Condições precárias
'Não existe sinalização', reclamam motoristas sobre a BR-493
Sete pessoas de uma família morreram na altura de Guapimirim
A BR-493, no trecho Manilha-Magé, é motivo de preocupação para motoristas que circulam a via diariamente. Foi nessa rodovia que, no Km 12, houve um acidente envolvendo um caminhão e um carro de passeio no último fim de semana que matou sete pessoas de uma família, incluindo quatro crianças. Outros dois adolescentes foram socorridos com vida e estavam no hospital, mas um deles teve, segundo a unidade de saúde, teve decretada a morte cerebral nesta segunda (20).
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O ENFOCO foi até a rodovia e ouviu alguns motoristas. Dentre as reclamações sobre a via, a falta de conservação e de iluminação são as questões que mais preocupam.
O autônomo Ricardo Peixoto, de 23 anos, passa pela via constantemente com a van de sua igreja. "A via está bastante precária. Já quase sofri um acidente. Uma vez estava passando por aqui e um caminhão, que estava na minha frente, passou por um buraco. Eu não vi o buraco e, quando eu fui desviar dele, quase acabei me acidentando por já estar quase em cima. A pista está precária, vira e mexe acontece isso. Hoje (terça) mesmo, quase aconteceu isso novamente comigo. Já vi muitos acidentes aqui e muitos com vítimas", contou.
O motorista de aplicativo Sebastião Fagundes, 54, mora em Itambi, Itaboraí, e, por isso, pega a BR-493 todos os dias. "Não tem nenhuma iluminação nessa via. Desde o primeiro quilômetro até Magé, salvo algumas áreas mais habitadas que tem luz por serem habitadas. Mas fora isso, a iluminação não existe. Assim como também não existe a sinalização, nenhuma, nem placas avisando nada. Tem que melhorar tudo isso. Há alguns meses, eu estourei um pneu aqui em um buraco enorme e, nesse mesmo dia, enquanto eu estava trocando os meus pneus, isso aconteceu com mais quatro carros, fora os acidentes que já presenciei com vítimas fatais", afirmou.
Rodolfo Rizzotto, coordenador do SOS Estradas, programa que tem como objetivo reduzir os acidentes e aumentar a segurança nas rodovias, também comentou sobre o ocorrido. "É evidente que cabe às autoridades oferecer uma rodovia em condições de sinalização, pavimentação, sem desnível e compatível com o volume de tráfego e de veículos que circulam por ela. Por outro lado, é preciso também que tenha uma fiscalização rigorosa do comportamento dos condutores, o que também é responsabilidade da autoridade, mas cabe aos condutores, ou seja, a todos nós, respeitarmos a legislação de trânsito, a sinalização, ou seja, aquilo que sabemos que devemos cumprir para ter uma direção segura", disse ele.
Rodolfo ainda citou que é necessário que as autoridades também fiscalizem a empresa para a qual o motorista envolvido trabalha. "No caso específico do que ocorreu na BR-493, precisamos apurar a responsabilidade da empresa porque segundo a Polícia Rodoviária Federal que autuou o condutor após a colisão, ele estava sobre excesso de jornada e, por isso, foi autuado e não é comportamento espontâneo do trabalhador, geralmente é uma pressão da empresa ou do dono da carga. Então, nesse caso, é preciso apurar, segundo o Ministério Público do Trabalho e dos auditores fiscais, uma investigação na empresa para ver se é uma exceção ou caso isolado ou se existe uma exploração dos motoristas que levam à condição de fadiga que pode provocar um movimento brusco como o que ocorreu na rodovia. É preciso verificar também as condições de manutenção do veículo que também não é atribuição do motorista, mas do proprietário do veículo. Não podemos simplesmente responsabilizar o condutor e não verificar essas questões até em respeito às vítimas, às vidas perdidas", pontuou.
Procurado, o delegado Antônio Silvino, titular da 67ª DP (Guapimirim), afirmou que não há nenhuma confirmação de que o motorista do caminhão estava exausto. "Não há nada sobre isso. Surgiu uma história mais cedo de que ele estava com excesso de horas de trabalho, mas a informação não é verdadeira", afirmou ele.
Ainda segundo o delegado, o motorista teria perdido o controle do caminhão ao passar com a roda no desnível que tem entre o acostamento e a pista, quando ele foi tentar segurar o volante, ele "rodou" com a carreta na pista.
Procurada, a empresa responsável pela caminhão ainda não havia se pronunciado sobre o caso até a postagem desta reportagem.
Notas
Em nota, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) lamentou o acidente e afirmou que EcoRioMinas, responsável pela BR-493, deve fazer algumas mudanças na via para a melhoria do tráfego e da segurança.
"A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) lamenta e se solidariza com os familiares das vítimas do acidente entre um carro e um caminhão na BR-493/RJ, ocorrido no último sábado (18). A Agência acompanha as ações da EcoRioMinas, concessionária responsável pelo trecho, e informa que dará todo o apoio necessário nas apurações das causas do acidente e suporte para os órgãos competentes em relação as investigações".
A Agência lembra que a EcoRioMinas assumiu o trecho em setembro de 2022. Desde então, a concessionária está responsável pela realização de serviços emergenciais na BR-493, como reparos no pavimento, sinalização e limpeza. Anteriormente à concessão, o trecho estava sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), sendo assim, algumas intervenções foram inicialmente desenvolvidas pelo órgão.
O atual contrato de concessão prevê a duplicação da rodovia (303 Km), com prazo de conclusão até o quarto ano de contrato, em 2026. Além disso, estão inclusas a implantação de 255 quilômetros de faixas adicionais e 85,5 quilômetros de vias marginais em toda a Rio-Valadares. As grandes obras ainda incluem dispositivos — entre trevos, viadutos, passagens inferiores, alças e retornos — passagens de fauna e alguns quilômetros de ciclovias. Nos trechos urbanos, serão instaladas passarelas de pedestres e pontos de ônibus. Todas as intervenções serão fundamentais para a melhoria do tráfego e segurança em toda a via concedida.
De forma imediata, no trecho onde ocorreu o acidente, a EcoRioMinas vem atuando no reparo do pavimento e sinalização, por exemplo, realizando tapa-buracos, fresagem e recapeamento em alguns trechos.
A ANTT enfatiza que a concessionária está seguindo o cronograma previsto no contrato de concessão, que prevê a entrega das primeiras obras até o quarto ano de concessão.
Já a EcoRioMinas, responsável pela via, confirmou as obras emergenciais desde que assumiu a concessão e que, no momento, trabalho no desenvolvimento dos projetos e obtenção das licenças ambientais para realização das obras.
"Vale ressaltar que de setembro de 2022 a março de 2023, mais de 3.800 toneladas de massa asfáltica já foram aplicadas no trecho entre Magé e Manilha e cerca de 17% de toda extensão já foi recuperada, além dos dois principais acessos a Magé.
O serviço de atendimento ao usuário, como guinchos e ambulâncias, terá início a partir de 22/03 na BR-493, porém no último sábado, dia 18, diante da gravidade do acidente, a EcoRioMinas enviou recursos operacionais para apoiar no local', disse a concessionária em nota.
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