Danos
Ativistas ambientais atacam quadro de quase 400 anos
Obras de artes vêm sendo alvo de protestos no mundo
Ativistas do grupo Just Stop Oil, que lutam contra as mudanças climáticas no mundo e combate à produção de combustíveis fósseis no Reino Unido, atacaram e quebraram, nesta segunda-feira (6), o vidro de proteção de um quadro, no museu National Gallery, em Londres, na Inglaterra, do artista espanhol Diego Velázquez, nomeada de "Vênus ao Espelho", datado de 1647.
Em um vídeo divulgado pelo grupo de ativistas nas redes sociais, mostra dois jovens militantes atingindo a obra de quase 400 anos com um martelo e quebrando a proteção que sustenta a pintura.
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"Hoje (segunda), o nosso governo revelou planos para mais licenças de petróleo, sabendo perfeitamente quando isso matará milhões. Em resposta, dois apoiantes do Just Stop Oil destruíram o 'Vênus em Espelho'. É hora de ações, não de palavras", escreveu o grupo Just Stop Oil na descrição do vídeo.
O museu National Gallery confirmou o protesto e esclareceu que a equipe de segurança retirou os ativistas do local. A polícia foi acionada, e os militantes foram presos. O quadro foi retirado do local para ser examinado por especialistas.
Segundo o ambientalista e ex-professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Francisco Almeida, os atos dos ativistas são válidos pois, segundo ele, alguma atitude precisa ser feita para que a poluição no planeta dê uma freada.
Realmente há uma prática no ativismo ambiental para chamar a atenção, seja com agressividade ou atos como esses, às vezes até passando um pouco do limite. Mas também há uma urgência climática que precisa ser reconhecida. O planeta está em uma crise em que nunca estivemos antes. Marcar reuniões e mais reuniões não adianta. Precisamos de atitude, não temos tempo a perder"
Ainda segundo Francisco, além dos alvos, os ataques compartilham a intenção de alertar o mundo sobre a emergência climática.
"Parece até meio ridículo, mas é um meio de chamar a atenção. A questão não é se 'fulano' quebrou uma obra de arte ou se jogou molho de tomate em uma pintura, mas sobre a necessidade e urgência que vivemos com o aumento da poluição no mundo, sem que praticamente nada é feito para acabar com isso. É o nosso futuro que está em jogo", desabafou.
Já para o biólogo Ricardo Harduim, os protestos são inadequados e acabam gerando outros problemas coletivos e comunitários.
"Essa questão, para mim, é inadequada. Porque acaba com uma boa intenção de chamar a atenção da população, das autoridades, para sanar o problema, e isso acaba gerando um outro problema coletivo e comunitário, como degradar as obras de artes. Muitas dessas obras que eles jogam tintas, tem um vidro de proteção na frente. Então apenas mancha esse vidro, mas nem sempre. Tem que chamar a atenção para uma mudança de postura, mas não dessa forma", argumentou.
Harduim lembrou ainda de outras atitudes de jovens militantes na Europa.
Lá na Europa há um movimento de jovens ambientalistas em que eles pegam fezes humanas e passam nas maçanetas de carros de luxo que emitem muitos carbonos, como Ferraris e Jeeps. São atitudes desnecessárias. Existem outras maneiras de chamar a atenção de forma estratégica, como no avanço da educação para que possamos viver de uma forma mais harmônica"
Protestos
Thales de Miranda, advogado especialista em Direito Internacional e presidente da Comissão de Mentoria Jurídica da OAB Niterói, explicou que protestos como estes não são pacíficos e democráticos.
"Nas democracias ocidentais, os cidadãos são normalmente livres para protestar pacificamente. Entretanto, esse grupo faz questão de não protestar pacificamente, afetando negativamente a coletividade, fechando pontes, atacando obras de arte, causando danos", explicou esclarecendo ainda que, segundo a legislação britânica, causar prejuízo durante protestos, é passível de multa.
"O direito a protestar de uma minoria não deveria poder afetar negativamente toda uma coletividade. Esse direito ilimitado de protestar causando danos a terceiros não é abrigado pelo ordenamento jurídico democrático. A legislação britânica prevê multas a quem causa prejuízos durante protestos. Talvez essa seja a medida para conter o ímpeto do grupo e mantê-los protestando nos limites da lei", completou o advogado.
Atos criminosos no Brasil
No Brasil, obras de arte também foram alvo de depredação durante os atos criminosos no dia 8 de janeiro deste ano, quando milhares de pessoas protestaram no Palácio do Planalto, em Brasília. Na ocasião, um grupo de pessoas invadiu o espaço e depredou obras importantes, como a pintura “As mulatas”, de Di Cavalcanti, que ficava no Salão Nobre.
A obra foi rasgada em diferentes tamanhos e era avaliada em R$ 8 milhões, mas devido a sua importância poderia atingir um valor até cinco vezes maior.
Nos andares superiores do Palácio do Planalto, outras obras de arte também foram vandalizadas ou quebradas. A obra “O Flautista”, de Bruno Jorge, feita em bronze, ficou completamente destruída e era avalaida em R$ 250 mil. Além dos quadros, outra peça histórica danificada foi o Relógio de Balthazar Martinot, do Século 17 e que foi um presente da Corte Francesa para Dom João VI.
Existem apenas duas unidades do relógio no mundo, sendo que a outra está exposta no Palácio de Versailles, na França. Por ser uma peça rara, o valor do relógio não era estipulado.
Casos pelo mundo
Esta não foi a primeira vez que o grupo ativista invade museus pela Europa e danifica obras históricas. Em outubro do ano passado, militantes protestaram em um museu em Haia, na Holanda, e colou sua cabeça na obra “Moça com o Brinco de Pérola”, de Johannes Vermeer.
Assim como desta vez, a pintura não sofreu danos pois ela é protegida com um vidro. O museu condenou o ataque e retirou os ativistas do local.
O mesmo grupo também atacou o quadro “Os Girassóis”, de Van Gogh, na National Gallery de Londres. A obra é uma das mais famosas do mundo e foi pintada pelo holandês em 1888. Ela é avaliada em US$ 134 milhões (R$ 709 milhões). Na ocasião, eles lançaram sopa de tomate, e uma outra obra de Monet, na Alemanha, foi suja com purê de batata.
No mês seguinte, ativistas do grupo 'Ultima Generazione' atiraram sopa de legumes em uma obra de Van Gogh, no Palazzo Bonaparte, em Roma.
A arte, denominada 'Il Seminatore (O semeador)' de 1888, estava protegida por uma caixa de vidro. Os seguranças do local, ao perceberem o ato, agiram de forma imediata, fechando as salas e retirando os visitantes do local.
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