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    Irregularidades denunciadas nas obras do Parque Orla de Niterói

    Publicado 05/04/2021 às 21:03 | Autor: Ezequiel Manhães
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    Imagem ilustrativa da imagem Irregularidades denunciadas nas obras do Parque Orla de Niterói
    Denunciantes apontam irregularidades provocadas pelas obras do Parque Orla, sob responsabilidade da Prefeitura de Niterói. Foto via Grupo Plantão Enfoco

    As obras do Parque Orla, na Lagoa de Piratininga, virou motivo de dor e tensão entre moradores da região, que fica na Região Oceânica de Niterói. Isso por conta de irregularidades que, segundo denúncias, estariam contruibuindo para alagamentos.

    Entre as reclamações está a obstrução da foz dos rios Arrozal, paralelo à Rua 34, e Jacaré. Além disso, moradores de casas construídas nos arredores das comunidades da Barreira e Ciclovia reclamam de vazamentos de esgoto.

    As reclamações já foram parar na Comissão de Saúde e Bem-Estar Social da Câmara de Niterói, ainda na gestão do então prefeito Rodrigo Neves, quando um ofício foi entregue ao Executivo.

    Segundo a Comissão, o pedido será reiterado ao prefeito Axel Grael (PDT) e novamente comunicado ao Ministério Público, sob ameaça de medidas mais drásticas.

    De acordo com o comitê, as obras do Parque Orla na Lagoa de Piratininga criaram áreas de aterro para construção dos jardins filtrantes e obstruíram a foz dos rios e o caminho das águas pluviais.

    As rápidas chuvas que caíram em Niterói, no final deste mês de março, por exemplo, teriam sido suficientes para entupir tubulações e provocar transtornos para moradores.

    "Toda vez que chove acontece isso. Tem mais de um ano. Estou gastando luz para colocar bomba e colocar a água para fora. Ninguém resolve. Isso também tem acontecido nas outras casas de outros vizinhos. A prefeitura vem, desentope os outros bueiros e volta tudo, fica por isso mesmo"

    Aparecida Ventura, de 57 anos, moradora

    Em dezembro último, moradores sofreram com alagamentos e tiveram perdas de bens materiais, já que as águas acabaram retornando para dentro das residências pelo extravasamento do rio com sua foz bloqueada.

    Esse foi o caso da Maria da Cruz, de 53 anos. Ela mora com o marido e dois netos adolescentes.

    "Essa obra do Parque Orla que começou tudo isso. Tamparam a entrada do esgoto que ia para a lagoa. Eu moro aqui há mais 40 anos e isso nunca aconteceu. Em dezembro o valão encheu e invadiu a casa da gente. Eu perdi tudo"

    Procurado, o MP ainda não prestou esclarecimentos sobre o andamento dos procedimentos adotados pela Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Defesa do Meio Ambiente do Núcleo Niterói.

    "Em nossa visita pudemos observar nas paredes os indícios de que o alagamento alcançou a altura aproximada de 50 cm e, em outros locais próximos, segundo relatos dos moradores, o alagamento alcançou até 1 metro dentro das casas"

    Paulo Eduardo Gomes, vereador presidente da Comissão de Saúde de Niterói

    Mapa dos estragos

    Foto: Reprodução

    Segundo a Comissão de Saúde, toda a área em amarelo alaga, porém sem invasão de água dentro das casas. Já nas áreas em vermelho ocorre alagamentos nas casas.

    1 - Área onde o Rio Arrozal foi fechado. Ruas Dr. Helio Rosa (35), Dr. Duque Dias Siqueira (34) e Dr. Sebastião Cheferino (33). Com o alagamento do Rio Arrozal, a água entrou em casas vindo pela porta e através do esgoto;

    2 - Rua Dr. Dióscoro Maia Vilela (28), moradores relatam constantes alagamentos. Água chegou a 1 metro dentro da casa da moradora;

    3 - Rua Dr. Gérson Gonçalves (26), uma casa alagada;

    4 - Rua Dr. João Valentim Tavares (25), Caminho Novo e Beco da Paz, seguidos alagamentos, dizem moradores;

    5 - Rua 22, alagamento em casas, pouca informação.

    Integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio tanbém visitaram a região e acusam irregularidades.

    Inicialmente foram percorridas ruas da Comunidade – partindo da rua 34, ou Rua Doutor Duque Pereira Siqueira, em direção à Lagoa e, seguindo pela Avenida da Ciclovia Chico Xavier, depois voltando à Avenida Raul de Oliveira Rodrigues (Avenida Sete) pela Rua 26, ou Doutor Gerson Gonçalves.

    Na ocasião a Comissão também se dirigiu a uma área próxima à comporta do Canal de Camboatá, onde estava sendo colocado o bota-fora removido da Lagoa.

    De acordo com a Comissão da Alerj, o material é instável, depositado em montanhas à beira do Canal, e existe o risco de deslizamento sobre o leito, principalmente em ocorrência de chuvas, obstruindo o fluxo. Do outro lado da margem, foi observado um depósito de resíduos sólidos.

    Para a Comissão, os resíduos seriam da mesma empresa que colocou um container, sobre área pública municipal, assim como, depósito de lixo.

    O ofício encaminhado à prefeitura pede para que além de garantir o necessário ressarcimento às famílias pelas perdas de bens materiais, ocorra a desobstrução das desembocaduras dos rios e a limpeza e desobstrução dos rios Arrozal e Jacaré.

