Justiça
'Injustiçada', diz mãe de adolescente atropelado por Bruno Krupp
Família de João Gabriel realizou ato contra a soltura do modelo
“Não foi acidente, foi crime”, “justiça”, “o lugar do Krupp é na cadeia”. Essas foram algumas das frases ditas e escritas em cartazes por familiares e amigos do adolescente João Gabriel Cardim Guimarães, de 16 anos, em um ato que ocorreu na Avenida Lúcio Costa, próximo ao Posto 3, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, neste sábado (1). Esse foi o local onde o adolescente foi morto após ser atropelado por Bruno Krupp em julho do ano passado. O ato pedia por justiça depois da soltura de Bruno da cadeia.
Krupp chegou a ser preso, mas ainda não foi julgado. Após uma decisão do Superior Tribunal de Justiça na última segunda-feira (27), foi concedida a liberdade provisória do modelo. Ele deixou o Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na quarta-feira (29).
A mãe de João Gabriel, Mariana Cardim contou ao ENFOCO o que sentiu quando soube que Bruno seria liberto. Ela se sentiu desrespeita e disse que sentiu como se a vida do seu filho não tivesse valor para a justiça.
“Me sinto injustiçada. Nessa situação toda, não era eu quem estava dirigindo, não fui eu quem passou a 150 km/h numa moto na via e sou eu quem estou pagando o maior preço nessa situação toda. Eu que fiquei sem meu filho, não tenho ele para abraçar diariamente, eu que vi ele ficando exposto em uma pista sem a perna esquerda e o Bruno está bem né? Tão bem, com as duas pernas, que está usando tornozeleira eletrônica. Eu soube que ele seria solto no dia mesmo em que ele saiu, por volta das 6h, quando vi na televisão, me sinto injustiçada”, afirmou Mariana Cardim de Lima, mãe de João Gabriel. Ela também é testemunha do atropelamento do filho.
Desde o dia do acidente, ela vive a base de remédios e ainda não conseguiu voltar para a casa que morava com João, a mãe dela e um tio, que morreu de infarto 20 dias antes da morte de João Gabriel.
“Vemos matérias do advogado do Krupp comemorando a soltura dele e ainda dizendo assim: “foi uma brutalidade o que fizeram com esse rapaz, ele é um homem”. Brutalidade é uma pessoa de 16 anos ter a vida roubada, um menino cheio de planos, de vida, estudioso, amoroso, um filho maravilhoso e se eu pudesse teria ele novamente como filho, começaria tudo outra vez de tão especial que meu filho foi. As pessoas dizem que foi uma brutalidade com o Bruno, mas o que eu digo para descrever minha dor? Qual adjetivo uso para falar do que aconteceu com meu filho? Qual adjetivo uso para não conseguir voltar para a minha casa? Qual adjetivo uso para uma família que foi destruída? Mexeu com a minha família inteira. Queria perguntar ao STJ qual medida eles têm para mim?”, indagou a analista administrativa.
João e a família estavam em um salão de festas em um prédio de frente para a praia na Barra. A festa era para ressignificar a perda do tio de Mariana e reunir a família. “Eu pensei que ia numa festa e voltar para a minha e não consegui. A festa tinha terminado, eu vim molhar o pé na água e colocar o pé na areia da praia. Eu adoro a energia do mar e o João veio me acompanhar e eu infelizmente não consegui fazer a travessia de volta. Aquele dia mudou a minha vida. Eu perdi em menos de um mês duas pessoas que moravam comigo e uma delas era, simplesmente, a pessoa que eu mais amei na vida. Estou sem chão com essa decisão. Sou uma cidadã de bem e tenho direito de ter uma justiça digna”, contou ela que hoje mora num quartinho na casa de uma tia. A família é de Realengo.
O que diz a advogada de Mariana
A advogada Luciane Noira é assistente de acusação do caso. O responsável pelo processo nesse caso é o Ministério Público. Ela também esteve no ato e diz que, como mãe também, entende toda a dor que a soltura do Bruno é para Mariana.
“Vamos continuar perseguindo que ele seja levado a júri, buscando a condenação dele, uma sentença de pronúncia, pronunciando ele para ir ao júri popular e que ele possa ser mantido na prisão. Ainda não há data para esse julgamento. Vamos seguir com a nossa missão que é tentar mudar algo a nível de lei e buscar justiça. O caso foi brutal, a violência do acidente foi inacreditável”, disse ela.
A advogada afirma que Mariana perdeu tudo e indagou sobre a soltura de Bruno. “A Mariana perdeu tudo, a vida dela toda. Ela tinha a casa dela e hoje não mais porque não consegue voltar para casa. Como ela vai se refazer e continuar a vida dela? Eu falo como mãe de uma criança de sete anos, temos que ter empatia e sensibilidade. Ele estava preso há oito meses, como muita gente diz, mas e a Mariana? Que vai sofrer eternamente. A única coisa que a Mariana tinha de consolo era ele estar preso e ele não está mais, porque dinheiro nenhum vai pagar a vida dela e a do filho. Quem garante que ele não vai fazer novamente? E fiscalizar as medidas cautelares que ele tem que cumprir?”, disse.
Medidas cautelares
O pedido de soltura foi aceito pelo ministro Rogerio Schietti Cruz, que ouviu a alegação feita pela defesa do modelo. Dentre os motivos listados estão o de que Bruno sofre coação ilegal pelo TJRJ, que, segundo a alegação, não teria analisado o pedido de soltura com devida atenção, já que a documentação possui novidades, como o fato dele não ser mais réu em um processo em que era acusado de estelionato.
O advogado Ary Litman Bergher, que faz a defesa do modelo, também alegou que ele é réu primário, portador de bons antecedentes e está preso há oito meses.
Entre as medidas que Krupp deverá cumprir em liberdade provisória, estão: o uso de tornozeleira eletrônica, comparecer em juízo mensalmente, ter seu direito de dirigir suspenso (ele está proibido de obter uma nova permissão para dirigir) e deve entregar o passaporte.
Caso alguma das medidas sejam descumpridas, ele retornará para a prisão imediatamente
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