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    Saúde

    Saiba como a cidade de Niterói mantém baixo nível de dengue

    São 70 casos prováveis, em 2024, segundo Saúde estadual

    Publicado 21/02/2024 às 17:41 | Atualizado em 21/02/2024 às 18:28 | Autor: Enfoco
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    Por terem a Wolbachia, mosquitos não são capazes de carregar os vírus que causam a dengue, zika, chikungunya ou febre amarela
    Por terem a Wolbachia, mosquitos não são capazes de carregar os vírus que causam a dengue, zika, chikungunya ou febre amarela |  Foto: Flávio Carvalho/WMP Brasil/Fiocruz

    Em meio ao aumento de casos de dengue no país e de mortes pela doença, a cidade de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, segue na contramão ao manter níveis baixos da doença.

    São 70 casos prováveis, em 2024, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ). Já a Secretaria Municipal de Saúde garante que Niterói registra, até o momento, 41 casos prováveis de dengue (soma dos casos em investigação e os confirmados).

    Enquanto no Rio de Janeiro a incidência de casos é de 308 a cada cem mil habitantes, a taxa de Niterói, de acordo com o governo municipal, é de 8,5 por cem mil habitantes. O Ministério da Saúde estima que o número de casos de dengue no Brasil chegue a 5 milhões em 2024.

    Na cidade de São Gonçalo, por exemplo, o número de casos prováveis registrado pela SES-RJ é de 503, neste mesmo período.

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    Conforme a SES, neste ano, até o momento, foram registrados, em todo o estado, 49.405 casos prováveis de dengue e confirmados quatro óbitos causados pela doença (dois na capital, um em Itatiaia e um em Mangaratiba). Isso fez com que o governador do Rio, Cláudio Castro, decretasse situação de epidemia de dengue.

    Dados atualizados sobre casos de dengue no estado podem ser consultados neste link.

    Wolbachia

    De acordo com a prefeitura de Niterói, os casos em baixa na cidade é resultado de monitoramento diário durante o ano todo e também do chamado método Wolbachia.

    Essa é uma aposta de longo prazo, que começou a ser implementada na cidade em 2015. Em 2023, o município tornou-se o primeiro no Brasil com 100% do território coberto pelo método.

    "Niterói foi pioneira no país, numa parceria com a Fiocruz e com financiamento do Ministério da Saúde, no uso do método Wolbachia. Hoje, nós temos a cobertura de 100% da cidade, o que faz com que os índices sejam muito menores do que em outros lugares. Mas é importante que a gente mantenha os índices baixos. Por isso, vamos reforçar o trabalho das equipes de Zoonoses, que visitam cada casa de dois em dois meses", afirma o prefeito Axel Grael.

    Ele acrescenta que, tão importante como o que a prefeitura faz, é o que o cidadão também pode fazer para evitar que haja focos desse mosquito em casa. 

    A Prefeitura de Niterói possui uma equipe de fiscais sanitários exclusivamente para vistoriar todo o tipo de imóvel abandonado que propicie a proliferação dos vetores. Durante todo o ano, as equipes do CCZ realizam um trabalho intenso de rotina de prevenção e combate ao mosquito transmissor das arboviroses.

    A cobertura de trabalho abrange 205 mil imóveis, com planejamento de visita pelos agentes a cada 2 meses. São cerca de 300 servidores envolvidos exclusivamente nas atividades de combate ao mosquito transmissor das arboviroses, que visitam 5 mil imóveis diariamente.

    O que é?

    Wolbachia é uma bactéria presente em cerca de 60% dos insetos na natureza, mas ausente no Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue. O método Wolbachia consiste em inserir a bactéria em ovos do mosquito, em laboratório, e, assim, criar Aedes aegypti que portam o microrganismo.

    Constatou-se que, por terem a Wolbachia, esses mosquitos não são capazes de carregar os vírus que causam a dengue, zika, chikungunya ou febre amarela e tornam-se, assim, inofensivos.

    Esses mosquitos, apelidados Wolbitos, quando se reproduzem passam a bactéria para os novos mosquitos, fazendo com que menos desses insetos possam transmitir doenças para os seres humanos.

    De acordo com a secretária de Saúde de Niterói, Anamaria Schneider, o crescimento esperado do número de casos de dengue no município por conta dos deslocamentos de moradores e da vinda de turistas para a cidade durante o feriado de carnaval, não se comprovou. No entanto, ela diz que o aumento identificado nos dados em todo o Estado fez com que o alerta fosse ligado também em Niterói, apesar dos bons índices.

    "Esperava-se realmente um aumento após o carnaval. Em todo o estado, aumentou muito, mas Niterói é o último município na incidência da dengue no estado do Rio de Janeiro. A instalação de um comitê, representa a importância da mobilização de todos os gestores da prefeitura, e sobretudo da população, porque esse enfrentamento só pode ser feito com a população. Os criadores de mosquito estão nas casas das pessoas, 70% dos focos dos mosquitos estão nas casas das pessoas. Por isso, é importante a mobilização de todos e nós vamos intensificar com todas as outras secretarias que estão nesse comitê essas ações a partir de agora", enfatiza a secretária.

    Baixa

    Segundo a secretaria municipal de Saúde de Niterói, os números apontam a redução de cerca de 70% dos casos de dengue, 60% de chikungunya e 40% de zika nas áreas onde houve a intervenção entomológica.

    Os casos foram caindo ano a ano. Em 2015, ano da implantação do projeto, foram confirmados 158 casos de dengue em Niterói. Em 2016, foram 71, em 2017, 87.

