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    Jardim do Doador simboliza vida de pacientes que têm órgãos doados

    Publicado 21/04/2019 às 15:41 | Autor: Tiago Souza
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    Hospital Estadual Alberto Torres. Foto: Anderson Justino/Arquivo

    Matheus Damasceno Correia faria 21 anos na última sexta-feira (18), mas um acidente de moto levou-o à morte no ano passado, no Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio, para onde foi levado. Após a constatação da morte encefálica de Matheus, a família decidiu doar os órgãos que salvaram sete pessoas. O ato atendeu a um desejo que Matheus havia manifestado após um amigo, vizinho, morrer também em acidente de moto, seis meses antes, e ter o coração doado.

    Em conversa com o psicólogo Luiz Antônio da Silva, da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplantes (Cihdott) do hospital, o pai de Matheus, Luiz Henrique Correia, aceitou plantar uma muda de jasmim no Jardim do Doador, espaço criado nos fundos da unidade, onde as flores simbolizam a vida de cada paciente que teve os órgãos doados.

    Homenagem

    Correia disse que tem acompanhado o crescimento do jasmineiro. Ele elogiou a equipe da Cihdott do Alberto Torres pela criação do projeto, idealizado pelo psicólogo Luiz Antônio da Silva.

    “Para quem é pai e perde um ente querido, é gratificante, porque se sente muito bem quando sai de lá [do jardim]. A gente sabe como é difícil. Meu filho faria 21 anos. Nós nos sentimos felizes por saber que tem um pedacinho dele (Matheus) ali. O jasmim representa ele, o espírito dele”, disse Correia.

    A cerimônia de plantio da muda de jasmim contou com a presença de 30 pessoas, incluindo familiares de Matheus e de sua namorada, parentes e amigos do jovem. “Toda a minha família saiu de lá com o coração aliviado. É uma atitude muito bonita. Infelizmente, há outros pais que podem passar pelo mesmo processo, mas podem sair dali bem, se sentindo muito feliz”. Luiz Henrique Correia lamentou não ter tido contato ainda com as pessoas que receberam os órgãos do filho. Matheus foi o primeiro doador de pulmão de São Gonçalo, revelou o pai. “Acho que a maior doação de órgãos do estado do Rio foi a dele”, comentou. “São órgãos que as pessoas precisam para sobreviver”.

    Ineditismo

    O Jardim do Doador é um projeto inédito no Brasil e talvez no mundo, disse o psicólogo, que trabalha naquela unidade desde 2013. “Mas o importante é o trabalho realizado ali em prol da sociedade, que precisa ter esclarecimento sobre o significado da doação de órgãos”, completou. Nesse contexto, há dois protagonistas, que são a família e o potencial doador. “Sem o potencial doador, a gente não tem como terórgãos saudáveis e sem a família autorizando, a gente não tem como ter a doação”. Para algumas pessoas, a doação é um ato de solidariedade. Para outras, é demonstração de altruísmo, lembrou Luiz Antônio.

    Órgão vivo

    O psicólogo disse ainda que o Jardim foi criado com esse objetivo: de representar a coragem da família pela escolha da doação de órgãos, enquanto o jasmim plantado na terra significa o órgão vivo que foi transplantado no receptor, que vai crescer e perfumar o ambiente. “Isso é o florescimento humano. A gente está se apropriando de um elemento simbólico e buscando, dentro desse simbolismo, uma perspectiva melhor de apoio para cada pessoa e para nós, da saúde, termos uma vida mais ajustada e mais harmônica”.

    O Jardim do Doador é considerado uma vitória, na medida em que desde a sua criação, em 2014, cerca de 200 jasmineiros já foram plantados no local. As mudas são compradas pela equipe da Cihdott. Luiz Antônio da Silva informou que o HEAT tem índice positivo para doação de órgãos da ordem de 85%. “É um número muito grande”. No Brasil, de acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), a taxa de negativa familiar atingiu 44% por 1 milhão de pessoas entre janeiro e setembro de 2018.

    O Jardim do Doador faz parte da tese de doutorado que o psicólogo vai defender na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e que aborda os valores morais que suportam a doação de órgãos. A atitude é construída por cognição, por afeto positivo ou negativo e pela predisposição. São esses valores que o psicólogo está estudando agora. O Jardim do Doador é uma ramificação da preocupação e do compromisso do hospital não só com os seus usuários, mas com toda a sociedade.

    Fonte: Agência Brasil

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