Mobilização
Caminhada em prol do autismo reúne centenas de pessoas em Niterói
Os pais e mães de crianças atípicas desejam vencer o preconceito
Neste dia 2 de abril, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Buscando vencer o preconceito e fazer com que a sociedade veja os autistas de forma mais igualitária, centenas de parentes de pessoas atípicas e amigos da causa se reuniram em uma caminhada que teve início na Praia de Icaraí e se estendeu até o Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, na manhã deste domingo (2).
Uma das organizadoras do evento, Emanuele Rocha, policial civil e diretora da Casa Atípica, disse que a caminhada é produto de uma série de reuniões de vários coletivos de mães em Niterói.
"Hoje é o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e a gente precisa trazer mais informação e menos preconceito, que é o lema desse ano. Queremos mobilizar, estamos aqui para fazer a inclusão, mostrar que o autismo existe e que deve ser respeitado. Devemos ter mais empatia!", afirmou ela que é mãe do Antônio, de quatro anos, que foi diagnosticado com autismo.
Lílian Pesavento é mãe de Maria Eduarda, de 13 anos, e estava na caminhada. A filha dela foi diagnosticada com a Síndrome de Cornelia de Lange e também com o autismo ainda bebê.
"Quando você percebe que a criança tem um atraso, você tem que correr para ajudar, para dar mais qualidade de vida para essa criança. Não negue! A negação atrapalha tanto a mãe quanto a criança. Não é fácil, não vou romantizar, mas não se deve negar. Tem todas as etapas de tristeza, do luto, mas também tem milhares de terapias, de coisas que podemos fazer para a criança se desenvolver e assim você entra no modo de correr atrás, de tentar as melhores coisas para ela e é nesse caminho que conseguimos uma rede de apoio com outras mães, como a que vemos aqui hoje nessa caminhada. Com datas e eventos desse tipo, nós queremos que a sociedade entenda mais do que é o autismo, mas também queremos que nos respeitem. Pedimos por mais inclusão e brigamos pelo anticapacitismo", afirmou a jornalista e terapeuta.
A caminhada teve início às 9h e seguiu até o MAC. No local, foi colocada uma tenda para as crianças atípicas que quisessem ficar mais confortáveis. Além da Casa Atípica, outras organizações com mães de crianças atípicas estiveram na caminhada, como: Ames (Apoio a Mães Especiais), Autismo Niterói Trocas e outras. O evento foi patrocinado pela Prefeitura de Niterói e contou que o apoio da Guarda Municipal.
Joel Vieira, o superintendente cultural da Fundação de Arte de Niterói (FAN), esteve no evento. Ele é pai atípico há 23 anos.
"Minha filha foi diagnosticada com oito anos e, na época, era difícil diagnosticar. Eu fiz várias consultas, em diversos médicos, até ela ser diagnosticada. A data de hoje é fundamental para chamar a atenção das pessoas e muito do que se tem hoje de pesquisa, tratamento e educação é devido ao apoio dos pais, principalmente das mães, que falam a respeito e organizam movimentos do tipo, forçando o Estado e a ciência a pensar nisso. Ainda há muito o que fazer, mas isso aqui mostra que já conseguimos caminhar um pouco. Essa caminhada de hoje diz a todos que estamos aqui, estamos no mundo e o mundo é para todos", contou ele que escreveu uma peça denominada 'Anamnese', que vai ter mães de crianças atípicas no elenco, mostrando o cotidiano de cuidado delas com seus filhos. A peça que vai estrear no dia 29 de abril na Sala Nelson Pereira dos Santos, em Niterói.
Isabele Simão, de 51 anos, é mãe de uma criança atípica há 15 anos. Ela também faz parte da Ames. Ela conta que sempre tenta participar de caminhadas do tipo.
"As caminhadas que fazemos todos os anos ajudam a conscientizar, mas também a mostrar aos outros que estamos aqui, que somos importantes, é uma data mundial, então, é importante. Nem queríamos ter que lembrar isso já que deveria ser claro, mas ainda precisamos, nós estamos aqui. Para ter empatia com o autismo não precisa ter autista na família, é só incluir e entender que existe o outro. Queremos vencer o preconceito que ainda está muito presente na nossa sociedade", disse ela que é estudante de serviço social e pedagoga.
Além de Niterói, uma outra caminhada aconteceu neste domingo em Maricá e na cidade do Rio de Janeiro.
Próximos eventos
Nesse mês do debate sobre a conscientização com relação ao autismo, ainda ocorrerão outros eventos em Niterói. Nos dias 3 e 4 de abril, haverá um workshop na Escola Municipal Julia Cortines. O evento será dedicado a profissionais que atendem autistas. No dia 5 de abril, uma mãe atípica lançará um livro na Câmara Municipal de Niterói.
Durante todo o mês, serão expostas telas pintadas por mães atípicas no hall da Câmara Municipal de Niterói.
O Autismo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) se caracteriza como uma condição que afeta o comprometimento na comunicação e interação social da pessoa, associado a padrões de comportamento restritivos e repetitivos. A condição acomete cerca de 1 a 2% da população mundial e as causas são multifatoriais.
O tratamento do autismo é feito com terapias de reabilitação e varia de pessoa para pessoa. Geralmente, uma equipe dos mais diversos médicos é consultada para diagnosticar se uma pessoa tem autismo ou não. Além disso, a inclusão já se provou ser um ótimo remédio para melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo. É isso o que afirma a psicóloga e neuropsicóloga Wanessa Berba, diretora do Espaço Crescer, que também apoiou na caminhada de Niterói. Ela falou sobre a importância do diagnóstico precoce com o ENFOCO.
"Mais importante do que o diagnóstico que, muitas vezes, inicialmente, pode ter uma dificuldade para ser aceito, é intervir. Então, quanto antes se notar sinais de atraso no desenvolvimento de uma criança, mais cedo pode-se começar a intervenção. Que as pessoas procurem ajuda para que a intervenção se inicie e que os atrasos sejam minimizados e, em paralelo a isso, que seja feita uma avaliação para que o diagnóstico seja concluído", contou.
Ela ainda cita alguns sinais de autismo que podem ser percebidos em alguns casos nas crianças. "A criança que tem dificuldade na socialização, tem dificuldade em estar com os pares, muitas vezes não responde pelo nome, o contato visual não tem muita qualidade, pode ter comportamentos repetitivos, rigidez, dificuldade em alterar a rotina, estranha pessoas que não são do meio ou vai com todo mundo, movimentos estereotipados (como andar nas pontas dos pés ou mexer muito a mãozinha quando está feliz) pode ter autismo", afirmou.
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