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    Veleiro carioca é campeão da 70ª Regata Santos-Rio

    Publicado 28/10/2020 às 12:22 | Autor: Plantão Enfoco
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    Ao todo participaram 68 barcos e 500 velejadores de todos os cantos do país. Foto: Aline Bassi/Balaio de Ideias

    Assim como era esperado, os velejadores encararam condições quase que extremas e das mais difíceis das sete décadas da regata mais tradicional do Brasil, a Santos-Rio, que teve no final de semana sua 70ª edição contabilizando número recorde de 68 barcos e 500 velejadores de todos os cantos do país.

    Com um contra-vento na casa dos 30 nós, iniciado na região de Ilhabela (SP) e que persistiu por boa parte do trajeto, mais da metade da flotilha acabou tendo problemas e desistindo na região ou na Baía de Angra dos Reis.

    O veleiro carioca Ventaneiro 3, comandado por Renato Cunha, foi o campeão geral e vencedor na classe ORC com 42 horas, 47 minutos e 4 segundos, no tempo corrigido ficando com 34 horas, 34 minutos e cinco segundos, deixando em segundo lugar o Xamã Red Nose, do Yacht Club de Ilhabela (SP), comandado por Sergio Klepacz e o Rudá Blue Seal, barco de Santos (SP), finalizando em terceiro. O Blue Seal é comandado por Mario Martinez e teve na tripulação Martine Grael, campeã Olímpica na Rio-2016 e uma das candidatas à medalha em Tóquio-2021.

    Renato Cunha comemorou a vitória e lembrou da conquista da desafiadora regata Buenos Aires - Rio de Janeiro de 2017 com condições semelhantes: "Ganhar a edição 70 da Santos - Rio é uma sensação maravilhosa, edição que contou com recorde de inscritos, a nata da Vela brasileira. Excepcional, estamos todos muito felizes. Tivemos participação de três velejadores Optmist, três mirin,s entre eles meu filho Zion, de 11 anos, que já carimbou o diploma de velejador Santos-Rio. Uma regata que foi de endurance, tripulação que mostrou muita determinação e somados ao barco que atende bem às duras condições", disse.


    "Foi um grande aprendizado completar essa 70ª Santos Rio com frente fria e contra-vento. Depois de tentar uma rota lone da costa pegamos marés gigantes e progresso bem lento . Foi uma noite muito molhada. Chegamos a pegar 30 nós de vento. Enquanto fizemos alguns peelings (trocas de vela de proa) que nos resultou em um velejar mais confortável, mas também água em cada pedaço de roupa"Um pouco de água salgada pode ter causado falha em nossos instrumentos. Avistei a ilha grande logo antes do meio-dia, fizemos estimativas de 2, 3 ou 4 horas para passar por ela, mas a realidade é que com ondas e corrente contra, velejamos mais de seis horas para entrar na restinga de Marambaia. A última noite foi bem fria, o cansaço bateu só que dentro do barco ficou impraticável o descanso. Todos queríamos chegar logo para tomar um banho quente. Quando cruzamos a linha foi só comemoração. Missão cumprida. Todas as dores, desconfortos e necessidades do corpo vieram à tona", disse Martine Grael.

     "Regata bastante dura, bastante difícil, avarias nos barcos, abandonos. Foi uma das mais duras que já tivemos, muito mar, muita onda, mas conseguimos", disse Fernando Thode, do barco Blue Seal que destacou a importância de Martine Grael à bordo: "Além de ser muito boa nas funções de timoneira do barco também ajudou muito nas manobras do barco, conseguimos dessa forma chegar em boas condições. Óbvio que queríamos ganhar a regata, mas o terceiro lugar no tempo corrigido foi uma boa colocação. Estamos ainda todos doloridos pelos golpes provocados pelas ondas, algumas avarias, mas nada muito grande".

    O quarto lugar ficou com o barco carioca Sorsa III, do Iate Clube do Rio de Janeiro, que foi o primeiro a cruzar a linha de chegada entrando na Baía de Guanabara pela Ilha da Laje às 2h34min da madrugada de domingo, dia 25. No tempo real foram 37 horas, 48 minutos e 34s. O Sorsa, comandado por Celso Quintela, levou pela terceira vez seguida o tradicional título de Fita Azul dado ao veleiro que chega em primeiro lugar, mas no tempo corrigido acabou em quarto.

