Estudante de Niterói é nota mil no Enem 2021: 'um sonho'

Escrevendo sobre "Invisibilidade e Registro Civil: garantia de acesso à cidadania no Brasil", a estudante Iasmin Schausse, de 21 anos, moradora do bairro Santa Rosa, na Zona Sul de Niterói, tirou nota mil na redação do Enem 2021.

Ela teve ciência do resultado na quinta-feira (10), no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), às 6h da manhã, logo que acordou.  

"Foi divulgado na quarta (9), mas o site não estava mostrando a nota. Fui dormir e logo quando acordei, umas 6h, abri o site e vi. Foi a concretização de que eu estava no caminho certo. Corri pela casa, gritei. Devo ter acordado os vizinhos. A gente confia no nosso esforço ao longo do ano, sabe que pode se dar bem, mas o mil é algo que a gente não espera. Pouquíssimas pessoas tiram mil", brinca.

Iasmin quer cursar Medicina na Universidade Federal Fluminense (UFF). Ela é filha da professora Rosicléa Schausse, 53; e do bombeiro militar Marcelo Ferreira, 51. Os pais estão orgulhosos da conquista da jovem.

"Foi uma felicidade muito grande, porque tudo isso é fruto de uma estrada árdua, difícil de trilhar. Mas ela chegou lá no topo. A felicidade invadiu essa semana. Ela quer medicina e a cada ano está galgando. E parece que vai conseguir", diz Rosi.

Chamada carinhosamente de Schauschaus, por Beto Ferreira, o professor de Redação, a aluna destaca que o auxílio do orientador foi fundamental para o sucesso da nota. Ela também lia muito e escrevia um texto por semana. 

Através do Instagram, o professor Beto mostrou-se orgulhoso da aluna. 

"Está certo que a nota não define ninguém. Seja a nota máxima ou o zero. Mas, para nós, foi mais um marco, um significado que deixou claro que a gente está no caminho certo. Esse mil chancela tudo o que venho plantando em oito anos como professor", publicou.

Garra

Ao longo de todo ano, Iasmin passava, em média, oito horas do dia dedicada aos estudos. A moça lembra que o equilíbrio é fundamental para um bom resultado da prova. É a terceira tentativa dela para o Enem, após finalizar o ensino médio.

"Eu sempre tive muita determinação. Mas não estava esperando isso agora. Está sendo um sonho. Nos anos anteriores eu pequei muito nisso de equilíbrio, com crises de ansiedade. Foi um fator que não me fez passar. Esse último ano eu tentei mudar isso, incluindo atividade física três vezes na semana, tirando tempo para ficar com a família. É fundamental. Não sou o tipo de pessoa que fica 12/14 horas estudando. Não é a quantidade que importa. E sim a qualidade", diz sorrindo.

A aplicação do último Enem teve início com uma prova contendo a redação dissertativa-argumentativa e 90 questões objetivas: 45 delas dos componentes linguagens, códigos e suas tecnologias, e 45 de ciências humanas e suas tecnologias.

"A primeira coisa que eu faço é ler o tema. Mesmo que não faça a redação de cara, a mente já fica trabalhando. Penso algo genérico. E aí vou para a prova de linguagem, que tem um peso maior na UFF. A minha ordem é fazer as questões fáceis, depois médias e por fim difíceis. Tanto linguagens, quanto humanas. Se eu vejo que estou me cansando, volto para a redação. E sempre reviso antes. Edito umas duas vezes antes de passar a limpo. Revisar o texto foi fundamental para gabaritar", sugere.

A nota máxima é resultado de muito esforço e leituras por conta própria. Para a aluna nota mil, o importante é manter a constância.

"Passei por vários cursos e cheguei ao ponto de estudar sozinha, em casa, nos últimos dois anos. Até por conta da pandemia, muitos cursos não faziam presencial. Foi a melhor coisa que eu fiz. Acabou sendo mais produtivo, proveitoso, não tinha a questão de se locomover. Manter a constância é fundamental", diz.

Surpresa

Todo tema do Enem é sinônimo de surpresa, na avaliação de Iasmin.

"Não teve um nesses últimos longos anos que eu não me surpreendi. Esse do ano passado, eu achei um tema complexo, um pouco difícil de entender na primeira vez que eu li. Tinham muitas palavras chaves para desenvolver. Li de novo. E na terceira vez, peguei algo dos textos motivadores e consegui desenvolver. Como fiz muitas redações ao longo do ano, um por semana, eu já tinha o meu modelo de escrita. Acho que a gente tem que ser autoral, isso ajuda a argumentar de forma coerente", ensina.

As notas do Enem podem ser usadas para acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e ao Programa Universidade para Todos (ProUni). Para tanto, o candidato não pode tirar nota zero na redação. 

Os participantes do Enem podem ainda pleitear financiamento estudantil em programas do governo, como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), e se candidatar a uma vaga em instituições de ensino superior portuguesas que têm convênio com o Inep.

O curso de redação que a Iasmin fez se chama 'Juntos na Redação', do professor Beto, lá de Goiás, sendo realizado através de plataforma online, ao longo de todo o ano de 2021, conforme explicou a aluna.

"A gente tinha aula com ele no Zoom, ao vivo, toda semana. Eu me sentia mesmo numa sala de aula, com câmera aberta, microfone, tirando dúvidas. O meu conhecimento é fruto de muitas pessoas, professores, amigos. Na redação, em si, eu dou créditos ao Beto, mas no geral, nas notas de todas as áreas, eu passei por vários cursos e cheguei ao ponto de estudar sozinha em casa nos últimos dois anos", continua.

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, revelou na última quarta-feira (9) em entrevista ao programa 'A Voz do Brasil' que os resultados do Enem 2021 já estavam processados, sendo disponíveis para estudantes que buscam ingressar no ensino superior.

Segundo Ribeiro, a antecipação de dois dias se deu pela celeridade no cumprimento do cronograma estabelecido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo certame. “Diminuímos dois dias de ansiedade no coração dos estudantes brasileiros”, afirmou o ministro.

Veja as dicas de redação de Iasmin:

- Manter a constância. De nada importa fazer quatro treinos de redações numa semana, uma na semana que vem e zero na outra. Perde ritmo.

- Corrigir bem as redações. Não adianta fazer a redação e continuar com os mesmos erros. É muito importante ver o que foi apontado pelo corretor, anotar e fazer um auto-diagnóstico. 

- Conter as emoções. Tentar ter um equilíbrio, se apegar às pessoas que querem te ver evoluir. Não adianta ter apenas técnica e conhecimento. O Enem é uma prova de resistência. Além disso, trabalhar ao longo do ano. A prova é um reflexo do que foi construído.