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O limite entre ajudar e atrapalhar
VAR (Vídeo Assistant Referee), esse é o significado da sigla mais comentada das últimas semanas. É incrível, decidiram pôr em ação o árbitro de vídeo e, imediatamente, já teve vários lances capitais e confusões, muitas confusões. Aquilo que vinha para ajudar, não ajudou. Aquilo que vinha facilitar, não facilitou. Mas o questionamento é bom: afinal, o VAR é ruim, prejudicial ou apenas não está sendo bem empregado? É o que vamos responder agora dando alguns argumentos para que você possa chegar a uma conclusão (se é que isso é possível).
VAR na Copa da Rússia em 2018
Digamos que “o momento em que o VAR veio ao mundo” foi na Copa de 2018 na Rússia. Foi lá que ele se tornou conhecido por milhares de pessoas. Você se lembra qual foi o primeiro lance na história a ser revisado? Eu te ajudo. Foi no jogo da França quando Griezmann entrou na área e caiu. E aí? Foi o que? Andrés Cunha, árbitro de campo, na oportunidade, mandou seguir, mas foi chamado por alguém que estava revisando o lance e que o levou até à linha lateral. Após ver que houve o toque do australiano, ele voltou atrás e determinou a penalidade para aquela que viria a ser a Campeã da Copa.
A ideia deste tipo de arbitragem é diminuir o risco de erros apresentados no futebol internacional e nacional. Jogadas como as citadas embaixo poderiam ter sido resolvidas corretamente. Lembre:
- Aquela falta cobrada por Douglas pelo Vasco em 2014, no Carioca, contra o Flamengo, onde a bola entrou 33cm e o auxiliar nada deu;
- O chute de Frank Lampard na Copa de 2010 onde a bola entrou quase 1m e também não foi dado o gol;
- Aquele gol do Flamengo feio por Márcio Araújo ainda em 2014, contra o Vasco, ainda no Carioca, onde o zagueiro Wallace cabeceou e no rebote o volante marcou o gol impedido
- O gol de Kayke pelo Santos em 2017, contra o RedBull Brasil, que teve matada no braço e a bola sem cruzar a linha toda. Na ocasião, a arbitragem validou o gol.
Enfim, muitas polêmicas poderiam ter sido evitadas. Sendo assim, partiremos do princípio que a iniciativa é boa. Há quem diga que o futebol perderá a graça, mas acho que a graça já foi perdida quando os clubes citados acima e outros também não citados, tiveram seus planejamentos idos por água abaixo por erros glamorosos de uma arbitragem confusa. O que entra em questão é o uso correto e o protocolo a ser seguido. Veja no próximo tópico.
Em quais lances o VAR pode interferir?
1) Anular um gol ilegal, feito com a mão ou por um jogador impedido (ou validar um gol legal);
2) Marcar um pênalti claro e que tenha passado despercebido (ou corrigir uma simulação);
3) Expulsar um jogador que tenha cometido falta passível de cartão vermelho direto (e que tenha passado despercebida pelo árbitro);
4) Em caso de confusão de identidade - ou seja, se o juiz mostrar cartão, amarelo ou vermelho, ao jogador errado.
O objetivo não é que o rapaz que apita o jogo no campo fique dependente daquele que está vendo o jogo por vários monitores. Ainda que seja essa o problema atual. O objetivo é que a cabine onde os outros árbitros estão seja uma espécie de olho. Me refiro dessa maneira porque a intenção é ver lances que alguém dentro das quatro linhas não veria. Um soco no meio de uma confusão, quem é que fez o que dentro da área. A interpretação continua sendo um problema no futebol. Sendo assim, em lances duvidosos até para os que estão nos muitos televisores, não deve ser analisado pela Comissão que compõe o Árbitro de Vídeo naquele jogo.
O que foi feito de errado para dar tanta polêmica?
