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Fora do tom: músicos de Niterói cobram retorno e alegam abandono na cidade
'Nós iremos achar o tom, um acorde com lindo som e fazer com que fique bom, outra vez, o nosso cantar'
Os versos da música 'O show tem que continuar', imortalizado pelo grupo Fundo de Quintal nunca fizeram tanto sentido durante a pandemia para músicos de Niterói.
Com a pandemia, shows e apresentações ao vivo foram proibidos, dando início a uma batalha para fazer com que a prefeitura retome as atividades dentro de um cenário mais 'favorável'. Com as restrições ainda permanentes no município, trabalhadores do setor precisam recorrer a cidades vizinhas para soltar novamente a voz ou agitar o público.
Foi assim para o cantor de Niterói Flávio Farias. Com mais de 20 anos de estrada e 45 de vida, o músico explica que agora faz de um a dois shows por semana, apresentações que já foram 16 por mês em tempos normais.
"Os músicos da cidade estão parados e sem auxílio. A Prefeitura de Niterói não deu um respaldo e não tem previsão para que as atividades sejam novamente retomadas. Somos trabalhadores, pais de família e vivo disso. Enquanto outros municípios estão reabrindo o setor, com diversas restrições mais flexíveis, em Niterói não há sinal de retomada"
Segundo o cantor, a logística para ir se apresentar em outras cidades não compensa, mas que na falta de alternativa, não há escolha. "É difícil você se deslocar para outra cidade por conta da logística do transporte, por ser longe. Mas, não posso reclamar, estou trabalhando", salienta.
A situação de Flávio é vivida por outros artistas da cidade. Vocalista da banda 'Tribos', além de apresentações solo e projetos ligados à música, André Joaca, de 45 anos, segue o discurso do amigo e reclama da proibição de apresentações em Niterói. Com mais de 20 de carreira, o músico explica que outros serviços já foram retomados, mas que artistas ficaram de fora.
"As apresentações estão esporádicas e, ultimamente, não estou me apresentando. Tenho vários projetos parados, contas atrasadas, estou em casa estudando, mas sou músico de profissão. O que a gente não entende é que no Dia dos Namorados, bares e restaurantes da cidade estavam cheios, por que que nós, músicos, não podemos tocar? Dizer que gera aglomeração é mentira",
Transparência
Já para o compositor, cantor, tecladista, e produtor musical, Fred Bertoli, há 30 anos no ofício, a falta de transparência é fator primordial quando a discussão envolve trabalhadores do setor musical da cidade. Fred conta que houve algumas reuniões com representantes, que na visão dele, foram animadoras, mas que não obteve um resultado esperado. O músico explica ainda que não sabe quanto tempo a classe pode aguentar.
"A ideia é não tornar esse discurso político, não é o objetivo. Não sou só eu que estou passando por momentos difíceis, mas toda a classe de músicos na cidade. Tivemos algumas conversas animadoras, mas que no final vimos atitudes um tanto surpreendentes, muitos amigos estão recorrendo a aulas online, se virando como podem. Por quanto tempo nós vamos conseguir aguentar parados?"
A Prefeitura de Niterói, através da Secretaria Municipal das Culturas (SMC) e a Fundação de Arte de Niterói (FAN), justifica que mais de R$ 20 milhões foram investidos, direta e indiretamente na Cultura da cidade.
A administração cita ainda o edital da 'Retomada Cultural', que destina R$ 1 milhão para o desenvolvimento de ações no setor, com expectativa de gerar mais de 300 postos de trabalho. Os projetos Empresa Cidadã, Busca Ativa e Renda Básica Temporária contemplaram mais de 3.600 trabalhadores da Cultura, bem como um auxílio específico para os 483 artesãos da cidade.
A pasta conclui que desde o início da pandemia vem buscando alternativas para apoiar artistas da cidade. A abertura parcial dos equipamentos culturais segue os protocolos sanitários e tem como objetivo a preparação para a retomada do setor cultural. A suspensão de algumas atividades culturais segue os protocolos sanitários para combater a propagação da Covid-19, baseados em experiências internacionais e em especialistas.
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