O drama de Mauricio Kubrusly: da fama na Globo à demência

O ano era 2000 e um jornalista, chamado Mauricio Kubrusly viajava aos quatro cantos do Brasil sozinho, apresentando o quadro ‘Me Leva, Brasil’, do programa Fantástico, exibido pela TV Globo. O jeito curioso e caricato do jornalista foi marcado na televisão brasileira, durante o tempo em que apresentava o quadro, no mesmo dia e horário, durante 16 anos ininterruptos.

Passados 24 anos, hoje com 79 anos, o jornalista vive em Serra Grande, a 43 quilômetros de Ilhéus, no litoral sul da Bahia, ao lado da esposa, a arquiteta Beatriz Goulart e do cachorro, Shiva. Kubrusly encerrou sua passagem pela TV Globo em 2019. Em dezembro deste ano, o jornalista será homenageado com um documentário sobre a sua trajetória, roteirizado e gravado por uma equipe de jornalismo da emissora que trabalhou. 

Apesar de ter percorrido o país contando histórias e trazendo personagens da sociedade às telinhas, atualmente o jornalista não consegue se lembrar e contar a própria história. Mauricio foi diagnosticado com demência frontotemporal, doença neurodegenerativa sem cura. Por este motivo, Kubrusly deixou São Paulo e mudou-se para uma região mais próxima à natureza.

Conforme amigos e familiares que convivem com o apresentador, o contato com um ambiente bucólico permitiu que Kubrusly apresentasse melhora em alguns sintomas da doença. Conhecida pela sigla DFT, a demência é a mesma que acometeu o ator Bruce Willis, em 2022. Entre os sintomas estão: alterações de personalidade, de comportamento, dificuldade de compreensão e produção da fala, além da perda de memória.

Seu novo estilo de vida inclui caminhadas matinais na Praia do Sargi, encontros e cantorias com os amigos e cortesias recebidas dos lugares frequentados.

Trajetória

Carioca de origem, Kubrusly nasceu em 1945. Na década de 70, ele fez história ao dirigir a primeira revista de música do Brasil, a Somtrês. No fim dos anos 1970, ele ingressou na TV Globo inicialmente como repórter do Jornal Hoje.

Mas foi na virada do século que Kubrusly tomou para si a atenção do público telespectador do Fantástico, em 2000, primeiro ano em que o quadro ‘’Me leva, Brasil’’, foi exibido pela TV Globo. No quadro, o apresentador propôs viajar o Brasil além do eixo Rio-São Paulo. No primeiro episódio ele levou um nordestino ao sul, e um sudestino ao nordeste.

No quadro, Kubrusly também contava histórias de personagens curiosos locais, como o Paulino, um padre católico que se tornou uma espécie de consultor sexual dos casais de Sena Madureira, e ficou conhecido como o Padre Ginecologista. E o mineiro Galinha Tonta, um morador de São Francisco, que, apesar de analfabeto, aprendeu de forma autônoma na infância, três idiomas: inglês, alemão e japonês.

O quadro emplacou no ar durante 16 anos. No fim de 2017, Kubrusly sofreu um infarto e precisou colocar dois stepes no coração. O contrato com a TV Globo terminou no mesmo ano, quando o jornalista começou a adoecer. A emissora, no entanto, indenizou o jornalista e continuou custeando seu plano de saúde.

Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí

O documentário sobre a vida e trajetória de Kubrusly chega ao streaming da Globo em dezembro deste ano, conforme o colunista Ancelmo Goes. Intitulado ‘’Kubrusly: mistério sempre há de pintar por aí’’, o longa foi dirigido por Evelyn Kuriki e Caio Cavechini, e será exibido antes na abertura da 11ª Mostra de Cinema de Gostoso, nesta sexta-feira (22), em São Miguel do Gostoso (RN).