    "Aprendemos a fazer isso (chegar como Fita Azul). O barco é muito bom e sempre contamos com tripulação de extrema qualidade, condições bastante difíceis, nada extraordinário, mas muito penoso. Na minha memória pesada recente essa foi a mais pesada Santos-Rio", disse Quintela. O Avohai, comandado por Lars Grael, duas vezes medalhista olímpico em Seul 1988 e Atlanta 1996, terminou na quinta colocação. Foi a 19ª participação do ícone da Vela brasileira na regata.

    "Foi uma regata singular, primeiro pois teve recorde de participantes, participação recorde na regata, barcos da Marinha, homenagens. A regata em si não foi fácil, basta ver minha imagem que mostra o cansaço. Ondas de três até três metros e meio, vento contra, ondas contra, algumas quebras, pessoas machucadas. Quem chegou aqui no Rio de Janeiro é um vitorioso, prevaleceu o espírito marinheiro. Estivemos próximo do limite em termos de segurança, mais do que isso seria recomendável os barcos abandonarem a regata e procurarem local seguro. Mas esses desafios fazem parte da tradição da Santos-Rio, não é uma regata fácil. É um percurso difícil seja pela falta de vento, excesso de vento, pela mudança de ventos, requer uma tripulação trabalhando o tempo todo. Nosso barco estreando na regata teve problema com as velas, as genoas, elas rasgaram, ficamos sem opção o certo seria abandonar a regata, mas improvisamos parte usando velas leves e parte de passeio que a performance é muito ruim. No sábado vínhamos em uma boa posição, mas para poder completar abrimos mão de muitas colocações porque não era uma vela de regata. Ter chegado aqui é uma vitória".

     
    O barco Rudá/CBVela, de Santos (SP), que contou com o bicampeão olímpico Torben Grael no comando diante do time da Vela Jovem brasileira com nossos talentos do futuro, foi o oitavo barco a finalizar a regata e conquistou o troféu na classe IRC. Torben e os meninos e meninas entraram na Baía de Guanabara pouco depois das 8h da manhã de domingo.

    "Foi uma regata um pouco diferente, toda de contra-vento, lestada que estava durante uns três, quatro dias, onda muito grande, o que dificultou bastante a velejada. Nosso barco as velas não estavam em ótimo estado e não tínhamos velas de vento muito forte, então nos viramos com o que tínhamos, vela grande não tinha riso. Ficamos meio no limite. Primando bem as velas e cuidando do equipamento deu tudo certo. Uma das genoas acabou quebrando na Ponta do Boi, parte de mais vento, na primeira noite, foi só o problema que tivemos. A garotada de saiu muito bem, trabalharam em equipe, respeitaram bem os turnos, ficando na borda na primeira noite que estava mais difícil, na segunda noite estava um pouco menos vento e mais frio. Trabalharam muito bem nas manobras, todas as saídas muito boas, a última que valeu montamos em primeiro com o Sorsa III na primeira bóia. Foi um sucesso a regata, muito orgulho de fazer com a garotada e o quão bem eles se adaptaram a um estilo, velejada diferente que não estão acostumados, barco grande, respostas diferentes, velejando à noite, nove jovens de 15 até 23 anos. Estou muito contente com o resultado", disse Torben.


    Sobrinho de Torben, Nicholas Grael, de 23 anos, filho de Lars, comentou a experiência inédita na Santos-Rio sendo comandado por Torben que é o maior campeão da história com oito conquistas no total (seis como comandante e dois como tripulante): "Foi muito bom, Torben nos transmitiu muito conhecimento, fora toda a segurança e alto desempenho que ele passa por toda sua experiência", disse Nicholas: "Experiência foi muito boa, regata muito desgastante, primeira noite com muito vento, muita água na cara, tivemos problemas com as velas, duas buchas que explodiram, um grande que rasgou também, mas fora isso tudo foi muito bom. Os perrengues passam e o que fica são os momentos bons. O astral à bordo foi muito bom, clima muito bom, todo mundo dando o seu melhor, com muita garra e determinação e obtivemos nosso objetivo que era ganhar a regata".
    O segundo lugar da IRC ficou com o Saravah com Alain Joullliè, de 85 anos de idade, que disputou as regatas de 1952, 1953 e 1954 e não participava há oito anos da Santos-Rio. Seu filho, Pierre Joulliè comandou o barco que teve o neto Felipe, de 14 anos, na disputa. Único veleiro comandado por uma mulher na 70ª Santos-Rio, liderado por Elisa Mirow, fechou o pódio na classe. 