Partiremos da jogada do jogo entre Palmeiras e São Paulo no último sábado (30) que está descrita na foto. Dudu entrou na área, Reinaldo colocou o braço e o alviverde caiu. O juiz marcou, mas foi chamado para rever o lance. Após isso, mudou de ideia e desmarcou a penalidade. Espera! Existe um detalhe primordial nessa situação. Houve o toque do lateral são-paulino com o braço na altura do pescoço do palmeirense. Mas julgar se o toque foi forte o suficiente para fazer alguém cair e, assim, dar o pênalti não é tarefa do VAR. A tarefa dele é dizer que houve um toque, e acabou. Decidir se o toque é para marcar alguma infração ou não, é competência do árbitro de campo.
Me pergunto também se os jogadores são conhecedores da regra. Digo, por que Léo Duarte (zagueiro do Flamengo) colocou a bola para fora e saiu gritando para alguém usar o vídeo assistente? Ele não sabe que a jogada é revisada independente se a bola está dentro ou fora? Será que os jogadores são desconhecedores da regra?
Por falar nos atletas, queria lembrar que a educação dos atletas precisa melhorar. Qualquer lance é “bololô” na comissão de arbitragem, é empurra-empurra… É ridículo esse desrespeito. Daqui a pouco teremos gente invadindo a cabine onde ficar o VAR? Por favor, né?! Não adianta cobrar de um lado quando o outro não colabora.
O que foi feito de certo?
Por incrível que pareça, o jogo entre Fluminense e Flamengo, válido pela semifinal da Taça Rio, realizada na última quarta-feira (27), teve o protocolo seguido corretamente. Pelo menos nos lances de polêmica.
Na jogada em que Léo Santos fez o gol logo com 2’ de jogo, o Árbitro de Vídeo entrou em ação para dizer que pode ter havido uma falta não marcada ou um impedimento (assinalado pelo bandeirinha depois). Quando Marcelo de Lima Henrique, juiz da partida, foi ver, percebeu que teve um toque e deu a falta, anulando o gol. Se foi falta ou não, é outra história, mas seguiu corretamente a “cartilha”.
Na jogada em que originou o pênalti em cima de Everaldo, ainda nesse jogo, também foi seguido o protocolo. Houve um choque entre o atacante tricolor e o zagueiro rubro-negro. Marcelo mandou seguir e, depois, foi chamado para ver o lance. Viu, percebeu o toque e deu o pênalti. Se foi falta ou não, de novo é outra história. Mas tudo foi feito certo.
Conclusão
Reitero minha opinião de ser a favor desta prática. É algo novo, recém implantado e que merece um pouco de cuidado nessa fase inicial. Acima disso, ainda há erros que precisam ser acertados. Como, por exemplo, o tempo para decisão. No Fla x Flu, o jogo ficou parado 5 min, aproximadamente. Durante o Mundial de 2018, a média entre ouvir, ir no monitor e decidir, não passava de 1’. Eu disse um minuto. Essa média também acompanha campeonatos europeus que o possuem.
Antes de qualquer tecnologia a ser implantada, a arbitragem brasileira precisa melhorar. Não adianta ter esse tipo de recurso sendo controlado pelos mesmos árbitros que erram feio em campo. Já imaginou árbitro suspenso após “erro” com os monitores? Precisa haver uma profissionalização da arbitragem brasileira, essa profissão precisa ser levada a sério pela CBF. Hoje, o que temos, são juízes de campo reféns de um vídeo. Ao invés de evitar erros, o VAR tem apitado jogos; porque o que mais vemos é aquela clássica mão no ouvido. A sensação que dá é que precisa ouvir: “foi falta”, “segue”, “pênalti”… Não é assim. A ideia é complementar, não mandar.
Esperamos que isso melhore, que as coisas evoluam, afinal, o Brasileirão terá em TODAS PARTIDAS este recurso. Mas o limite entre ajudar e atrapalhar é fazer com que esse recurso seja um complemento, uma ajuda para coisas (quase) imperceptíveis no futebol. E não uma bengala para os árbitros de campo.
Por Filipe Vianna – Blog Segue o Jogo
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