Com Centro de Treinamento destruído pelo estado, Canto do Rio mostra força de base

O Canto do Rio prepara sua volta ao futebol profissional do Rio de Janeiro após cerca de dois anos de ausência em meio aos desafios impostos pela pandemia e negligências envolvendo o poder público. No entanto, o tradicional clube niteroiense nunca perdeu a relevância em outras frentes.

Com forte trabalho nas categorias de base, o Cantusca seguiu tendo grande importância esportiva e social para os jovens da cidade. Ainda que fora do Campeonato Carioca desde 2018, foi entre as crianças e adolescentes que o clube reafirmou a necessidade de pleno funcionamento.

Desde que a nova gestão assumiu o clube, em 2015, a equipe de Niterói vem se destacando na formação de jovens atletas nas categorias de base. Cerca de 40 jovens já se transferiram para para clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro.

O clube cedeu uma promessa a três dos quatro clubes grandes do Rio de Janeiro:

• Murilo Cordeiro, atacante, Botafogo. Geração de 2006, oriundo de Ji-Paraná, em Rondônia.
• Rafael Lima, volante, Vasco. Geração de 2006, oriundo de Cabo Frio.
• Bernardo Veiga, atacante, Flamengo. Geração de 2007, oriundo da Vila Ipiranga.

Gustavo Machado, da geração 2006, é atacante e hoje está no Grêmio. Ele era morador do Jardim Catarina, em São Gonçalo. Já Erick Rebello, da geração de 2005, é volante e lateral-direito, atua pelo Coritiba. Ele residia no Morro do Palácio, no Ingá.

Por questão estratégica de localização, o clube acaba aproveitando os diversos talentos da nossa região recrutando os atletas mirins que acabam não conseguindo acesso às grandes equipes - devido à distância e seus complicadores, como estadia, transporte e o lado financeiro.

Além do mapeamento por Niterói, São Gonçalo e adjacências, o clube também possui importantes parcerias com projetos sociais para gerar inclusão através do esporte, tirando os jovens dos perigos e tentações da rua, os transformando em atletas com potencial.

Destruição do CT

Atualmente, o Canto do Rio enfrenta um grande problema para realizar este trabalho. O Centro de Treinamento Jair Marinho, localizado no Clube Esportivo Mauá, em São Gonçalo, acabou completamente destruído pela instalação de um hospital de campanha contra a Covid-19, desativado com menos de um mês de uso.

A curta passagem do hospital de campanha em São Gonçalo causou prejuízo estimado em R$ 500 mil ao Clube Mauá. Inaugurada apenas em julho devido ao atraso nas obras, a estrutura acabou desativada em agosto. A Prefeitura de São Gonçalo e o Governo do Estado ainda não se manifestaram sobre os prejuízos.

Com isso, o trabalho com cerca de 250 crianças vem sendo limitado aos campos anexos, que foram recuperados para evitar a interrupção total do projeto. A estrutura possuía um campo principal e três auxiliares, além de mais um de grama sintética; vestiários, salas de fisioterapia, almoxarifado e administração - tudo destruído pela implantação e posterior retirada do hospital.

Mesmo tendo participado da inauguração do Centro de Treinamento em outubro de 2019, o então prefeito José Luiz Nanci autorizou uma requisição administrativa e desapropriou a área e liberando o espaço para o hospital de campanha.

O CT do Cantusca é uma parceria com o Clube Esportivo Mauá. O acordo é pela cessão do espaço, localizado no bairro Estrela do Norte, por 10 anos, com pagamento de aluguel mensal.

O presidente do Mauá, Alberto Goldstein, lamentou a situação, mas afirma que existe diálogo para buscar uma solução.

"Cerca de 40% da arrecadação o clube vinha da exploração do espaço, não só com aluguel, mas estacionamento, consumação, entre outros. Não tivemos escolha na época do fechamento devido à situação de calamidade. Mas estamos em diálogo constante junto à Prefeitura de São Gonçalo, com reuniões semanais, para buscarmos uma solução"

A Prefeitura de São Gonçalo limitou-se a dizer que hospitais de campanha são de responsabilidade do Estado. Procurada para esclarecimentos, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro ainda não se posicionou sobre o caso.

Com as tratativas pela volta da equipe profissional, o Canto do Rio busca agora a resolução dos problemas junto às autoridades. Além disso, o clube tem como sonho a retomada da parceria com o Caio Martins para mandar seus jogos - atualmente cedido ao Botafogo, que pouco utiliza o espaço, até maio de 2023.