências policiais. Neste Dia das Mães, o ENFOCO conta a história de mães que ainda tentam transformar a dor da perda dos filhos em forças para lutar por justiça.
É o caso da cuidadora de idosos Fátima Regina, de 47 anos, que teve a família destruída após a morte brutal do filho em fevereiro deste ano. Segundo a polícia, o motorista de aplicativo Jhonatan Gomes Braga, de 27 anos, foi morto a pauladas em Guapimirim, na Baixada Fluminense.
A vítima morava em São Gonçalo. Ficou desaparecida por 15 dias após sair de casa para trabalhar. Ele foi encontrado sem vida no Vale das Pedrinhas. A causa da morte, segundo a mãe, foi diagnosticada como traumatismo cranioencefálico.
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"A única informação que eu tive da delegacia de homicídios de Niterói é que o acusado foi intimado, mas ainda não compareceu. Ou seja, está foragido, né? O rapaz era amigo do meu filho, foi a última pessoa que teve contato com Jhonatan. Por que fez isso? Meu filho nem crânio tinha mais. Foi paulada na cabeça. Foi covardia", conta.
De acordo com a 67ª DP (Guapimirim), testemunhas estão sendo ouvidas e diligências seguem para identificar o autor e a circunstância da morte.
Ameaças
Como se não bastasse o crime brutal contra o filho, Fátima ainda recebeu ameaças após o assassinato. Por essa razão, precisou deixar a própria casa em busca de maior segurança.
Tive que sair da minha residência, porque estava recebendo ameaças por telefone. Um absurdo. Meu coração chora todos os dias"
Sangue derramado
Em dezembro de 2021, a dona do lar Viviane dos Santos, de 48 anos, viu seu mundo desabar ao saber da morte do filho, o lutador de Muai Thai Vítor Reis de Amorim, de 19 anos, no Morro da Jaqueira, em São Gonçalo. Hoje, Viviane relata que ainda precisa lutar pela integridade moral do filho.
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No dia em que foi baleado, Vitor chegou a ser socorrido para o Pronto Socorro Central de São Gonçalo, no Zé Garoto, mas não resistiu aos ferimentos e perdeu a vida na unidade médica.
Na versão da Polícia Militar, uma equipe do Batalhão de São Gonçalo (7ºBPM) fazia patrulhamento pela Rua Mendes Ribeiro, quando se depararou com indivíduos armados que, segundo a PM, ao avistarem a viatura policial abriram fogo.
Com o suposto ataque, ainda segundo a PM, os policiais envolvidos revidaram e um deles acabou atingido. Mas Vacelni Ferreira Amorim, de 58 anos, pai do lutador — assim como a mãe — contesta de forma categórica a versão da polícia.
"Eles vieram na frente da minha casa, começaram a dar tiros e inventaram que houve confronto. Sabemos que a corda sempre estoura do lado mais fraco e esse lado é meu", afirma o pai do lutador.
Para Viviane, este será um Dia das Mães triste e com vazio no peito.
Eu gerei ele por 9 meses, criei, e para perder foi em questão de minutos"
Consequência - Com apenas 3 anos, o neto de Fátima Regina, chora todos os dias, ao sentir a falta do pai Jhonatan Gomes.
"Todos os dias ele tem crises de choro, ainda não consegui marcar um psicólogo. Já levei ao pediatra, que passou calmante. A gente fala que o pai sofreu um acidente de carro, que virou estrelinha. Todo dia de madrugada ele acorda chorando. Eu levo na janela e mostro a estrela", diz Fátima.
A mãe da criança também sofre as consequências da perda brutal do marido. Ela foi diagnosticada com síndrome do pânico, segundo Fátima.
"Não consegue sair nem na rua. Essa impunidade de saber quem é o assassino e não poder fazer nada é triste. A lei é lenta. Eu sou cristã, não odeio, só quero que ele [acusado] pague e fale qual foi a motivação", acrescenta.
MORTES EM NÚMEROS
Entre janeiro e março de 2022 foram 760 vítimas de homicídio doloso no Estado, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). O dado é referente aos registros lavrados pela Polícia Civil. Apesar da taxa expressiva, houve diminuição de 18% quando comparado com o mesmo período do ano passado.
Outros crimes contra a vida tiveram reduções no primeiro trimestre, como o roubo seguido de morte (latrocínio). O indicador caiu mais da metade em três meses no estado, foram 14 vítimas em 2022, contra 32 em 2021.
A letalidade violenta — que inclui homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, roubo seguido de morte e morte por intervenção de agente do estadorecuou 23%, o menor valor para os três meses desde 1991. Já as mortes por intervenção de agente do estado apresentaram diminuição de 30% no período.
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