Tristeza
Família denuncia negligência em mortes de grávida e bebê em Niterói
Caso ocorreu neste domingo no Hospital Estadual Azevedo Lima
As mortes de uma jovem grávida e do bebê dela, na madrugada deste domingo (30), na Maternidade do Hospital Estadual Azevedo Lima (Heal), em Niterói, provocaram revolta na família, que acusa a equipe médica de negligência.
Amanda Rocha da Silva, de 17 anos, estava com oito meses de gestação, e esperava por uma menina, que se chamaria Eloá. Ela morava no bairro Jardim Catarina, em São Gonçalo.
Segundo os relatos, a unidade estava dando remédios com dosagens elevadas à paciente, que apresentava sinais de dilatação desde a última quarta-feira (26).
De acordo com parentes, a gestante era impedida de realizar o parto, por estar com 33 semanas. Amanda teve taquicardia, febre e vômitos, desde então, apontam denúncias.
Ao notarem uma piora expressiva nesta madrugada, dizem queixas, o processo de operação cesariana teria iniciado pelos médicos na própria enfermaria. Mas não teve jeito. Amanda e o bebê morreram.
"Ela morreu nos meus braços. Estava desde cedo vomitando água, entrava um e dava injeção, entrava outro e dava injeção. Até que de madrugada ela começou a revirar os olhos, todo mundo saiu correndo e a minha filha morreu", lamentou a mãe Vaneide Santana Rocha, de 49 anos.
Há quatro dias, Vaneide e o esposo acompanhavam a rotina de Amanda no hospital. Tudo o que eles queriam era o parto do bebê, ainda que prematuro, já que os remédios não amenizavam a dor que a jovem sentia.
"Ela estava desde quarta-feira internada, viemos pra cá de tardinha. Amanda tinha 3 cm de dilatação, estava com 33 semanas e por que não fizeram a cesariana? Ela sofrendo de dor. Entrava e saia médico e nada. Ninguém fez nada", disse o padrasto Robson Monteiro, de 37 anos.
Tem erro. Porque liberaram o atestado de óbito da minha neta e ainda falta o da minha filha. Disseram que tem que esperar o delegado de polícia para liberar. Tem erro. Se as duas morreram juntas, por quê não liberam tudo junto? Eu só quero sepultar o corpo da minha filha. Eu quero o atestado da minha filha
Pai da bebê, o jovem Gabriel Ribeiro Gonçalves Silva, de 18 anos, contou que já estava tudo pronto para a chegada da primeira filha do casal. A residência que eles morariam juntos fica numa vila familiar.
"Dava pra salvar, mas preferem chegar no último suspiro. Era injeção atrás de injeção. Pra eles é mais um número. Seria a minha primeira filha. Estou em trauma ainda. Não dá pra acreditar. Já estava tudo comprado, estávamos arrumando a casa. Eu acho que quando o médico está vendo que aplica o remédio e não faz efeito, poderia fazer uma cirurgia. A garota sentindo dores e eles cismando com injeção", narrou o namorado de Amanda.
À reportagem, Cristiana Souza dos Santos, de 39 anos, disse que presenciou toda a situação no leito do hospital. Ela acompanha a filha, que também está grávida.
"Eu vi tudo o que aconteceu. Foi erro médico. Ela estava passando mal desde 1h. Às 3h ela morreu. Eu estou revoltada. Estou lá em cima acompanhando a minha filha. Eu vi tudinho. A menina morreu na nossa frente. Tiraram ela de uma cama e colocaram em outra com balão de oxigênio no leito pré-parto. Ela já não estava aguentando mais. Nem respirar. Depois que entrou um monte de médico. Isso é revoltante", denunciou.
Segundo a prima Joyce Silva, de 21 anos, o sonho de Amanda era ver o rosto da filha.
"Eu vi ela crescer, queria ter uma vida boa e estável, queria muito ver a filha dela. A gente não tem dinheiro e paga os impostos pra que o atendimento no hospital público seja bom", disse.
No mês passado, a maternidade recebeu novas alas de emergência obstétrica (clínica e ortopédica), consultório de acolhimento da gestante, salas de exames para cardiotocografia (método de avaliação de bem-estar fetal) e ultrassonografia, além da renovação dos leitos para internações, com a proposta de oferecer mais qualidade de atendimento.
Mas não é isso que narrou a tia Vanilsa de Santana Rocha, 48 anos, lembrando que a nova sobrinha seria muito amada.
"Que estrutura é essa? De matar? Essa é nova estrutura? Foi negligência médica e eles não querem assumir a responsabilidade. Não é a primeira e não vai ser a última. A Eloá ia ser muito amada. Mataram o sonho da minha irmã de ser avó. A Amanda morreu nos braços da minha irmã. A minha outra sobrinha perdeu um neném aqui também. A única possibilidade da minha irmã ter neto era com essa filha. A vida da minha sobrinha ninguém vai trazer de volta".
Ainda não há informações sobre velório e sepultamento. Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde informou que a paciente deu entrada no hospital no dia 26 com 3 centímetros de dilatação e bebê com menos de 30 semanas de gestação. E afirma que ela foi imediatamente internada.
"Antes, ela já tinha procurado uma unidade de saúde de São Gonçalo, onde foi orientada a procurar a unidade estadual por ser referência em atendimento à gestante de alto risco. Devido à prematuridade, a equipe médica adotou protocolo universal para tentar manter o bebê na barriga e, assim, estimular a maturidade do feto, já que a sobrevida em UTI é inferior à do feto na barriga da mãe. Desde então, ela vinha sendo monitorada pela equipe médica e a família informada sobre todos os procedimentos adotados", diz a nota.
A Fundação Saúde acrescentou que se solidariza com a família e "que todos os procedimentos foram feitos para tentar salvar a vida da jovem e seu bebê. Mas que, infelizmente, não foi possível".
E afirma que se comprometeu, diante das denúncias da família, em apurar detalhes do caso, e, se necessário, abrir sindicância para avaliar conduta médica.
"Porém, infelizmente, nesta madrugada (30), ela começou a apresentar taquicardia. Foram feitas manobras para reanimação cardiopulmonar, mas a paciente sofreu uma parada cardiorrespiratória", diz em nota.
O Heal, atualmente, atende por mês mais de 1,5 mil mulheres entre gestantes, puérperas, vítimas de violência, entre outras, na ala da maternidade.
A Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro assumiu a gestão do Hospital Estadual Azevedo Lima em fevereiro deste ano.
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