Pega a visão
Juventude se une para evitar problemas climáticos na Baixada
Sem custeio, eles usam métodos próprios para ajudar
Mobilização, atitude, tecnologia e diagnósticos são palavras que resumem bem uma garotada de Queimados, na Baixada Fluminense, que decidiu se unir para tratar questões ambientais que assolam a região.
A história dos colaboradores começa em 2020, após fortes chuvas atingirem a cidade. Neste mesmo período, as eleições municipais estavam em jogo e era o momento de criar uma ponte entre a população e os candidatos que disputavam o cargo de gestor municipal.
Foi assim que oito jovens se uniram, dentre eles a Fabrícia Sterce, jornalista de 25 anos, e criaram uma cartilha, denominada 'Agenda 2030 Queimados', em alusão a da ONU, para apresentar a todos os candidatos. Nela os dizeres 'Qual é a Queimados que a gente quer para os próximos 10 anos', eram as palavras-chaves.
"Em 2020 veio a chuva, não só em 2020 mas quase todos os anos em Queimados, a Baixada Fluminense como um todo, é atingida pelas mudanças climáticas. Em 2020 veio essa chuva e a gente entendia que precisávamos nos mobilizar para ajudar as pessoas. Então a gente, enquanto visão, mobilizamos mais de 100 jovens na cidade", disse Sterce.
A tecnologia virou grande aliada de uma juventude que buscava métodos para ajudar, sem um custo muito alto. Nascia então o Visão Coop, que, como trabalho inicial, teve a árdua missão de mapear as áreas atingidas por problemas climáticos, dividindo em três etapas: bairros afetados, bairros mais afetados e bairros não afetados.
"A gente conseguiu também colocar um drone para poder mostrar a casa das pessoas, porque depois de 3 dias das enchentes, ainda tinham casas que a água chegava até o joelho. Então, a gente entendia que era importante registrar isso, mostrar e arrumar um jeito de fazer alguma coisa a respeito", explicou a jornalista.
Para o cientista social Lennon Medeiros, de 26 anos, um dos articuladores do coletivo, a atuação do Visão traz pontos positivos em territórios emergenciais, em principal nas ações dentro da periferia da Baixada Fluminense.
"A gente detecta uma série de coisas que são problemáticas na periferia da Baixada Fluminense. A maior parte dessas questões tem custo altíssimo de resolução, se for utilizar metodologias tradicionais. Acho que a Visão traz de contribuição é a gente perceber, na tecnologia, nas ferramentas digitais, grandes aliados para diminuir o custo dessas paradas e aumentar a eficiência", disse o cientista.
Projeto Avatar
Com intuito de manter a monitoração dos quatro elementos, o grupo criou um projeto denominado 'Avatar". Através de técnicas caseiras, a galera do Visão consegue detectar a qualidade da água, do ar, monitorar áreas que sofrem com queimadas e as condições do solo.
Para Sterce, a falta de financiamento faz com que eles precisem utilizar a cabeça na busca por métodos eficazes e que cabem no bolso.
Desta forma, um dos métodos que a jornalista explica para conseguir esse feito é utilizar o filtro de barro, como forte aliado, para conseguir detectar 'as impurezas que ficam' na água e, assim, diagnosticar a qualidade.
"Tem a forma tecnológica de fazer esse monitoramento, só que, infelizmente, a gente não tem essa grana nesse momento, então a gente tem que pesquisar outras formas. Tem várias formas que a gente pode identificar e monitorar esses quatro elementos", afirma a jovem.
Futuro
Os próximos passos para a equipe de 17 colaboradores vêm recheados de bons planos. Segundo Fabrícia, um documentário denominado 'Como Sobreviver ao Racismo Ambiental' está sendo preparado e gravado através do edital Fundo Casa.
A ideia é mostrar soluções que moradores de Queimados vem encontrando para impedir que suas casas inundem e impedir, também, impactos de outras crises climáticas. A previsão é de que esse material seja publicado no ano que vem.
Agora falando, especificamente, sobre o futuro que essa galera quer enxergar para o local que chamam de lar, todos são certeiros em dizer o seguinte:
"A gente quer um futuro que as pessoas possam ter dignidade, possam ter uma qualidade de vida. Nós só queremos que as pessoas possam viver, não sobreviver, de forma digna, tendo acesso a direitos básicos. Acreditamos que essa é a condição básica de vida que todo mundo deveria ter", afirmam.
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