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    Niterói até Manilha

    RJ 104: uma rodovia com 23 quilômetros de problemas

    Acidentes e episódios de violência são rotina

    Publicado 29/04/2023 às 7:23 | Autor: Ezequiel Manhães
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    É comum ver pedestres assumindo riscos ao atravessar a via, perto e longe de passarelas
    É comum ver pedestres assumindo riscos ao atravessar a via, perto e longe de passarelas |  Foto: Péricles Cutrim

    Longos trechos com buracos e faltas de reparos, que facilitam acidentes, até mesmo fatais, ainda acompanham os 22,8 km de extensão da RJ-104, entre Niterói e Manilha, na Região Metropolitana do Rio.

    O último terminou com a morte do menino Kauã Ferreira Martins, de 11 anos, na altura do Apolo II, no sentido Itaboraí. Neste ponto, não há radar ou passarela, conforme denúncias. 

    Isso ocorreu na tarde desta quarta-feira (26), em frente à Escola Roberta Maria Sodré de Macedo, onde o pequeno estudava. A vítima foi socorrida para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. 

    "Mais uma tragédia, um estudante acabou sendo atropelado, e sabem o motivo? A falta de sinalização, passarela ou um radar", disse uma moradora de um condomínio residencial do entorno.

    Parte de um concreto está prestes a cair sob a via, na descida do viaduto de Maria Paula, bairro bimunicipal — na pista sentido São Gonçalo — gerando riscos iminentes aos motoristas, conforme flagrado pela reportagem, nesta quarta (26).

    Naquela passagem, em dias de chuva, a pista escorregadia facilita adversidades no trânsito, conforme queixas de quem vai e volta por ali, todos os dias, principalmente a bordo de carros ou motos. 

    RJ-104 Buracos e e pessoas atravessando fora da passarela - Péricles Cutrim - Enfoco
    RJ-104 Buracos e e pessoas atravessando fora da passarela - Péricles Cutrim - Enfoco |  Foto: Péricles Cutrim

    É comum ver pedestres assumindo riscos ao atravessar a via, perto e longe de passarelas, apesar de placas informativas. O DER-RJ (Departamento de Estradas de Rodagem do Estado do Rio), procurado pelo ENFOCO, não informou quantas passagens aéreas deveriam existir, considerando a dimensão da rodovia.

    Aspas da citação
    Já morreu um monte de gente aqui, isso aqui é roça, são muitos buracos aqui perto do ponto de ônibus
    Lucinéia Ferreira, de 55 anos dona de casa
    Aspas da citação
      

    O coordenador do SOS Estradas - Programa de Segurança nas Estradas, Rodolfo Rizzoto, observa que apesar de ser uma minoria, é justamente esse pequeno grupo que se envolve em acidentes fatais. 

    "São situações absurdas, mas também é preciso oferecer mais alternativas de travessia para os pedestres. E, por isso que os radares também são importantes. Os radares fixos nas áreas aonde existe uma parcela considerável de pedestres atravessando. Infelizmente, muitas vezes esses equipamentos são desligados, já que se fala em indústria da multa e nós acabamos deixando funcionar a fábrica de infratores e a indústria da morte", ressalta.

    Atualmente, a RJ-104 tem oito equipamentos de Fiscalização Eletrônica no trecho do município de São Gonçalo, instalados a partir de estudos realizados pelo departamento. 

    “Os equipamentos foram colocados nos locais levando-se em conta a necessidade observada por estudos técnicos, seguindo resolução do Contran. O DER-RJ não recebeu nenhum pedido para aumentar o número de radares na RJ-104”, alega o DER-RJ.

    DER-RJ não diz quantas passagens aéreas deveriam existir, considerando a dimensão da RJ-104
    DER-RJ não diz quantas passagens aéreas deveriam existir, considerando a dimensão da RJ-104 |  Foto: Péricles Cutrim

    Para Rizzoto, há uma série de fatores que vão contribuir para o crítico cenário.

    "Mas o principal fator é o humano, representado pelo condutor, pelo passageiro, pelo pedestre. Agora é evidente que as rodovias não faltam só sinalização. São precárias de pavimentação [...] Infelizmente os recursos públicos são mal utilizados, né? Isso é um fator histórico, não só do Rio de Janeiro, como do país", pontua ele que tem livros e estudos publicados sobre segurança viária.

    Em frente ao comércio da dona Ilma, na altura de Tribobó, em São Gonçalo, há um bueiro com desnível, na beira da RJ-104. Bem ao lado, existe um ponto de ônibus de grande movimentação. Já ocorreram vários acidentes ali, segundo ela.

    “Dia de chuva acaba sendo ruim. Esse buraco, o pessoal já cansou de cair aqui, quebrar a perna. O pessoal do DER-RJ vem, coloca uma terra preta na rua, mas depois sai tudo de novo com a chuva”, observou.

    Bueiro com desnível, na beira da RJ-104, tem provocado acidentes de pedestres perto de um ponto de ônibus
    Bueiro com desnível, na beira da RJ-104, tem provocado acidentes de pedestres perto de um ponto de ônibus |  Foto: Péricles Cutrim

    Casos recentes

    Na terça-feira (25), o motociclista Geraldo dos Santos Ribeiro, de 58 anos, sofreu um acidente que tirou sua vida, na RJ-104, na subida da Caixa D’Água. Na mesma data, também foi registrado um acidente com vítima que sofreu ferimentos leves, na altura de Tribobó, de acordo com testemunhas.

