Jonny Salles
A era das adaptações
Na sexta-feira passada, dia 10 de julho, chegou à Netflix o filme The Old Guard, a nova produção conta a história de um grupo de mercenários imortais que luta pelos seus ideais através dos séculos, enfrentando os mais diversos inimigos. O longa-metragem protagonizado por Charlize Theron adapta os quadrinhos de mesmo nome que teve seu lançamento em fevereiro de 2017 e continua em circulação. Sendo assim, mais uma produção adaptada de outra mídia, algo constante na nossa era atual.
Não dá pra negar que estamos vivendo na era das adaptações, olhe para o catálogo da Netflix: Warrior Nun, adaptação de quadrinhos; Expresso do Amanhã, mais uma HQ adaptada; a próxima temporada de The Umbrella Academy, também é uma história em quadrinhos. No cinema temos o mesmo quadro: Viúva Negra, Mulher Maravilha 1984, Mulan e Monster Hunter são apenas alguns dos filmes, que deveriam estrear esse ano, e que são adaptações de livros ou HQs.
Mas afinal, por onde andam as histórias originais? Bem, em defesa dos filmes e séries, tenho que dizer que elas ainda estão por aí, em sua minoria, mas estão. Além do fato de que não é totalmente inovador a adaptação de um livro para outra mídia. Drácula, lançado em 1931 adapta o livro de 1897, O Poderoso Chefão, famoso filme de 1972, reconta a história publicada originalmente em 1969. O que as produtoras estão fazendo nos dias atuais é apenas repetir o comportamento de anos, porém com maior intensidade.
Afinal, não podemos nos esquecer que o cinema, por mais que tenha o objetivo idealizado de contar histórias e compartilhar narrativas, é uma ferramenta para obter lucro, gerar renda, então é bem mais seguro (na maioria das vezes) pegar uma história que já foi contada, já possui seu público cativo e transportá-la para uma nova mídia, levando todos aqueles que já a conhecem para o cinema, do que contar com uma história inédita e ter a chance de fracassar por sequer ter uma premissa interessante, ou você acha que Crepúsculo teria arrastado centenas de pessoas para o cinema se apresentasse um vampiro que brilha sem nenhum contexto literário antes?!
Não quero dizer que as histórias originais estão morrendo, talvez o texto de hoje seja apenas a explicitação de uma dualidade interna, a felicidade de ver os livros e HQs preferidas ganhando as telas e assim sendo mais popularizadas, afinal os filmes da Marvel ajudaram bastante a empresa a se recuperar da crise que fez a mesma vender o direito de diversos personagens, mas também o anseio por histórias novas, que não venham já com a etiqueta de “no livro era melhor”, “na HQ era diferente”, algo que nos surpreenda por ser novo e inesperado e não apenas por adaptar algo popular.
Jonny Salles é professor formado em Letras (Português - Literaturas) pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e aficionado por mundo nerd que acompanha, debate e vivencia, seja numa roda de amigos ou pelo seu canal Geek Barba.
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