    Também foi solicitado que:

    • Seja realizado cadastro das famílias moradoras da Comunidade Barreira/Ciclovia com a identificação dos bens perdidos em função do alagamento, a fim de que o Poder Executivo promova o adequado ressarcimento às famílias, especialmente porque esta área não havia sido alagada em chuvas anteriores às obras da Parque Orla;
    • Remoção imediata dos resíduos sólidos e do bota-fora da obra, ainda depositados na região, tanto em área pública quanto privada (terreno com container e lixo);
    • Readequação dos leitos das ruas que foram alterados por sucessivos aterros que elevaram o nível da caixa da rua em relação às casas, cada vez mais baixas, como, por exemplo, na Rua 28, onde quando chove, o excesso de água no rio, inevitavelmente corre para o ponto mais baixo, ou seja, para dentro das residências.

    Justificativas

    A Coordenação do Programa Região Oceânica Sustentável (PRO Sustentável) informa que a denúncia apresentada trata da situação específica, ocorrida na noite do dia 7 de dezembro do ano passado, quando foi constatado um volume pluviométrico acima da média na região.

    De acordo com a Defesa Civil do Município, as chuvas intensas tiveram volume superior a 80mm. O órgão confirmou que em função desta situação, algumas casas localizadas no entorno da Lagoa tiveram alagamento.

    A Coordenação do PRO Sustentável reforça que o problema de enchentes é recorrente nesta área, porém, disse que atualmente, a Prefeitura de Niterói, através de licitação feita pelo PRO Sustentável, contratou empresa para a elaboração do projeto executivo de Saneamento Ambiental, com o objetivo de solucionar os problemas hidráulicos e sanitários relatados pela comunidade da Ciclovia.

    'Vale ressaltar que o fluxo do Rio Arrozal não foi interrompido pelas ações da obra do Parque Orla Piratininga (POP). A empresa responsável pela obra, inclusive, e a Seconser realizaram ações que auxiliaram no aumento da área de escoamento existente na foz do Rio Arrozal, solicitadas pela Prefeitura, assim como a limpeza do canal de Cintura em determinados trechos', justifica a prefeitura.

    A Secretaria Municipal de Assistência Social e Economia Solidária confirmou o relato da dona Maria da Cruz e informou que, em dezembro de 2020, quando houve o alagamento das residências, enviou assistentes sociais ao local para verificar a necessidade dos moradores e distribuiu cestas básicas.

    Em relação aos resíduos oriundos da supressão e escavação da obra do Parque Orla Piratininga, a Coordenação do PRO Sustentável esclarece que os resíduos que estão sendo gerados são da própria margem da lagoa, oriundos da supressão da vegetação e do material de escavação.

    'O material foi analisado pelo Consórcio Orla Verde antes de sua retirada e disposição, sendo classificado pelo Laboratório INOLAB como CLASSE II A – resíduo não perigoso não inerte'.

    A prefeitura informou, ainda, que o laboratório possui a Certificação Ambiental ABNT/ISO/IEQ 17025:2017, que garante a qualidade dos resultados das análises, de acordo com a Norma NBR 10004. O resíduo proveniente da escavação não apresenta exalação de odores e nem atração de vetores.

    Quanto à possibilidade de impactos à população residente no entorno, o governo municipal disse que foi realizada comunicação prévia ao líder comunitário local, e o terreno utilizado encontra-se cercado e faz parte da área, licenciada, de implantação POP.

    Atualmente, a prefeitura revelou que está realizando processo de licitação para a destinação adequada desse material sem prejuízo à saúde das pessoas e com proteção ao meio ambiente. No entanto, não esclarece o destino provisório do material descartado, que segue no mesmo local.

    'Logo, esta deposição se faz em caráter temporário, necessária para que a empresa contratada esteja efetivamente executando os serviços contratados', disse em nota.

    Lixo

    Em relação ao terreno com container e lixo em área privada, a coordenação do PRO Sustentável informa que os mesmos não têm relação com as obras do Parque Orla Piratininga.

    Inundações

    Quanto à solicitação para readequação dos leitos das ruas que foram alterados por sucessivos aterros que elevaram o nível da caixa da rua em relação às casas, cada vez mais baixas, como, por exemplo, na Rua 28, conforme apresentado em denúncia, a Coordenação do PRO Sustentável explica que o Projeto de Saneamento Ambiental da Comunidade da Ciclovia, em elaboração, vem estudando a região para identificar o motivo das inundações e as respectivas soluções.

    No estudo de concepção, elaborado pela empresa contratada, diz a Coordenação do PRO Sustentável, foi possível identificar algumas causas para os alagamentos recorrentes na comunidade, entre eles a rede de drenagem existente na comunidade e nos bairros formais adjacentes.

    'É insuficiente para conduzir o fluxo de água das chuvas e foram identificadas ligações irregulares de esgoto sanitário nas redes de drenagem, o que implica em extravasamento em períodos de chuva forte', esclarece a prefeitura.

    Neste sentido, o projeto de Saneamento Ambiental disse que está desenvolvendo soluções para implantação de novas redes de drenagem, que irão conduzir com eficiência a água das chuvas, e esgotamento sanitário, que promoverá a separação correta dos efluentes.

    O projeto, que tem sua conclusão prevista para maio de 2021, inclui ainda a pavimentação das ruas, reduzindo o material sólido que chega à rede de drenagem prejudicando seu funcionamento.

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