    Na classe BRA-RGS foram quase 30 barcos na raia entre os atuais e os Clássicos. O campeão de 2019, o BL3 Urca, de Ilhabela (SP) com comandante paraense, Clauberto Andrade, teve problemas e não completou. O grande vencedor foi o Pangea, do Iate Clube de Santa Catarina, de Florianópolis (SC), do comandante Jorge Carneiro, finalizando após quase 53 horas no mar. O barco Zeus terminou em segundo e completou o pódio o barco Dona Bola.

     “Foi uma regata muito dura. Vento forte na cara o tempo inteiro, mas em nenhum momento nossa tripulação se afobou. Deu tudo certo. Nós sabíamos que estávamos no páreo e ao chegarmos no Rio de Janeiro, vendo que a possibilidade de ganhar era real, demos aquele gás final. Foi uma união bem interessante, com caras mais experientes e outros em sua primeira Santos - Rio. Todos são amigos desde infância e isso ajudou muito. Foi excelente”, comemora o comandante Jorge Carneiro

    A presença da flotilha do Iate Clube de Santa Catarina sempre foi muito marcante na Regata Santos - Rio. Por três vezes, embarcações do Veleiros da Ilha venceram a tradicional competição de vela oceânica, sendo a primeira delas em 1997, com o Gosto D´Água, do Comandante Ildefonso Witoslaswki Junior, atual Comodoro do ICSC, como campeão geral. Já em 1999 e 2000, comandando o Scirocco, o Comandante Inácio Vandressen, ex-Comodoro do ICSC, levou sua tripulação ao bicampeonato.

    Na BRA-RGS Clássicos, o Aventura, do Iate Clube Guaíba, do Rio Grande do Sul, barco mais antigo a participar da regata, construído em 1957, foi o vencedor deixando o  Aries III, do Iate Clube do Rio de Janeiro, no segundo lugar. Estes foram os dois únicos barcos dos oito da categoria a completarem. Eles serão contemplados com a premiação La Belle Classe oferecido pelo Iate Clube de Santos  em parceria com o Yacht Club de Monaco que realiza a regata mais antiga do mundo.

    Nos Mini Transat 6.50, o único a cruzar, também nesta terça, foi o Penguim/Orama, de Maurício Santa Cruz, pentacampeão mundial e com participações olímpicas. Maurício comandou o barco em dupla durante mais de três dias começando sua preparação para os Jogos Olímpicos de Paris 2024 que terá a categoria de Vela de Oceano em barcos deste tipo. Na categoria Bico de Proa nenhum dos nove barcos completaram.

    "Gostaria de agradecer aos participantes em especial aos barcos da BRA-RGS que colocaram cerca de 30 na raia contabilizando os Clássicos. Fomos brindados com uma regata duríssima, digna dos 70 anos desse desafio. Todas as mais difíceis condições imagináveis para uma Santos-Rio. Agradecer À Marinha do Brasil com a presença do Cisne-Branco na largada, ao apoio no percurso e aos barcos que se acidentaram, agradecer ao Iate Clube de Santos, Iate Clube do Rio de Janeiro e CBVela que mandou sua equipe de jovens talentos. Fica o convite para o 51º Circuito Rio que é o Brasileiro ORC e também ao Brasileiro IRC em Ilhabela no mês que vem", disse o comodoro da ABVO, Mario Martinez. 

    "Foi um grande sucesso a regata, muito dura, 40 desistências, mas independente disso muito sucesso pela Santos-Rio ter renascido após número muito baixo nos últimos anos e esses 68 barcos dá a esperança que ela possa ter maior atenção na vela brasileira", disse Ricardo Baggio, diretor de Vela do Iate Clube do Rio de Janeiro, que já colocava o Ventaneiro 3 como um dos favoritos diante das condições que se apresentavam.

    "Não foi surpresa o Ventaneiro 3 ter vencido. Imaginava ele ser um dos favoritos. Foi uma regata bem estratégica principalmente na região de Ilhabela no que os barcos fariam em passar por dentro do canal de ilhabela ou pelo oceano e o barco acertou. Além disso o barco é muito bom, venceu a Buenos Aires - Rio com condições semelhantes e tem uma tripulação muito experiente", seguiu.

    A premiação da 70ª edição da Regata Santos-Rio acontecerá no sábado, dia 31, a partir das 19h, sem a tradicional festa aos velejadores por conta da pandemia do COVID-19.

    Antes, a partir desta sexta-feira, dia 30, será dada a largada para o 51º Circuito Rio, na Baía de Guanabara, até o dia 2 de novembro, que vale como Campeonato Brasileiro da classe ORC.

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