Defesa Civil
Obra em antigo prédio da Rádio Tupi que caiu não tinha autorização
Imóvel vizinho foi interditado preventivamente
Não havia autorização prévia da Defesa Civil para demolição do prédio da antiga sede da Rádio Tupi, que desabou parcialmente nesta quinta-feira (18), em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio.
Moradores da região garantem que funcionários faziam obra no local há semanas, antes de parte do prédio ceder e cair. Apesar disso, não havia placas informativas, conforme os relatos. Até o momento, os responsáveis pela obra não foram identificados.
O Corpo de Bombeiros retirou Maria de Fátima Costa, de 86 anos, de dentro de uma casa ao lado do prédio, que fica na rua Fonseca Telles. Ela é paciente oncológica e acamada.
No momento do desabamento, dona Maria estava acompanhada de uma cuidadora. Um homem também foi retirado de um apartamento aos fundos. Ninguém se feriu.
Harrison Costa, neto da idosa, estava no trabalho quando tudo aconteceu. Ele conta que a família estava prestes a denunciar o caso, mas não deu tempo.
"Aqui [a construção] era a Rádio Tupi e ela foi vendida aparentemente para uma construtora. Há umas duas ou três semanas começou um quebra-quebra de demolição e a gente não sabia nada. Não tem nenhuma placa de obra indicando sobre. Não veio nenhum perito ou engenheiro falar com o pessoal da nossa casa, que é parede com parede. A gente estava a um passo de denunciar com a prefeitura. Era uma condição muito insustentável. Praticamente a gente já sabia que isso iria acontecer. Estava na cara que isso era algo errado, ilegal", pontuou.
Segundo o major Fabio Contreiras, porta-voz do Corpo de Bombeiros, o acionamento ocorreu por volta de 8h58, com envio de equipes do quartel de Vila Isabel. Eles fizeram uso de escada para acessar a janela frontal do apartamento vizinho e resgatar as pessoas que estavam presas nas suas residências.
"Não atendemos vítimas feridas, nem fatais, porém, existiam vítimas que estavam neste apartamento, que não conseguiram sair das suas residências porque a saída estava obstruída [com os destroços]. A gente teve que fazer o acesso pela janela frontal do apartamento, cortar essas grades - que são típicas de apartamentos aqui. Usamos um motocortador, que conseguiu tirar parte da grade e dali a gente acessou todas as pessoas: uma senhora acamada que precisava de cuidados médicos, a cuidadora e um senhor que estava no apartamento dos fundos. Também tiramos um cachorro", esclareceu.
Leia+: Parte de antigo prédio da Rádio Tupi desaba na Zona Norte
Inicialmente, a Defesa Civil Municipal informou, por meio de nota, que foi acionada para o desabamento parcial do imóvel na Rua Fonseca Telles, número 120, e que os técnicos identificaram que o imóvel já estava sendo demolido sem autorização prévia do Poder Municipal.
A pasta disse que vai acionar os órgãos municipais para eliminar os riscos iminentes ainda existentes na edificação. O imóvel vizinho (de uso residencial), número 122, foi interditado preventivamente.
Posteriormente, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Simplificação do Rio (SMDEIS) esclareceu que devem ser feitas licenças distintas para demolição e construção. E que há um pedido de licença de demolição, que ainda não foi concedido por falta de regularização de documentação.
Segundo a Prefeitura do Rio, existe uma licença concedida para a construção de uma nova edificação, porém, para que haja o início das obras, ainda é preciso cumprir algumas exigências. Foi solicitado o embargo das obras, para fins de regularização, e a emissão de auto de infração.
"A gente precisa saber cadê o responsável por essa obra. Estávamos trabalhando. A minha avó está usando leito hospitalar que não tem como retirar. Agora ela vai pro vizinho aqui perto, mas não tem como comportar todos nós. Não sabemos se vai ter como voltar ou não. A princípio estamos com a roupa do corpo, com o que levamos para o trabalho", desabafou Harrison.
A técnica de enfermagem Sheila Casemiro, que faz curativos diários na dona Maria, chegava quando aconteceu a situação.
"Eu faço curativo diário dela e cheguei por volta de 8h50 e o prédio estava caindo. Ela ficou presa em casa com a cuidadora. Foi um susto muito grande, porque tinha uma nuvem de fumaça branca, muita correria. Foi assustador. Perigoso demais. Estou preocupada porque ela tem cirurgia, é acamada e não tem mobilidade", contou.
Em nota, a direção da Super Rádio Tupi informou que o prédio está em processo de demolição e que o incidente não deixou vítimas.
"A Rádio está em contato direto com as autoridades devidas para prestar qualquer esclarecimento e assistência necessários em caso de algum dano", diz a nota.
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