Racismo
Pequena Sereia negra gera avalanche de críticas
Trailer conta com mais de 1,5 milhão de dislikes no Youtube
Apenas o lançamento do teaser do live-action de "A Pequena Sereia", interpretado pela atriz e cantora Halle Bailey, uma mulher negra, lançado na última sexta-feira (9) em evento da Disney, foi o suficiente para gerar uma onda de críticas por conta da cor da pele da atriz.
Ariel, protagonista da animação de 1989, é originalmente uma sereia branca e ruiva. A mudança provocou uma chuva de dislikes no Youtube, onde o vídeo foi disponibilizado, que já conta com mais de 12 milhões de visualizações. Acontece que dessas pessoas que visualizaram, mais de 1,5 milhão sinalizaram que não gostaram do vídeo e 521 mil que gostaram até esta terça-feira (13).
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Através das redes sociais, muitos perfis no Twitter criticaram a escolha da Disney pela atriz, dando como justificativa o respeito pela história original.
Bailey foi escolhida para o papel em 2019. Desde então, a atriz vem recebendo ataques racistas sobre o assunto. Em entrevista à revista Variety, ela informou que não se importava sobre o assunto e queria apenas curtir o momento.
"Sinto como se estivesse sonhando e estou apenas grata, não presto atenção à negatividade. Vai ser lindo e estou muito empolgada por fazer parte disso", afirmou Halle.
Representatividade
Por um outro lado, muitas pessoas defendem a representatividade que a atriz irá trazer para a personagem. Um vídeo de crianças negras assistindo ao trailer viralizou na internet e chegou até Bailey, que se mostrou admirada com o que gerou nos pequenos.
"Ver as reações destes bebês pequenos deixa-me tão emocionada. Isto significa o mundo para mim. Obrigado a todos pelo vosso apoio inabalável", publicou.
Apropriação cultural?
Contrários a subistituição de personagens, antes brancos, por negros em histórias infantis e/ou em quadrinhos justifica que houve apropriação de culturas sobre as outras. No entanto, para o professor de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e influencer geek Jonny Salles, o termo não corresponde quando existe uma história fictícia.
"Quando mudam a Ariel para negra não é apropriação cultural porque não existe a cultura sereia. A mesma coisa aconteceu com 'Anéis do Poder' quando apareceu um elfo negro. São seres mitológicos que podem ser representados de qualquer maneira. Seria apropriação se a gente colocasse o Pantera Negra como um personagem branco porque estaria apagando o marco da cultura africana", explica.
Para Jonny, a personagem ser negra ou branca não vai mudar o enredo da história. Ele acredita que existe um preconceito enraizado na sociedade e a necessidade de adotar novas maneiras de mostrar um desenho auxilia na representatividade da minoria.
"É extremamente importante que haja esse tipo de representatividade porque as pessoas se veem naquilo. Os quadrinhos tentam ser uma metáfora ou uma representação da realidade. É muito bom a gente se ver nas telas e nos seus ídolos. Tem espaço para todo mundo", completou.
Se a criança negra ver um personagem negro, ela se identifica e cria um laço maior com isso.
Racismo e preconceito
A Pequena Sereia negra não é o primeiro caso de racismo em personagens derivados de desenhos, séries e filmes que representam uma história fictícia. No mundo dos heróis, há dois casos recentes que tiveram bastante repercussão.
Em "Titãs", da Netflix, a atriz Anna Diop, que nasceu em Senegal e foi criada nos Estados Unidos, deu vida à Estelar, uma herói alienígena, que tem pele laranja nos quadrinhos. Diop recebeu diversos comentários racistas em sua conta no Instagram por causa da sua cor.
Outro caso emblemático é o do casal Wiccano, filho de Wanda Maximoff (Feiticeira Escarlate), e Hulkling, que integram o grupo "Novos Vingadores" da Marvel. Em 2019, o então prefeito do Rio, Marcelo Crivella (Republicanos), mandou retirar da Bienal o Livro 'Vingadores: a Cruzada das Crianças', em que o casal aparecia se beijando com a justificativa de 'conteúdo sexual para crianças'.
O pedido não foi realizado pela organização do evento e o livro esgotou em poucas horas. O fato ainda levou o influencer Felipe Neto a comprar livros com a temática LGBTQIA+ e distribuir durante os dias da Bienal.
Trazendo um exemplo mais atual, o ator Steve Toussaint, que interpreta o lorde Corlys Velaryon em "Casa do Dragão", derivado de "Game of Thrones", exibido pelo canal de streaming HBO MAX, também foi alvo de racismo. No livro Fogo e Sangue, que dá embasamento à série, o homem é descrito como tendo os cabelos brancos dos Targaryen, mas não há qualquer menção à cor da pele.
Elas aceitam numa boa um dragão voando, ficam tranquilas com cabelos brancos e olhos violetas, mas um cara negro rico? Isso está fora de questão"
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