Niterói
Entramos no único prédio 100% residencial da Amaral Peixoto; conheça
Edifício tem 72 apartamentos com muita história

Em meio à agitação do Centro de Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde o barulho dos veículos, o vaivém apressado dos pedestres e o entra e sai nos comércios e órgãos públicos que fazem parte do cenário diário, você sabia que existe um prédio inteiramente residencial na principal via da cidade, a Ernani do Amaral Peixoto? A avenida, aliás, está prestes a passar por projeto de revitalização anunciado pela Prefeitura para tornar a região mais moderna e voltada para lazer, convivência e mobilidade.
Com 12 andares e 72 apartamentos (seis por andar), o edifício Maximiliano existe há 65 anos e abriga histórias de muitas famílias, misturando a rotina da tranquilidade doméstica com a intensidade da vida urbana. Logo na entrada, por exemplo, na mesa da portaria, fotos antigas de Niterói chamam a atenção.
“Tem gente que entra aqui e viaja no tempo com as imagens da cidade. A gente faz questão de manter essa memória viva”, contou a síndica e advogada Ana Paula Cleven, de 52 anos, que mora ali há mais de 10.
Do lado de fora, motoristas buzinam, camelôs anunciam seus produtos e clientes fazem fila no banco. Do lado de dentro, há silêncio nos corredores, cheiro de café nas manhãs e o som do interfone chamando para mais uma entrega.
O professor universitário Glaudston Silva de Paula, de 38 anos, que vive no edifício desde 2006, recorda o momento que chegou.
“Me recordo como se fosse hoje, um lugar com muitas pessoas em trajeto. Me sentia engolido por tantos prédios e um ritmo de vida totalmente diferente, mas era animador diante das novas possibilidades que se abriam para mim. Saído de uma cidade pacata, onde todos se conheciam, me deparei com pessoas falando alto, vendendo produtos variados e muitas lojas que se somavam a bancos, farmácias, etc", lembrou.

Apesar da movimentação intensa, ele destaca a segurança e a tranquilidade que encontrou no prédio.
“Há realmente um fator curioso, por mais que o comércio em grande escala e as demais atividades que ocorrem na avenida, a particularidade do prédio ser exclusivamente residencial remete a conforto. Esse ponto foi crucial para meus pais, uma vez que pude encontrar mais segurança. Apesar da rotatividade de pessoas em torno, o prédio era constituído por famílias e pessoas que traziam a sensação de segurança”, disse.
Amor à primeira vista
A aposentada Angelina Fernandes, de 66 anos, é uma das moradoras mais novas do prédio, em tempo de residência. Ela e a filha se mudaram do bairro Coelho, em São Gonçalo, para o Centro de Niterói há 10 meses, e foi o Maximiliano que conquistou as duas logo de cara.
Quando a gente soube que o prédio era só residencial e bem tranquilo, com moradores antigos e muitos estudantes, não teve dúvida. Era aqui mesmo
O contraste com a antiga casa, que ficava próxima à RJ-104, foi grande. “Lá era barulhento. Aqui, apesar de ser Centro, a qualidade de vida melhorou demais. Tem posto de saúde do lado, tudo perto, transporte fácil... não dá nem pra comparar”, afirmou Angelina, com entusiasmo.
Ela diz que acordar e já ter farmácia, supermercado, padaria e ponto de ônibus ao alcance de poucos passos é um privilégio.

“Eu costumava pegar duas conduções pra ir ao médico. Agora, atravesso a rua. Minha filha faz faculdade no Centro também, então tudo ficou mais prático”, contou.
Histórias inusitadas
As histórias do prédio são um capítulo à parte. Uma das mais inusitadas foi de um gatinho que dormia numa caixinha no corredor de um dos andares e criava uma operação resgate pelo edifício.
“Os tutores deixavam o bichano lá fora porque ele fazia bagunça dentro de casa. Às vezes ele sumia e virava uma operação de resgate pelo prédio. Depois se convenceram que lugar de gato é dentro de casa, com a família”, relembra Ana Paula.

Para quem vive há quase duas décadas no local, como o professor, cada andar guarda uma lembrança, cada vizinho marcou de algum modo. A convivência entre gerações sempre foi algo muito presente no prédio, criando laços de afeto e apoio entre moradores que, muitas vezes, mal se conheciam no início, mas que com o tempo passaram a se enxergar como família.
Há inúmeras histórias peculiares. Porém, gostaria de enfatizar que os idosos, alguns já falecidos, sempre ‘adotavam’ os mais novos, como no meu caso, quando chegavam aqui. Já tive muitas mães, avós, nesse lugar, que dividiram suas histórias, alegrias e angústias comigo
Entre as lembranças, uma em especial ainda mexe com a memória do professor, mesmo misturada a um certo tom de saudade.
“Residiu por muitos anos uma senhora que me confidenciava sua ansiedade em saber sobre quem estava chegando de visita nos apartamentos. Como nos tornamos amigos, ela me disse, certa vez, que ficava atrás das portas nos corredores escutando para saber se era visita que tinha chegado. Achava engraçado, mas era uma forma dela lidar com a solidão", lembra com carinho de uma vizinha.
Espaço de cara nova
Com o projeto de revitalização da Avenida Amaral Peixoto no horizonte, moradores do prédio Maximiliano estão de olho nas mudanças que vêm por aí. A ideia da Prefeitura é transformar a via num espaço mais moderno, voltado para lazer, convivência e mobilidade.
De acordo com a administração municipal, o objetivo é modernizar e valorizar a avenida mais conhecida de Niterói, tornando-a mais segura, sustentável e bonita para todos.

As intervenções pretendem ainda melhorar as condições de circulação de pedestres, com aumento das áreas livres das calçadas, priorizar o transporte público e aumentar a biodiversidade local, valorizando o paisagismo com o plantio de mais árvores e uso de vegetação nativa, incrementando também a estética e o comércio da região.
Para a síndica Ana Paula, o plano traz esperança. “As calçadas estão em péssimo estado. Isso vai melhorar a acessibilidade, principalmente para idosos e cadeirantes. Fora que pode atrair mais comércio e vida para a rua”, disse.
Pode trazer o retorno da abertura de lojas, mas desde que agregada à segurança através da Guarda Municipal e Niterói Presente, além de investimento para que pessoas em situação de vulnerabilidade e que residem na rua possam de fato ser acolhidas, receber oportunidade de trabalho e atendimento médico adequado para casos de maior complexidade
Glaudston também vê a revitalização com otimismo. "Sem dúvidas. Teremos mais segurança pública, iluminação, limpeza, o que poderá valorizar os imóveis atraindo mais pessoas para a região", disse.
Ele acrescenta que o prédio, por ser exclusivamente residencial, com a reurbanização da Amaral Peixoto, ele se tornará ainda mais atrativo.
“O edifício Maximiliano com a característica de ser exclusivamente residencial gera mais qualidade de vida, atrelado à segurança e conforto", completou.
Em outubro do ano passado, a Prefeitura esclareceu que a obra da Avenida Amaral Peixoto é mais uma etapa do pacote de intervenções na região central da cidade que vem sendo realizado nos últimos anos, como a entrega da Avenida Marquês de Paraná, a urbanização do entorno do Caminho Niemeyer e, recentemente, a inauguração do Parque Esportivo da Concha Acústica.


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