Janeiro Branco
No mês da saúde mental, conheça canais de ajuda para evitar o pior
Professora da UFF aponta principais estratégias de prevenção
Durante o mês dedicado à conscientização da saúde mental, o Janeiro Branco, o Hospital Estadual Alberto Torres (Heat), em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio, revelou uma estatística preocupante: em 2023, a unidade prestou atendimento a 170 pacientes vítimas de tentativa de suicídio, ou seja, em média, uma ocorrência a cada dois dias. Diante desse cenário desafiador, torna-se crucial ressaltar os recursos de apoio disponíveis para aqueles que enfrentam transtornos mentais.
A professora e doutora em Psicologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Luciana Gageiro, oferece uma perspectiva significativa sobre o tema. Ela enfatiza que o suicídio vai além do indivíduo, manifestando-se como um fenômeno social complexo. Gageiro argumenta que discutir estratégias de prevenção é inseparável da promoção da coletividade.
O suicídio é um fenômeno social, e qualquer esforço de apoio deve necessariamente passar pela promoção da coletividade. A crescente prevalência do individualismo é uma preocupação, pois torna mais desafiador oferecer tratamentos eficazes e abordar as raízes profundas desse problema de saúde pública.
Saúde mental
A tendência individualista, apontada pela professora Gageiro, é, segundo ela, um dos maiores obstáculos na construção de uma conscientização mais eficaz sobre o problema. A doutora acredita que, em situações como essa, proporcionar espaços nos quais as pessoas possam ser ouvidas, percebendo que não estão sozinhas, representa a melhor abordagem de prevenção.
É preciso trazer o debate sobre saúde mental para o nosso cotidiano
"A saúde mental não deve ficar restrita a hospitais. Precisa ser algo presente no nosso dia a dia. Essa atenção não é só para quem está doente, está na escola, na cultura e nos lugares que frequentamos todos os dias. Saúde mental é coisa do povo e cuidar dela envolve ações práticas no nosso cotidiano. Precisamos trazer o assunto para nosso dia a dia, mudar a forma como falamos sobre o sofrimento, saindo da ideia de que é só uma doença", enfatizou Gageiro.
CVV
A concepção de um espaço nos quais as pessoas podem ser ouvidas e ter seus problemas compreendidos é um dos princípios fundamentais do Centro de Valorização da Vida (CVV). Esta organização sem fins lucrativos dedica-se a oferecer apoio emocional e prevenção do suicídio de forma gratuita. Fundado em 1962, o CVV, somente em 2023, já prestou assistência a aproximadamente três milhões de pessoas, em todo o Brasil.
Uma oportunidade de ser ouvido e acolhido
Regina Barsi, voluntária e uma das porta-vozes do posto do CVV em São Gonçalo, detalha o funcionamento do trabalho realizado pela entidade, que atualmente possui um número nacional próprio para chamadas (188).
"Buscamos criar um espaço seguro e acolhedor. As pessoas que nos procuram podem compartilhar suas angústias e preocupações, sabendo que serão ouvidas com respeito e empatia. Utilizamos o diálogo como ferramenta essencial, e a pessoa tem a garantia de falar com um voluntário que está lá para ouvi-la, sem a necessidade de fornecer seu nome ou qualquer informação pessoal", explicou Barsi.
No Centro de Valorização da Vida (CVV), a oportunidade de se tornar voluntário também está acessível a todos, independentemente da formação profissional, enfatiza Regina Barsi. Cada voluntário passa por um treinamento antes de se dedicar ao atendimento às pessoas que buscam apoio.
O curso tem uma duração de 90 dias, com um encontro semanal. Nos primeiros quatro encontros, focamos na parte teórica, apresentando a instituição, as expectativas para os voluntários e para aqueles que procuram o CVV, além de explorar a dinâmica da relação de ajuda. Nosso objetivo é proporcionar uma formação sólida, capacitando cada voluntário com habilidades essenciais para oferecer um apoio emocional de qualidade durante as interações.
O posto de São Gonçalo atendeu aproximadamente 30 mil pessoas em 2023 e, atualmente, está em busca de novos voluntários. Os interessados podem se inscrever no site da instituição, com o curso programado para iniciar em 22 de fevereiro.
Jovens são os que mais procuram o CVV
De acordo com Barsi, os jovens foram os que mais procuraram o CVV em 2023. Esse aumento na busca por apoio entre a juventude, como explica a professora Luciana Gageiro, destaca a importância de promover o debate nos espaços frequentados por esse grupo.
Gageiro, envolvida no projeto "Da escola à universidade: escutando o mal-estar", presente em diversas instituições de ensino do Estado do Rio, tem estudado como esse problema impacta jovens e adolescentes.
A prevalência de suicídios entre os jovens pode ser atribuída à busca por identidade em uma sociedade cada vez mais individualista. Ao explorarem diversas esferas sociais, como cultura e trabalho, muitos enfrentam desafios de inserção, principalmente na universidade. A percebida falta de oportunidades nesse contexto pode levar alguns jovens a buscar pertencimento de outras formas, contribuindo para o aumento desses casos.
Prevenção
Em alusão à campanha do Janeiro Branco, equipe de setor de Qualidade e Humanização da Secretaria Estadual de Saúde realizou evento no Heat. A campanha, realizada em outras unidades pública rede estadual, teve como objetivo alertar para os cuidados com a saúde mental e emocional, a partir da prevenção das doenças decorrentes do estresse, como ansiedade, depressão e pânico, abordou funcionários, pacientes e acompanhantes.
Com o tema “Saúde Mental enquanto há Tempo”, a campanha contou com apoio do personagem “Senhor Incrível”, que distribuiu frascos com mensagens motivacionais. “Uma dose de pensamento positivo hoje para dar coragem a sua mente amanhã” foi a frase sorteada para a fisioterapeuta Vera Menezes.
"Isso é tudo. A gente atrai o que a gente pensa. Sensacional -- garantiu a profissional após compartilhar sua mensagem em voz alta aos colegas de trabalho", disse a profissional.
A psicóloga Karina Soares destaca que as estratégias devem avançar durante todo o ano.
“Precisamos quebrar os preconceitos a respeito da saúde mental e falar sobre o assunto todos os dias do ano. Devemos pensar em estratégias para além do Janeiro Branco. Cuidar da saúde mental é um investimento. É amor próprio”, afirmou.
A campanha foi realizada ainda no Hospital Estadual João Batista Cáffaro, em Itaboraí, e UPA Colubandê, em São Gonçalo, unidades também administradas pelo Ideas em parceria com o Governo do Estado.
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