Gratidão
Idosos centenários em Niterói: histórias e lições de longevidade
Especialistas e familiares compartilham segredos da jornada
Vez ou outra, sabemos de idosos que completam 100 anos, ou até passam dessa marca. Muitos deles, ao longo de suas vidas, conseguem manter rotinas saudáveis, tendo uma boa qualidade de vida. Mas quantos existem? De acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em Niterói, por exemplo, de uma população de 481.749 habitantes, há 162 idosos centenários, o que representa 0,03% da população total da cidade. Entre eles, dona Maria Estela de Alencar Sant'Anna, que completou o centenário em maio deste ano.
Mas quais são os fatores que contribuem para essa longevidade? Quais os aspectos hereditários, mentais e sociais que levam a essa longa jornada? Quais os desafios enfrentados por profissionais, familiares e os próprios idosos? O ENFOCO conversou com especialistas, institutos e, também, com a dona Maria Estela e a sua família para entender os fatores pertinentes.
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Uma lição de vida e amor
Maria Estela de Alencar Sant'Anna é uma das idosas centenárias da Cidade Sorriso. Com 100 anos completados em maio deste ano, ela tem uma longeva jornada, recheada de histórias. Maria nasceu em Juazeiro do Norte, no Ceará, e se casou aos 14 anos de idade com Josias de Sá, de 26, em 1938. Logo depois, foi morar no Paraná, onde ficou por alguns anos. Em 1946, chegou em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde reside até hoje.
O marido foi trocador de bonde, na Rua Desembargador Lima de Castro, no Fonseca, zona norte da cidade. Ela, no entanto, sempre se dedicou ao lar e aos 13 filhos que teve no casamento. O matrimônio durou 74 anos até o falecimento de Josias, em 2006. Sua filha Angelita, de 73 anos, descreveu Maria Estela como 'uma lição de vida'.
"Mesmo com todos os filhos, minha mãe ainda teve tempo de vender cocadas e picolés aqui na rua. Foi com esse dinheiro que ela construiu uma parte de nossa casa", contou.
De maneira bem-humorada, Maria, outra filha, com 81 anos, fala da mãe como "tudo o que tem", e atribui a boa saúde e longevidade aos hábitos que teve ao longo da vida e brinca com a origem da mãe.
"A irmã dela, Maria do Socorro, também está perto. Atualmente mora em São Paulo e está com 98 anos. Acho que essa longa jornada é porque elas são cearenses, é coisa de nordestino. Brincadeiras à parte, a mãe quase nunca consumiu nada industrializado. Meu pai tinha criação de porcos e galinhas, roçava cana e, inclusive, só bebíamos leite de cabra ou vaca", disse Maria.
A idosa também tem outros três irmãos, são eles: Antônio, que saiu de casa muito cedo e nunca mais retornou, nem houve notícias sobre. As outras duas irmãs, Maria Nazaré e Alda já faleceram.
O segredo da longevidade
Katia Pedreira é especialista em Geriatria pela Sociedade Brasileira de Geriatria (SBG), fisioterapeuta e professora na Universidade Federal Fluminense (UFF). A profissional falou sobre os fatores que podem levar à longevidade, incluindo aspectos de saúde e sociabilidade.
1) Quais são os principais fatores que contribuem para a longevidade dos centenários que você já acompanhou?
- Isso é multifatorial. A hereditariedade é um desses fatores, mas sabemos que o estilo de vida faz uma enorme diferença para manter a pessoa com qualidade por muito mais tempo. Boa alimentação, exames em dia, dieta equilibrada e ir a um profissional sempre. É fundamental fazer atividades de acordo com sua faixa etária, disposição e capacidade hemodinâmica. Uma vida social também é importante. Interagir, participar de grupos e manter a leitura e cognição em dia. Por fim, acima de tudo, é importante manter a fé, acreditando que você terá uma vida feliz e saudável.
2) Quais são os desafios mais comuns de saúde mental enfrentados por centenários, como são tratados, e como o suporte social e emocional influencia a saúde e o bem-estar dos centenários?
- Quando envelhecemos, manter amizades é fundamental, pois perdemos muitos amigos ao longo da vida e é fundamental que façamos novos ciclos. Seja para alguma atividade física, dança, encontros, poesia, não importa. Manter esses núcleos é fundamental. No lado cognitivo, é preciso falar sobre o estímulo ao cérebro, fazendo atividades que irão me estimular, desafiar, me mostrar coisas novas, como aprender inglês, um novo instrumento. Outro fator são os jogos atuais que envolvem atenção, cognição, memória e raciocínio. Exercícios aeróbicos e cardiovasculares também são imporntantíssimos, pois aumentam o fluxo de oxigênio e sangue no organismo, favorecendo o cérebro. Por fim, o suporte familiar é o ponto-chave, pois ninguém vive só.
3) Que conselhos a senhora daria para pessoas mais jovens que desejam envelhecer com saúde e alcançar uma idade avançada como os centenários?
- É necessário saber como está sua saúde social, biológica, emocional e sua fé. Você está sabendo lidar com todos esses fatores? Estamos muito cercados de informações nessa era, somos bombardeados a todo instante e precisamos tomar cuidado com os excessos. Meu conselho é: faça muitos excercícios, coma bem, beba com moderação, seja feliz e agradeça o que você tem. Seja otimista, prudente e regrado. Cuide do corpo, mente e espiritualidade hoje, pois se você quer envelhecer bem, é preciso zelar pela sua saúde agora!
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