Debate
Rodízio de carros é solução para trânsito em Niterói? Entenda
Especialistas explicam a causa do problema crônico
As queixas recorrentes sobre o fluxo intenso de veículos em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, são praticamente unânimes entre os moradores e visitantes que precisam se locomover na cidade. Há uma preocupação centralizada na qualidade do sistema viário municipal, impondo grandes desafios à rotina dos usuários, que, por vezes, preferem utilizar veículos particulares. Para especialistas em Mobilidade Urbana, a proposta de rodízio de veículos representa uma política viável, porém paliativa — ou seja, não traria solução ao problema
Isso, no entanto, gera um obstáculo notório para a fluidez do trânsito, com longos períodos de engarrafamentos. Os pontos críticos mais famosos, são: Alameda São Boaventura, no bairro Fonseca; e Avenida Roberto Silveira, em Icaraí.
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Luta diária
O empresário Carlos Mendes, de 45 anos, que mora em Icaraí, na Zona Sul de Niterói, diz que o trajeto diário para o trabalho é uma jornada estressante. Ele se diz frustrado com o aumento do congestionamento.
"Diariamente, enfrentamos engarrafamentos que consomem nosso tempo, produtividade e, o mais importante: impactam a qualidade de vida dos moradores. A cidade tem um potencial incrível, mas o trânsito congestionado está se tornando um gargalo para o crescimento local", expressa Mendes.
Outra moradora do município, a design de interiores Gabriela Santos, de 35, enfrenta desafios semelhantes, ao se deslocar de Camboinhas, na Região Oceânica, para suas atividades profissionais no centro da cidade.
As viagens frequentemente atrasadas e a imprevisibilidade do tráfego roubaram não só o meu tempo, mas também minha serenidade. Como profissional independente, a eficiência nos deslocamentos é crucial para atender meus clientes e manter minha criatividade em alta. O trânsito congestionado está impactando negativamente minha produtividade e bem-estar emocional
Moradores veem rodízio de veículos como possível solução
Diante dos desafios enfrentados por moradores como Carlos Mendes e Gabriela Santos, a possibilidade de implementação de um rodízio de veículos em Niterói tem ganhado destaque nas discussões locais.
Essa medida consiste em restringir a circulação de veículos em determinados dias ou horários, buscando controlar o volume de tráfego e aliviar a sobrecarga nas vias. A proposta de rodízio já foi adotada em diversos locais, ao redor do mundo, como São Paulo, na cidade de São Paulo; e Bogotá, na Colômbia, por exemplo.
O que pensam os especialistas?
O professor Luciano Losekann, coordenador do Grupo de Energia e Regulação da UFF, destaca a concentração urbana e a limitação do transporte público como fatores cruciais para o crítico cenário.
Losekann atua em um projeto conjunto da UFF, Prefeitura de Niterói e a Fundação Euclides da Cunha, que busca soluções para o setor.
O trânsito em Niterói é desafiador devido à concentração econômica na Zona Sul e à expansão urbana para a Região Oceânica. Isso resulta em um padrão de deslocamento unidirecional. A posse elevada de carros por pessoa, impulsionada pelo forte PIB e características de cidade dormitório, aumenta a pressão sobre as vias. Esses fatores tornam vital a implementação de abordagens estratégicas para enfrentar os desafios de mobilidade na cidade
A mestre em Engenharia de Transportes pela COPPE/UFRJ e especialista do ITDP Brasil, Lorena Freitas, também ressalta a importância de medidas que tornem modos sustentáveis mais atrativos.
"O cerne dos congestionamentos em Niterói reside na preferência pelo transporte individual, especialmente carros e motos, em detrimento de opções mais sustentáveis. Nesse contexto, a gestão do trânsito deve concentrar esforços na promoção de modos de deslocamento coletivos e sustentáveis, como o transporte público e a bicicleta", enfatiza Freitas.
Cidade possui a quinta maior frota de automóveis do Estado, diz estudiosa
Atualmente, conforme explica Lorena, a cidade possui a quinta maior frota de automóveis do Estado do Rio de Janeiro, contudo, com uma população e território menores, comparando com as primeiras colocadas do ranking. Assim, Niterói possui a maior posse de carro per capita do Estado, ressalta a especialista.
Isso pode estar relacionado, ainda de acordo com Lorena, aos índices de desenvolvimento humano e PIB per capita da cidade, que são, por exemplo, superiores aos da capital, com base no Censo de 2010.
Rodízio de veículos
Sobre a proposta de rodízio de veículos como solução para o problema de congestionamento na cidade, os dois especialistas possuem opiniões semelhantes. Embora considerem a política uma possibilidade viável, ambos acreditam que o rodízio não é a saída mais sustentáveal e igualitária para lidar com o problema.
O rodízio de veículos pode ser excludente, favorecendo grupos com maior poder aquisitivo, que podem ter mais carros na mesma família. Isso pode resultar em deslocamentos recorrentes para esse grupo, enquanto outros arcam com encargos em dias específicos. Em vez disso, é crucial ampliar as faixas exclusivas para ônibus e fortalecer a rede cicloviária, alinhando-se aos esforços municipais para incentivar o transporte coletivo
Luciano Losekann complementa o debate: "O rodízio de veículos é paliativo e não resolve a raiz do problema em Niterói. É uma solução que ainda depende do transporte individual, carecendo de uma mudança estrutural na mobilidade urbana. Precisamos buscar alternativas mais abrangentes e investir em soluções que promovam a mobilidade sustentável".
O que diz a Prefeitura
Sobre o problema do trânsito na cidade, a Prefeitura de Niterói respondeu, em nota, que tem priorizado o investimento em transporte público em seus projetos, como a reurbanização da Avenida Visconde do Rio Branco e a rótula de Camboinhas.
"A Secretaria Municipal de Urbanismo e Mobilidade (SMU) informa que, do ponto de vista do planejamento de transportes, os projetos que estão sendo implementados priorizam o transporte público através de corredores exclusivos de ônibus, a exemplo da reurbanização da Avenida Visconde do Rio Branco; e a rótula de Camboinhas. Estão em desenvolvimento projetos para a Avenida Benjamin Constant e para a Avenida Marquês do Paraná (norte). Estes projetos, ao organizarem o espaço viário dando prioridade aos coletivos, contribuem com a melhora da fluidez, diminuindo os índices de congestionamento, e aumentam a qualidade do ar na cidade, com menor percentual de emissões de gases poluentes", diz a nota na íntegra.
A Prefeitura, no entanto, não respondeu sobre a possibilidade do rodízio de veículos como solução para o problema.
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