Tradição
Jurujuba pode ter a última geração de pescadores
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No bairro de Jurujuba, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, a vida dos pescadores é moldada pelo mar e pela tradição que vem sendo passada de geração em geração. Neste sábado (29), dia dedicado a São Pedro, padroeiro da categoria profissional, eles compartilham não apenas suas rotinas intensas, mas também suas preocupações sobre o futuro incerto da pesca na região.
Para Luiz Henrique Salema, de 51 anos, e Pierre Cabral, 36, a pesca é muito mais do que uma fonte de renda. Os pescadores artesanais, nascidos e criados em Jurujuba, veem na profissão uma maneira de expressar sua identidade e relação com o mar, além de compartilhar boas histórias.
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Temos uma ligação profunda com o mar e com São Pedro.
"A pesca não é apenas um trabalho para nós, mas uma parte essencial de nossa identidade e vida. Temos uma ligação profunda com o mar e com São Pedro, nosso padroeiro. É através da pesca que vivemos e sustentamos não só nossas famílias, mas também nossa conexão com a natureza e com nossa história", conta Pierre, que já está na pesca há mais de 20 anos.
Henrique Salema compartilha desse mesmo sentimento. Com uma trajetória construída através da pesca por gerações, ele está no ramo há mais de 40 anos. Onde muitos veem redes, peixes e barcos, Henrique enxerga amor, tradição e uma oportunidade de se conectar à natureza.
É mais do que um trabalho; é parte do meu ser.
"A pesca tem sido parte essencial da minha vida desde os meus 7 anos, seguindo uma tradição familiar que atravessa mais de três gerações. Já tentei afastar-me dela, mas o amor pelo mar sempre me trouxe de volta. É mais do que um trabalho; é parte do meu ser. Não consigo imaginar minha vida sem a pesca", compartilhou ele.
Dia a dia dos pescadores
A rotina de trabalho deles é intensa. Antes mesmo do sol nascer, Henrique e Pierre já estão no mar. Segundo eles, as jornadas de pesca costumam durar de sete a 15 horas, com toda a equipe empenhada a bordo.
É um trabalho de equipe, onde cada um contribui.
"Nossa rotina de trabalho é intensa. Saímos para o mar de madrugada, principalmente aos domingos, em busca do nosso sustento. Após uma jornada árdua, vendemos nosso peixe, onde dividimos o lucro entre a tripulação e os donos do barco. É um trabalho de equipe, onde cada um contribui para o sucesso da empreitada", relata Pierre.
O mar não é apenas nosso local de trabalho; é nossa casa.
Henrique complementa: "Passamos mais tempo no mar do que em casa. É lá onde nossa vida acontece, onde encontramos nosso sustento e nossa identidade. O mar não é apenas nosso local de trabalho; é nossa casa, nossa fonte de vida e nossa conexão com tudo o que somos".
Desafios da profissão
Contudo, segundo eles, a continuidade da profissão está sendo ameaçada em Jurujuba, um bairro marcado pela pesca e pelo mar, onde hoje restam apenas poucos que conseguem viver da pescaria. Pierre, por exemplo, teme que esta seja a última geração de pescadores na região.
Tenho medo que possamos ser os últimos a seguir nesse caminho.
"Sou o mestre mais novo aqui, e estou preocupado se haverá alguém para continuar nossa tradição depois de mim. Não há incentivo suficiente para manter viva a vida dos pescadores em Jurujuba. Estamos vendo a diminuição da pesca nesta região, e tenho medo que possamos ser os últimos a seguir nesse caminho que faz parte da nossa identidade e sustento", compartilhou ele, com tristeza.
Para Henrique, a situação também é complicada. Ele revela a tristeza ao saber que seu filho não conseguirá seguir o mesmo caminho, embora também tenha uma relação muito profunda com o mar.
É triste ver essa tradição que passou por gerações estar em risco.
"Eu queria tanto que meu filho, que tem 29 anos e adora a pesca, pudesse continuar nosso legado aqui em Jurujuba. Mas não há incentivo suficiente para garantir isso. É um trabalho árduo e incerto, e o futuro da pesca na nossa região está cada vez mais comprometido. É triste ver essa tradição que passou por gerações estar em risco", enfatizou o pescador.
Fiscalização e restrições
Ainda segundo eles, outro problema que tem prejudicado a continuidade do serviço em Jurujuba é o rigor das fiscalizações e as multas aplicadas. Há áreas, por exemplo, restritas para pesca, o que prejudica a atividade tradicional.
Muitas áreas onde tradicionalmente pescávamos agora estão proibidas.
"A pesca está se tornando cada vez mais difícil para nós devido às restrições severas, multas pesadas e à falta de incentivos. Muitas áreas onde tradicionalmente pescávamos agora estão proibidas, o que compromete nossa capacidade de sustentar nossas famílias e manter viva nossa tradição. É um desafio constante enfrentar essas barreiras enquanto lutamos para preservar nossa forma de vida", compartilhou ele.
São Pedro: motivação e esperança
Mesmo diante de tantas dificuldades, os pescadores destacam a importância que a pesca continua tendo em suas vidas. Em especial, a imagem de São Pedro, o padroeiro, que traz uma esperança e uma motivação para continuar. Neste sábado, Henrique levará a imagem em seu barco pela primeira vez.
É através dele que nossa comunidade vive e prospera.
"Para mim, levar a imagem de São Pedro pela primeira vez em nosso barco é uma honra e um momento de grande significado. São Pedro não é apenas nosso padroeiro, mas uma figura que representa nossa conexão profunda com o mar. É através dele que nossa comunidade vive e prospera", conclui Henrique.
Programação em Niterói
Este fim de semana, acontecerá, em Niterói, a tradicional Festa de São Pedro, em Jurujuba, com programação até domingo (30), com barraquinhas de comidas tradicionais, shows, procissões, missas e barqueata na Baía de Guanabara.
O evento, que é realizado na cidade há 128 anos, teve início nesta sexta-feira (28) com barraquinhas e shows. Já neste sábado, a programação começou às 5h com missas e bênçãos na igreja.
As procissões começaram a ser realizadas posteriormente, ocorrendo há 103 anos, e desta vez não será diferente. A imagem do Santo Padroeiro será conduzida da Igreja até o Cais, a partir das 10h, e logo depois, chegará à embarcação, onde irá navegar em uma barqueata até o Museu de Arte Contemporânea de Niterói (MAC) e depois retorna à Fortaleza de Santa Cruz, em Jurujuba.
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