Cidades
Ativistas de Maricá fazem ato contra a violência sofrida por mulheres
Quem passa pela entrada de Maricá nota que o gramado com o nome da cidade em concreto está tomado por placas numeradas. Ao todo, 1.587 delas, que representam o número de casos de violência contra a mulher denunciados em 2018. Os números são do Instituto de Segurança Pública (ISP).
A ação foi organizada na manhã deste domingo (8) pelos movimentos sociais feministas de Maricá para marcar o Dia Internacional da Mulher. O grupo, que também usou cartazes e faixas destacando os índices de violência, considera que o caminho para a denúncia dos casos de violência ainda é cheio de barreiras.
“A mulher quando vai à delegacia fazer o registro da ocorrência é porque está no limite da agressão. Além disso, consideramos que os números não são absolutos, pois existem muitos casos que não são notificados”, comentou Taísse Costa, dirigente da União Brasileira de Mulheres (UBM-Maricá).
Ela acrescenta ainda que a sociedade atual estimula o individualismo e a competição entre mulheres.
“Crescemos ouvindo que mulheres não são amigas umas das outras. E esse ato representa a unidade entre elas, a sororidade e a compreensão de que, embora tenhamos consciência da importância dessa manifestação, sabemos que muitas mulheres não possuem a força suficiente para concluírem o trabalhoso processo de denúncia”, declarou.
Considerando a estimativa populacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de denúncias levantado pelo ISP chega a 2% da população feminina de Maricá. O número assusta representantes dos movimentos feministas que incluem a luta racial.
“A importância desse ato para nós, mulheres, em especial mulheres negras, é para dar visibilidade aos graves casos de agressões e mortes. Não podemos naturalizar o número de feminicídios porque representa uma porcentagem pequena. Ainda é preciso considerar que nem todos os casos chegam à mídia. É importante que o povo de Maricá esteja a favor da vida e não da morte de mulheres. Vida de mulheres importa!”, esclareceu Sandra Gurgel, do coletivo Saluma.
As manifestantes destacaram que a data vai além da tradicional celebração que as pessoas costumam atribuir ao 8M.
“O 8 de março representa um dia de reflexão. A gente não está aqui comemorando nada. A gente está resistindo e lutando pelos nossos direitos e, principalmente, lutando pela nossa sobrevivência. Hoje lembramos os 1.587 casos denunciados. Sabemos que é uma luta silenciosa ainda, mas de grande importância. Os movimentos estão aqui para dar voz às mulheres que querem e exigem o direito à vida”, observou Mãe Simone, presidente da UBM.
"Acreditamos que o oito de março não é uma data somente de homenagem às mulheres. É uma data de luta, resistência, reflexão e busca pela emancipação de todas nós mulheres. E foi exatamente por isso que organizamos, com os movimentos sociais da cidade, esse ato em memória aos casos de violência contra as mulheres no município", disse Renata Redoglia, vice-presidente da União da Juventude Socialista (UJS- Maricá).
“Essa data é um marco no processo histórico de luta das mulheres, mas para nós, mulheres negras, aqui em Maricá, o 8 de março representa exatamente o que estamos fazendo: é um dia de luta, um dia de resistência, de não à violência, de não ao fascismo. É um dia que a gente clama pela democracia e pelo direito de ir à rua gritar e lutar pela vida de todas as mulheres”, frisou Mônica Gurjão, presidente da Unegro – Maricá.
“A importância desse ato, do 8 de março, é para que possamos refletir sobre a questão da visibilidade, protagonismo e empoderamento das mulheres negras na cidade de Maricá. Estamos invisibilidadas nas questões dos nossos direitos. Esse ato simboliza a resistência e a busca por políticas públicas para que possamos ter igualdade equidade com as nossas companheiras mulheres não negras”, falou Aduni Benton, coordenadora municipal do Fórum de Mulheres Negras de Maricá e diretora nacional do MOVIDADE.
“Hoje é um dia de luta, de reflexão, onde todas nós mulheres lutamos pelos nossos direitos, nossa autonomia e a nossa igualdade”, enfatizou Heloísa Helena, integrante do MNU.
O direito de ir e vir também foi pauta da manifestação. “Tudo o que buscamos é liberdade com segurança. Poder sair de casa, poder trabalhar e estudar e saber que vai ser algo normal”, pediu Mariana Recalde, também da UBM.
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