Preconceito
Intolerância religiosa é registrada em condomínio do Rio
Morador também sofreu ataque com ofensas homofóbicas
João Júnior, escultor e morador de um condomínio em Madureira, Zona Norte do Rio, encontrou na porta de seu apartamento pichações com ofensas homofóbicas e intolerância religiosa.
O incidente, ocorrido no dia 18 de setembro, deixou o artista abalado e inseguro em um local que deveria ser seu refúgio. Ele acredita que o ataque tenha sido motivado pelo trabalho que realiza, produzindo esculturas usadas em cultos de religiões de matriz africana, além de imagens de santos católicos.
As mensagens grafitadas na porta de seu apartamento continham palavras como "bruxo", "servo de Satanás" e ameaças de violência. João relatou, em entrevista à "TV Globo", que ao ler o conteúdo, encontrou a seguinte inscrição.
"Bruxo, filho do diabo, servo de Satanás. Pegue suas imagens e suma do nosso condomínio. Ou vamos invadir e quebrar tudo. Depois, queimar em nome de Jesus. Viado dos infernos".
Segundo o escultor, o ataque reflete o medo que ele sente de ser alvo por sua fé, especialmente considerando o tipo de trabalho que realiza.
João, que segue a religião de candomblé, ressaltou o impacto do ataque em sua vida. Ele detalhou o sentimento de insegurança, que o levou a passar alguns dias dormindo na casa de sua irmã até conseguir processar o ocorrido.
Foi aterrorizante. Um medo que invade e vai consumindo com o tempo
O morador também questionou a eficácia da segurança do condomínio, pois as câmeras de vigilância estavam desligadas na hora do ataque. O condomínio alegou, em nota à "TV Globo", que não há câmeras no bloco e que a instalação do sistema de monitoramento está em processo.
Em relação à investigação, a Polícia Civil informou que está buscando identificar os responsáveis pelas pichações, enquanto o condomínio afirmou que repudia a atitude e está colaborando com as investigações.
Em resposta ao incidente, o condomínio também anunciou que fará uma campanha de conscientização sobre as garantias individuais e que está analisando a instalação de mais câmeras de segurança.
Intolerância em números
A cidade do Rio de Janeiro foi o município com o maior número de denúncias de intolerância religiosa no Brasil em 2023, com 170 casos registrados.
Até o dia 16 de outubro deste ano, o número já havia ultrapassado esse total, com 217 registros. Além de Madureira, outros municípios da Baixada Fluminense e da Região Metropolitana, como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Niterói, também estão entre os 15 com mais ocorrências.
Especialistas também comentaram o caso. Ivanir dos Santos, babalawô e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destacou que o Rio continua sendo um dos estados com maior incidência de intolerância religiosa, alternando entre o primeiro e segundo lugar em casos registrados no país.
A antropóloga Ana Paula Miranda, do Ginga, da Universidade Federal Fluminense (UFF), afirmou que a liberdade religiosa deve ser garantida sem permitir ofensas ou imposições.
"A liberdade de expressão não permite que alguém ofenda ou queira converter outra pessoa à força", pontuou.
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