    Em 2018, houve um aumento para 224 pacientes confirmados com a doença, mas o número caiu no ano seguinte, quando foram registrados 61 casos. A partir de 2020, com 85 casos, os números caíram a cada ano, com 16 em 2021 e 12, em 2022. Em 2023, foram confirmados 55 casos de dengue na cidade. Até o momento são cerca de 30 casos suspeitos.

    O trabalho foi iniciado em 2015 com uma ação piloto no bairro Jurujuba. Em 2017, o método Wolbachia chegou a 33 bairros das regiões das praias da Baía e Oceânica. Em 2023, Niterói se tornou a primeira cidade brasileira com 100% do território coberto pelo método Wolbachia.

    Mesmo com o Wolbito, o município não abandonou as ações de prevenção e monitoramento, que são realizadas ao longo de todo o ano.

    “É um trabalho contínuo, não para. Nós temos 300 agentes de endemias que fazem visitas em 5 mil imóveis diariamente. A gente tem um grupo que visita só imóvel abandonado. Eles conseguem entrar em imóveis que ninguém tem acesso. A gente visita porque tem muitos focos de mosquitos. Nessa época, aumentam as denúncias da população, mas é um trabalho rotineiro, durante todo o ano”, explica, Schneider.

    O método, que tem origem na Austrália, é aplicado no Brasil porque o país integra, desde 2014, o rol de 11 países que compõem o Programa Mundial de Mosquitos, em inglês World Mosquito Program (WMP).

    No Brasil, é conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com financiamento do Ministério da Saúde em parceria com governos locais. Atualmente, as cidades já incluídas na pesquisa são Campo Grande (MS), Petrolina (PE), Belo Horizonte, Niterói e Rio de Janeiro.

    Este ano, o método chegará a mais seis cidades: Natal, Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC).

    Ações de combate

    O método, no entanto, não tem resultado imediato e precisa ser associado a outras ações para combater a doença.

    “O método Wolbachia não é um método de ação imediata, como é um inseticida, por exemplo, que você aplica e mata o mosquito. A Wolbachia é preventiva. A gente precisa cobrir um território, aguardar esse estabelecimento dos mosquitos. Acaba sendo algo preventivo, de médio prazo, porque a gente precisa estabelecer, fazer todo o processo e aguardar um tempo para que os resultados sejam vistos”, explica o líder de operações da WMP Brasil, Gabriel Sylvestre.

    Esforço coletivo

    Segundo ele, em cerca de 2 anos, é possível observar os resultados do método. No entanto, ele não deve ser a única forma de combate à dengue e às demais doenças.

    “O método Wolbachia não pode ser pensado de uma forma única. É preciso que haja esse esforço coletivo, tanto do poder público quanto da população. Aí a gente entra como mais uma força nesse combate”, enfatiza.

    Apesar de também ter recebido o Wolbito, a cidade do Rio de Janeiro está em situação diferente da do município vizinho. A cidade declarou situação de emergência devido ao aumento do número de internações por suspeita de dengue.

    No Rio, o Wolbito foi liberado apenas em algumas regiões e não em toda a cidade como em Niterói.

    “São dados muito complexos de serem analisados. Isso vai depender, em grande parte, da dimensão do projeto. Em Niterói, a cidade inteira participou do projeto. Então, toda a cidade, cada bairro, tem Wolbito estabelecido. Isso garante uma proteção na cidade como um todo. O impacto acaba sendo mais relevante, mais forte do que em uma cidade com a complexidade que tem o Rio de Janeiro. E a gente não conseguiu chegar em grandes proporções da cidade do Rio ainda”, explica Sylvestre.

    Estado

    O Estado do Rio de Janeiro segue com crescimento de casos prováveis de dengue. De acordo com o último boletim epidemiológico já são 49.405 casos notificados este ano (até 19 de fevereiro), número que já alcança os 51.501 registrados em 2023 inteiro.

    A incidência de dengue atual é de 308 casos por 100 mil habitantes e apesar do RJ estar no nível 2 de ativação do plano de contingência (risco iminente), algumas regiões, como a Metropolitana I (Capital e Baixada Fluminense) tiveram crescimento maior do que o esperado por três semanas consecutivas e atingiram o nível 3 (epidemia) por isso o governador decidiu antecipar decisão do decreto de epidemia.

    A SES-RJ está ampliando as salas de hidratação em 11 UPAs estaduais. Além disso, a secretaria montou polos de hidratação em 11 municípios, para onde enviou insumos, medicamentos e equipamentos.

    A instalação do ponto é feita de acordo com a demanda dos municípios. Há mais 12 pedidos em análise pela secretaria, que possui capacidade para acomodar 80 polos de hidratação em todas as regiões do estado.

    Vacinas

    O primeiro lote das vacinas contra a dengue será entregue ao estado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (22). São 231.928 doses que serão enviadas à Central Geral de Armazenamento da Saúde RJ. O público alvo são adolescentes entre 10 e 14 anos, da Região Metropolitana I, que inclui a capital e municípios da Baixada Fluminense.

    "A decretação da epidemia é importante para que possamos atuar de forma mais precisa e segura com as ações necessárias de combate à dengue e que nada falte à população. A nossa decisão foi feita de acordo com os dados da doença em todo o estado. Em mais de 60 cidades há aumento dos casos da dengue por três semanas consecutivas, sendo fundamental para implementarmos a situação emergencial. Além disso, o decreto agiliza a compra de insumos e diminui a burocracia quando temos necessidades imediatas", destacou o governador Cláudio Castro.

    Com informações da Agência Brasil

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