    Em outubro do ano passado, a idosa Raimunda Alves, de 72 anos, morreu após ser atropelada ao atravessar a RJ-104, também em Tribobó. O acidente ocorreu no sentido Niterói e o motorista ainda tentou prestar socorro à vítima, mas ela não resistiu.

    Segundo informações de familiares, a vítima morava com o neto e a namorada dele no bairro Novo México e teria ido aos comércios próximos da região.

    O empresário Ronaldo Paiva, de 38 anos, tem uma loja de autopeças naquela região. Ele narra que já presenciou engavetamentos causados por buracos.

    “Já vi vários carros que às vezes freiam nos buracos, e acabam batendo na traseira do outro. Está abandonado isso aqui. A rodovia está em mau estado, motoboy cai toda hora, é carro que quebra a roda”, pontuou.

    Buracos em diversos trechos ainda podem ser vistos, principalmente na altura de Tribobó
    Buracos em diversos trechos ainda podem ser vistos, principalmente na altura de Tribobó |  Foto: Péricles Cutrim

    Para Rodolfo Rizzoto, do SOS Estradas, a falta de consciência no trânsito no Brasil é muito em função da certeza de impunidade.

    "Não tem outra explicação. Na Suíça as pessoas não têm consciência, e elas são punidas. Então elas passam a ter consciência. Funciona onde se pune. Onde não se pune, não funciona o trânsito em lugar nenhum do mundo".

    Segundo ele, é necessário que haja um entendimento de que no país, hoje, existe uma 'fábrica de infratores' e não uma 'indústria da multa'.

    "Se pune muito pouco no Brasil e a velocidade não é estabelecida por um engenheiro mal-humorado: é baseado em critérios técnicos e se você pegar em qualquer rodovia, a média dos que estão excedendo o limite de velocidade efetivamente durante todo o trajeto, não durante um ou outro ponto, mas durante todo o trajeto, não chega a 1% dos condutores". 

    Policiamento

    A RJ-104 cruza várias comunidades dominadas pelo tráfico de drogas. A insegurança também é denunciada por moradores e comerciantes por todo o trecho, entre Niterói, São Gonçalo e Manilha. 

    “Às vezes estamos aqui e acaba tendo tiroteio, é roubo. Como ali na frente tem um destacamento de polícia, a gente vê viatura, mas tem isso”, relatou uma moradora que prefere não se identificar.

    A Polícia Militar informa, por meio de nota, que a Corporação faz patrulhamento na RJ-104 com rondas e outras ações ostensivas do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv). E que o perímetro que compreende as margens da referida via conta com o policiamento do 35° BPM (Itaboraí).

    Rodolfo Rizzoto, do SOS Estradas, comenta que a iluminação nas estradas, por exemplo, pode inibir ações de bandidos.

    "Iluminação é muito importante, porque ela reduz o risco do crime. E se você reduz o risco do crime, você torna as pessoas mais seguras também. Hoje você tem câmeras, condições de filmar os trechos, que dão visibilidade à ação criminosa e favorece as investigações das autoridades policiais. E nesse sentido, eu acho fundamental que a população crie a cultura de apoiar a polícia". 

    A PM também ressalta ainda a importância de que a população colabore realizando denúncias - o telefone do Disque-Denúncia é (21) 2253-1177 - ou, para casos urgentes, faça o acionamento através da Central 190. Os registros nas delegacias da Polícia Civil também são essenciais para que procedimentos investigativos sejam iniciados.

    Infraestrutura

    O DER-RJ diz que a RJ-104 já teve 15 km revitalizados recentemente e que o trecho restante está em processo licitatório. 

    “O investimento foi de R$ 72 milhões e contemplou obras de terraplanagem, drenagem, pavimentação, além da construção do viaduto de Jardim Catarina [em São Gonçalo] e a sinalização horizontal”, ressaltou.

    Por meio de nota, o departamento pontua que "tem trabalhado intensamente na atual gestão para recuperar todas as rodovias estaduais, garantindo a segurança do cidadão que trafega pelas estradas sob sua responsabilidade", não detalhando os projetos futuros para os cerca de 7,8km ainda prejudicados. 

    Radares

    Atualmente, a RJ-104 tem oito equipamentos de Fiscalização Eletrônica. Veja a lista, conforme o DER-RJ:

    RJ-104 Km 8,9 – Colubandê – São Gonçalo – Sentido Itaboraí – Controlador de Velocidade – 60 Km/h

    RJ-104 Km 9,3 – Colubandê – São Gonçalo – Sentido Niterói – Controlador de Velocidade – 60 Km/h

    RJ-104 Km 14,0 – Laranjal – São Gonçalo – Sentido Itaboraí – Redutor de Velocidade – 50 Km/h

    RJ-104 Km 14,0 – Laranjal – São Gonçalo – Sentido Niterói – Redutor de Velocidade – 50 Km/h

    RJ-104 Km 16,5 – Vista Alegre – São Gonçalo – Sentido Itaboraí – Redutor de Velocidade – 50 Km/h

    RJ-104 Km 16,5 – Vista Alegre – São Gonçalo – Sentido Niterói – Redutor de Velocidade – 50 Km/h

    RJ-104 Km 18,5 – Marambaia – São Gonçalo – Sentido Itaboraí – Redutor de Velocidade – 50 Km/h

    RJ-104 Km 18,5 – Marambaia – São Gonçalo  – Sentido Niterói – Redutor de Velocidade – 50 Km/h

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