Escândalo
'Não fiz nada para adquirir isso', desabafa transplantada com HIV
Ela afirmou que só foi orientada a fazer exames após exposição
"Não fiz nada para adquirir isso". Esse é o duro relato de uma das seis vítimas infectadas com o vírus HIV depois de receberem órgãos transplantados no Estado do Rio de Janeiro. O desabafo foi dado ao Fantástico deste domingo (13).
A mulher, que não quis se identificar, recebeu um rim. Ela conta que toda a família está revoltada, após a revelação do caso.
"É como se o chão se abrisse e você... Sabe? (...) Porque é a minha vida e daqui pra frente a minha vida mudou. A minha família está revoltada, porque a gente entra lá com a maior confiança de que vai dar tudo certo", afirmou a vítima, ao dominical da Globo.
A falha que permitiu a infecção aconteceu dentro de uma das unidades de laboratório contratado pela Secretaria Estadual de Saúde, a Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme). Um dos sócios foi preso em casa, na manhã desta segunda-feira (14).
Vai mudar a minha vida completamente, porque antes era só os meus remédios pra não ter rejeição dos meus rins (...) Eu não fiz nada pra adquirir isso. O erro foi de pessoas irresponsáveis. Porque eu acho que quem lida com a vida de uma outra tem que ter responsabilidade
Laboratório privado
As infecções ocorreram após testes feitos por um laboratório privado, o PCS-Saleme. O laboratório foi contratado pela Fundação Saúde, sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Saúde (SES) para atendimento ao programa de transplantes no estado, não acusarem a presença do vírus.
O PCS teve o serviço suspenso logo após a ciência do caso e foi interditado cautelarmente, de acordo com a Secretaria. Com isso, os exames passaram a ser realizados pelo Hemorio.
O Ministério da Saúde determinou a instalação de auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS no sistema de transplante do Rio de Janeiro, e a apuração de eventuais irregularidades na contratação do referido laboratório, dentre outras providencias.
Situação gravíssima
A SES afirma, em nota que esta é uma situação sem precedentes. “O serviço de transplantes no estado do Rio de Janeiro sempre realizou um trabalho de excelência e, desde 2006, salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas”, diz o texto.
A Secretaria informou que abriu sindicância “para identificar e punir os responsáveis”. Foi também criada uma comissão multidisciplinar para acolher os pacientes afetados e que, imediatamente, “foram tomadas medidas para garantir a segurança dos transplantados”.
A Secretaria está rastreando, com a reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório.
O Cremerj disse, também em nota, que considera a situação gravíssima e que instaurou sindicância, na última sexta-feira (11), para apurar as denúncias.
“A situação é gravíssima e o Cremerj reafirma seu compromisso de apurar os fatos com todo o rigor. A segurança dos pacientes é fundamental para garantir o bom exercício da medicina no estado do Rio de Janeiro e supostas falhas desse tipo são inaceitáveis”, disse na nota o presidente do Cremerj, Walter Palis.
Sindicância interna
Em nota, o laboratório PCS Lab afirmou que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados e assegurou que se trata de um episódio "sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969".
O laboratório diz ainda que informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado.
Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
"O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso", diz o laboratório.
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