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    Incêndio do Gran Circo Norte-Americano completa 56 anos neste domingo

    Publicado 17/12/2017 às 8:30 | Autor: Plantão Enfoco
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    Uma tarde de domingo no circo, instalado no centro da cidade de Niterói, ficaria marcada para sempre na memória de milhões de pessoas. Um pouco antes do encerramento do espetáculo, que reuniu mais de dois mil expectadores sob a lona do Gran Circo Norte Americano, Dilson Marcelino Alves, o Dequinha, ateou fogo no local para se vingar do dono, Danilo Stevanovich, que o havia demitido dias antes.

    O número oficial de mortos chegou a 503 - a maioria crianças, que não conseguiram escapar da enorme lona em chamas. Foi a maior tragédia circense da história do país e tomou conta do noticiário por dias a fio. A comoção nacional criou heróis, como o profeta Gentileza e o cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que atendeu às centenas de vítimas com queimaduras graves.

    A história do incêndio do Gran Circo deu origem ao livro do jornalista Mauro Ventura, "O espetáculo mais triste da história”, lançado pela editora Companhia das Letras, em 2011. A publicação conta curiosidades sobre as investigações da polícia, como por exemplo, o fato de pouca gente ter acreditado na versão oficial da polícia de que Dequinha, aos 20 anos, havia ateado fogo no local junto com os amigos Bigode e Pardal.

    Dequinha foi demitido por ser preguiçoso três dias antes do incêndio e prometeu vingança. Por isso se tornou o principal suspeito e logo confessou a autoria do crime. Mesmo assim, muitos ainda acreditaram na versão de que um curto-circuito teria causado a tragédia.

    A cidade de Niterói ficou traumatizada. Apenas em 1975, quase 15 anos depois, com a chegada do circo Hagenback, a população voltou a frequentar os espetáculos itinerantes. O incêndio levou à exigência de lona à prova de fogo, saídas de emergência, extintores de incêndio e bombeiros de plantão em todas as apresentações a partir de então.

    HISTÓRIA

    O Gran Circo Norte-Americano pertencia ao gaúcho Danilo Stevanovich. Ele e a família eram donos de vários circos na América Latina. Os outros dois circos, o Bufalo-Bill e o Shangri-lá, também foram destruídos anos antes por incêndios, mas apenas os animais perderam a vida. Na década de 50, no Rio de Janeiro, um elefante fêmea que estava no picadeiro foi eleita uma das heroínas do incêndio. Na hora da apresentação, Semba disparou desesperada quando um pedaço de lona queimada caiu sobre ela, abrindo caminho e salvando várias pessoas.

    Em entrevista ao Jornal do Brasil na época, Ivo Pitanguy contou: “Cheguei com uma equipe em pleno momento de comoção. Havia muita gente querendo ajudar, mas também uma enorme desorganização”, lembra o médico. “Lembro de um caso muito heroico de um menino que tinha se salvado e voltou para debaixo da lona para buscar o seu amigo. O que era mais dramático é que eram muitas crianças, e ao lado delas, seus amigos, de modo que devia haver ali pelo menos 500 delas”, disse.

    O dono do circo, Danilo Stevanovich, continuou no ramo até 2001, quando morreu. A família ainda possui três circos atuantes: o Le Cirque, o Bolshoi e o Karton. Muitos sobreviveram ao incêndio, outros foram salvos pelo acaso, por terem desistido espetáculo. A dona de casa Eliane Monteiro, de 64 anos, moradora de Pendotiba, conta que saiu de casa em direção ao circo com a mãe e as duas irmãs. “Minha irmã do meio caiu sobre uma poça d’água e sujou todo o vestido de lama. Tivemos que voltar todos pra casa, desolados por perder o passeio. No dia seguinte, soubemos da tragédia e minha mãe agradeceu à Deus pelo livramento”, relembra, emocionada.

    O profeta Gentileza, conhecido pelas mensagens de paz, teria perdido a família na tragédia, mas o jornalista Mauro Ventura desmente. José Datrino, nome verdadeiro de Gentileza, trabalhava com uma frota de caminhões. Quando houve o incêndio, Datrino recebeu um “chamado divino”, onde deveria “consolar os desconsolados”. A partir de então, Datrino virou Gentileza, o profeta. Deixou a família, pegou seu caminhão, comprou 200 litros de vinho e se dirigiu à Avenida Rio Branco, em Niterói, para oferecer um copo da bebida como consolo para quem quisesse. Gentileza também montou uma casa no local do incêndio, plantou flores e fincou uma placa: “Bem-vindo ao Paraíso do Gentileza. Entre, não fume, não diga palavras obcenas”. Ele viveu durante vários anos consolando as pessoas que por passavam pelo local. Gentileza virou enredo da escola de samba Grande Rio, em 2001.

    Fonte: JB

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