Esportes
Lentidão da CBF ameaça novo 7 a 1 de proporções irreversíveis
O futebol movimenta bilhões de reais por ano. Cada vez mais, o poder de investimento define os clubes que brigarão na ponta de todos os campeonatos do mundo.
Na teoria, os clubes mais organizados e com maiores receitas saem na frente. Na prática, no entanto, a historia é um pouco diferente. Principalmente no Brasil.
Inexplicavelmente, a Confederação Brasileira de Futebol procrastina e adia o alinhamento de seu calendário com o futebol europeu - hoje, o centro do mundo da bola. Mesmo com a chance proporcionada pela pandemia, já que teve suas competições interrompidas em 2020, os cartolas tupiniquins mantiveram o rei na barriga e ignoraram a necessidade de adequação.
O resultado disso é a meritocracia reversa - que já acontece há muito tempo, mas ficará evidente e cristalina diante do calendário da nova temporada. Com Copa América e Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022 a serem disputadas, os clubes irão sangrar.
Em um rápido levantamento, percebe-se que, mesmo com as "Datas FIFA", onde o futebol mundial para a serviço das seleções, os clubes que possuem jogadores selecionáveis sofrerão com desfalques em pelo menos 19 rodadas do Brasileirão, além de algumas fases decisivas da Copa do Brasil.
Os títulos, além do valor lúdico e da razão que norteia o futebol, ganharam também uma importância financeira fundamental. O Flamengo, por exemplo, levou euforia máxima à sua torcida empilhando taças - mas também precisaram das premiações para manter a conta no azul.
Além do Rubro-Negro, Palmeiras e Atlético-MG são os clubes de maior investimento em solo nacional. São os que movimentam audiência, qualificam a disputa dentro de campo e agregam valor comercial aos torneios - que também precisam de patrocinadores para sobreviver.
Serão eles os mais escalpelados em 2021. Gabigol, Pedro, Gérson, Rodrigo Caio, Éverton Ribeiro, Arrascaeta, Isla, Weverton, Gabriel Menino, Gustavo Gómez, Viña, Danilo, Gabriel Verón, Kuscevic, Guilherme Arana, Junior Alonso, Alan Franco, Savarino...
E isso focando a lista em apenas três clubes. Perdem os campeonatos, perdem os espectadores, perdem os patrocinadores e, sobretudo, perdem os clubes que investem pesado para ter retorno esportivo e financeiro.
Estes clubes não podem ser ceifados pela incompetência e pelo amadorismo das entidades e confederações. Cartolas que nunca entenderiam a complexidade de se administrar um time de futebol não podem ter o poder de decisão de escolher onde os nossos craques atuarão.
Posteriormente, fingimos não entender o distanciamento entre nosso povo e a sagrada Amarelinha, há tantos anos tratada apenas como um produto, e não mais como nossa segunda pele. Como podemos amar quem nos desarma nas principais batalhas?
Muita coisa precisa mudar para entrarmos no rumo certo - e lamentavelmente preciso admitir que só nós, torcedores, nos importamos com isto. O problema é estrutural e organizacional, mas também é orgânico.
O 7 a 1, acreditem, foi só a pontinha de um monstruoso iceberg. Nosso navio está à deriva - e não demora muito para a colisão. Quando acontecer, o efeito será irreversível. E vai ter gente sorrindo.
A resenha está garantida com o jornalista Pedro Chilingue, que além dos bastidores do mundo esportivo, também traz o melhor dos torneiros regionais.
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